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23 outubro 2007

Por trás dos links, as pessoas

Há dois séculos, a ciência descobriu e passou a analisar as redes. Há vinte anos, elas estão revolucionando o jeito de a sociedade se relacionar consigo mesma
Dalton Martins, Hernani Dimantas para o Le Monde Diplô

O matemático suíço Leonhard Euler foi, em 1780, o precursor do pensamento analítico sobre redes. Suas primeiras idéias diziam que eram compostas por nós e links — elos que ligam os nós. Os links são aleatoriamente espalhados entre os nós, formando redes de distribuição aleatória. A teoria de Euler aponta para o caos, ao sustentar que não existem nós centrais e que toda a rede é desprovida de hierarquia.

A palavra rede tem assumido novas conotações, e novas estruturas de comunicação surgiram, potencializando as possibilidades de conversação e circulação da informação. As estruturas matemáticas criadas por Euler para análise das redes passaram a ganhar maior relevância, mas muitas de suas previsões se mostraram sem sentido quando começamos a olhar para as redes sociais, a forma como os seres humanos se organizam — e para como se articulam nossas ações em rede.

Se Euler estivesse correto, os quase 6 bilhões de seres humanos (nós) no planeta deveriam ter aproximadamente o mesmo número de amigos (links). No entanto, nos anos 60, Stanley Milgram, um pesquisador da Universidade de Harvard, realizou um experimento que ficou conhecido como o "os 6 graus de separação".

A compreensão popular do experimento de Milgram aponta que estamos a apenas 6 graus de qualquer pessoa no mundo. Exemplo: será que conheço alguém, que conhece outro alguém, que conhece alguém que te conhece? Estar no máximo a 6 níveis de separação de qualquer outra pessoa significa que o mundo é pequeno pra caramba.
O foco nas experiências sociais

Entretanto, os resultados que Milgram obteve de seus experimentos foram mais radicais. Bem diferentes. Ele descobriu situações como as seguintes:
> Três níveis de separação: algumas pessoas possuem links privilegiados, logo conseguem conectar-se com outras por três níveis de separação;

> Cem níveis de separação: outras pessoas precisam de em torno de cem links para chegarem a outras pessoas. É sinal de que são grupos de pessoas bem mal conectados, mal posicionados na estrutura das redes sociais;

> Sem links: muitas pessoas possuem poucos ou nenhum link, restando como verdadeiras ilhas isoladas dentro da sociedade.

Surge, do experimento de Milgram, uma nova forma de enxergar as redes. O foco está nas experiências sociais. Os nós não seriam conectados aleatoriamente uns aos outros. Alguns deles aglutinam posições estratégicas, como elos. Ou seja, pessoas assumem papéis de protagonismo social a partir de suas possibilidades de conexão com outras pessoas.

Para validar tal premissa, um sociológo norte-americano, Mark Granovetter, realizou um outro experimento no final dos anos 60. Tinha por objetivo pesquisar a forma como as pessoas procuravam emprego. Granovetter identificou que a sociedade era formada por grupos de pessoas, ou clusters. Ele percebeu que as pessoas que possuíam conexões ou relações distantes com outras fora círculo familiar tinham duas vezes mais chances de conseguir uma vaga do que pessoas que tinham mais conexões próximas apenas no âmbito da família e dos amigos próximos. A análise de Granovetter era de que grupos próximos mais fortemente conectados possuíam interesses similares, logo com menos possibilidades de inserção.

Um novo padrão de relações entre as pessoas
Essas descobertas geraram uma revolução no pensamento da sociologia da época. Novas propostas de como potencializar as conexões entre as redes sociais começaram a surgir. Pensando estrategicamente, o número de conexões era fundamental para ampliar a circulação da informação, seja de idéias, de vagas de emprego ou de experiências compartilhadas.
Coincidentemente ou não, estamos falando da mesma época do surgimento da Internet, as primeiras conexões entre computadores, permitindo que mensagens bastante simples fossem trocadas e que pessoas pudessem estabelecer novos links de conexão entre si.

A tecnologia que vinha sendo desenvolvida parecia permitir uma ampliação nesse potencial de conexão entre as pessoas, criando novas possibilidades de ampliação da capilaridade das redes sociais. Novas formas de conexão, de estabelecimento de links, novas formas de desenharmos nossas próprias redes e os grupos de pessoas organizados em torno da tecnologia. Surgia a dinâmica do virtual, do email, das listas de discussões e das possibilidades de nos linkarmos usando as tecnologias da rede.

De lá para cá, muitas idéias foram implementadas, muitas tecnologias foram desenvolvidas. Surgiram Yahoo, Google, Orkut, MySpace, Facebook, Ning, Blogger, Youtube e tantas outras possibilidades de conversação em rede. Das muitas promessas de ampliação da conexão e do "todos conversando com todos", que as tecnologias da informação trouxeram, ainda observamos os mesmos padrões de comportamento das redes: clusters extremamente influentes nas articulações em rede e grupos isolados, com pouca ou nenhuma conectividade.

Novas tecnologias e novos desafios pela frente. O cenário está montado. Emerge um espaço para construção de um diálogo contínuo por várias lentes e percepções das dinâmicas de conversação, de desenvolvimento e ação que as novas tecnologias permitem a partir da construção de novas formas de redes sociais.

A Revolução das segundas-feiras

ECONOMIA ALTERNATIVA
Acaba de realizar-se no Uruguai a VI Feira Nacional da Economia Solidária. Evento irrelevante e experiências micro? Respondo: micro-revolucionário, mas mega-transformador. Gosto dos heróis invisíveis
Carola Reintjes para Le Monde Diplô

A globalização econômica é a globalização dos cristais quebrados. A Economia Alternativa e Solidária funde estes milhões de pedacinhos partidos, milhões de pedacinhos micro. Fundidos a temperatura rebelde, transformam-se em espelho cristalino, um espelho do que é a economia neoliberal, e do que pode ser uma economia inovadora.

No Uruguai, não houve a revolução. Não se apresentou uma tese de doutoramento sobre macro-economia. Não houve nada transcedental, nem inédito. Mesmo assim, tudo o que se apresentou é profundamente inovador e revolucionário. Micro-revolucionário, mas mega-transformador.
Há quem prefira as grandes revoluções. Sabem o que digo? Já me cansei das mega-revoluções e dos super heróis. Prefiro os heróis invisíveis, ao mesmo tempo tão visíveis, milhões de camponesas e artesãos. Empreendedores comprometidos.

Aquelas formiguinhas que fazem sua revolução às segundas-feiras de manhã. Todos os dias. Todos os anos. Uma eternidade. E o fazem sem dar grande importância. Sem discursos eloqüentes nem campanha publicitária. Mas fazem. Transformam, dia após dia, o ambiente econômico e social. Repensam e reconstróem conceitos. Transformam pensamentos e realidades sócio-econômicas. Seus empreendimentos auto-administrados, que contestam a economia neoliberal, são exemplo vivo de que "outra economia é possível".

Tão necessária. Nos rendemos, nos declaramos vencidos diante dos vencedores, os novos senhores do mundo. Entregamos o terreno da economia para seu jogo de roleta-russa. Jogo sem piedade, que arrasa com a lógica esmagadora do aumento incessante de lucros.

No pensamento neoliberal, sob o dogma do livre mercado, tanto o conceito de riqueza como os indicadores para medi-la parecem reduzir-se ao valor produtivo e mercantil. Não pesam o impacto social, cultural e ambiental da atividade econômica. Endeusam uma escala de valores que atiça a competição entre os atores sociais e econômicos, e coloca o paradigma social e do meio ambiente a serviço da produção econômica e de parâmetros utilitaristas e mercantilistas.
Economia rebelde. Mudança radical das pautas de pensamento, organização pessoal e consumo
A Economia Alternativa e Solidária é rebelde. Tem potencial subversivo de empoderamento das comunidades e transformação social. Está ao alcance de nosso quotidiano, mas tem enorme potencial. Não é apenas a reorganização mais justa da atividade econômica, mas mudança radical das pautas de pensamento, organização pessoal e consumo. Vê os seres humanos como sujeitos e atores principais da transformação social, econômica, de política e cultura. Coloca-os no centro da economia, como protagonistas e beneficiários. Sua origem e fim é o cidadão responsável, que quer manter controle sobre como se produz, troca, consume, investe ou economiza.

Também pretende enfrentar o desafio de criar um equilíbrio entre a atividade econômica e social e sua dimensão ambiental. Assume a dualidade dos valores — meio-ambiente e interesses sociais ou individuais — como algo que contribui para a dimensão integral da produção de riquezas. Natureza e pessoa não são recursos, mas valores supremos com direitos. A diversidade das pessoas tem uma importância especial em sua dimensão cultural, de raça, religião ou gênero. Exige respeito ao à diversidade — que se transforma em valor (e não obstáculo) à vontade de integrar o planeta.

Tudo isso obriga a repensar conceitos como riqueza e bem-estar social. Que projeto permitem assegurá-los para todos? Haverá vencedores e vencidos? Como assegurar poder equilibrado entre quem produz e quem consome? Por que caminhos construir o poder cidadão? Ou iríamos nos reduzir a votar uma vez a cada tantos anos, se podemos decicir diariamente, por meio de nossas ações e atitudes?

Como dizem os organizadores da VI Feira de Economia Solidária, em Montevidéu: "ela é muito mais do que se vê". Boa sorte! E a Feira Permanente da Economia Alternativa e Solidária nem bem começou, por todo o mundo. E vivam as formiguinhas da revolução das segundas-feiras.
Tradução: Gabriela Leite Martins gabrielaleite89@gmail.com
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Carola Reintjes é colunista do Caderno Brasil de Le Monde Diplomatique. Edições anteriores da coluna:

04 setembro 2007

Você 3.0

Bem-vindo à nova era da globalização: primeiro empresas. Agora é a sua vez.

texto de Simon Kuper para Superinteressante coordenação Adriano Sambugaro, Carlo Giovani e Sérgio Gwercman

Eu sou inglês, ou pelo menos é isso que diz meu passaporte. Outro dia, sentei na minha casa em Paris para escrever uma reportagem encomendada por um jornal argentino que eu havia apurado em Miami. Dei os últimos retoques no texto dentro de um trem que atravessava a Bélgica. Ao chegar à estação central de Amsterdã, meu destino final, conectei o notebook à rede de internet sem fio e, sentado num cantinho, ao lado da minha esposa americana, enviei o artigo por e-mail para Buenos Aires. Me senti o perfeito trabalhador globalizado. Como diria o colunista do The New York Times Thomas Friedman em seu livro O Mundo É Plano, eu era uma minimultinacional trabalhando no meu escritório virtual global.

O Mundo está entre as obras mais importantes para entender esse novo fenômeno. O livro explica por que pessoas como eu são o seu futuro. Já está claro que, na sua e na minha carreira, a maior parte do dinheiro virá dos trabalhos globais. Agora só nos resta desvendar um detalhe - nada irrelevante, aliás: quem terá a chance de se tornar global e quem será atropelado pelo processo, sendo deixado para trás na corrida da globalização.

Nova globalização

Mas como foi que chegamos a este estágio? Afinal, globalização (essa palavra horrível) costuma ser usada para se referir a empresas ou produtos. Pois Friedman decretou que essa globalização caducou. A coisa funciona assim: em 1492, Colombo pegou seu barco e mostrou que o mundo ia bem além da Europa. Começava a globalização 1.0,com as nações percebendo que poderiam fazer negócios no mundo todo. O marco seguinte veio por volta de 1800, com a Revolução Industrial, que forçou as empresas a se multinacionalizar em busca de novos mercados para vender seus produtos - e mão-de-obra barata para fabricá-los.

Era a globalização 2.0. A era que estamos vivendo, a globalização 3.0, "é sobre indivíduos se globalizando". As raízes desse fenômeno estão fincadas em uma variedade de tecnologias que, por volta do ano 2000, começaram a ficar disponíveis ao grande público (o preço ficou acessível, para ser mais claro). Vamos a elas: conexões à internet estão cada vez mais velozes. Os computadores, baratos. Softwares sofisticadíssimos ficaram tão simples que podem ser usados por semi-analfabetos tecnológicos. E o Google mostrou-se capaz de colocar pessoas sentadas na sala de casa em contato com boa parte da informação mundial. Por fim o número de usuários da internet teve um crescimento exponencial.

O resultado disso tudo é que quando se afirma que o mundo é plano não estamos falando na possibilidade de ficar de papo com qualquer pessoa no planeta através do computador de casa. É muito mais do que isso. Mundo plano quer dizer que após a queda do Muro de Berlim, a abertura dos mercados da Índia e da China e a redução dos impostos alfandegários, podemos muito mais do que conversar com todos: agora podemos nos conectar a qualquer habitante do planeta (desde que ele não viva nas ditaduras da Coréia do Norte ou de Mianmar, é claro).

Uma breve história global

Os imigrantes que deixaram Nápoles rumo a São Paulo na virada do século 20 estavam trocando um planeta por outro. Havia muito pouco em comum entre esses dois lugares. A comida era diferente, a música era outra e os hábitos sociais não se pareciam em quase nada. Hoje, com o ciberespaço, eles poderiam ter conseguido um emprego em outro país sem ter de abandonar a macarronada.

Gerentes industriais e editores de revista contratam profissionais como eu, que eles nunca viram pela frente, e que trabalham sentados numa cadeira do outro lado do mundo. A Índia é hoje um dos principais pólos desse tipo de serviço. Friedman encontrou lá contadores cuidando, via internet, do Imposto de Renda de clientes americanos. Viu nerds programando jogos de computador para desenvolvedores na Califórnia. Atendentes de call center em Nova Délhi recebendo telefonemas feitos para o serviço de atendimento de empresas americanas. Achou raios X tirados na madrugada dos EUA sendo examinados em tempo real por médicos na Austrália, onde já era dia. Ao ler O Mundo, até eu pensei em importar da Índia umas pesquisas jornalísticas!

Terrorismo: outro fenômeno globalizado

Nem sempre, porém, a nova realidade é uma maravilha. Talvez o melhor exemplo da nova logística global seja a rede terrorista Al Qaeda. Os ataques de 11/9 foram detonados nos EUA por um time de sauditas comandados por um egípcio educado na Alemanha e guiado por um chefe na zona rural do Afeganistão. As teorias conspiratórias que incluem os governos israelenses e americanos na trama costumam se esquecer o quão fácil se tornou para uma pessoa comum realizar um trabalho global altamente sofisticado - Mohammed Atta, chefe dos seqüestradores, comprou sua passagem no AA.com, site da American Airlines. Simples assim. Ou então pegue a rede global de jornalistas e designers que criou esta reportagem. A idéia original - exemplificar na realização da matéria o fenômeno de que estamos tratando - partiu da redação da revista, em São Paulo.

Por e-mail, fui convidado a escrevê-la aqui de Paris. Enquanto isso, o diretor de arte da Super fuçava sites especializados em busca de ilustradores. Os colaboradores escolhidos eram gente de que ele nunca ouvira falar, espalhados pelo Brasil, Canadá, Espanha e Rússia. Tudo parece muito elaborado, mas na prática o processo inteiro custou a mesma coisa e foi praticamente idêntico ao de qualquer outra reportagem da Super - a única diferença foi que precisamos nos comunicar por Skype ou Messenger em vez de fazer uma reunião ao vivo.

Como participar?

Agora vem a má notícia. A globalização não é uma festa para a qual todos estão convidados - esse é o drama de toda boa festa, aliás. Mesmo que a hostess da porta seja bonitinha, ela decide quem entra e quem não entra com a mesma crueldade de um leão-de-chácara. O que fazer para conseguir um convite?

Aí vai o caminho das pedras. Para ser um trabalhador global, você precisa de duas ferramentas: um computador com internet e domar o inglês. Quando combinados, esses dois requisitos excluem mais de 90% da população do planeta. É um equívoco, portanto, acreditar que não há barreiras para a globalização 3.0. A maioria não tem essas ferramentas básicas.

Veja o caso do Brasil: numa população de 189 milhões de pessoas, cerca de 30 milhões têm acesso à internet. Globalmente estima-se em 694 milhões os maiores de 15 anos que acessam a rede - apenas 14% de toda a população mundial nessa faixa etária. Não pense, porém, que o fato de você fazer parte desses 14% de privilegiados lhe garante uma vaga no mercado de trabalho global. Você precisará se virar na hora de falar inglês, porque colaboradores têm de se comunicar e o inglês é a língua escolhida para essa tarefa.

Do you speak english?

Quando um chinês conversa com um francês, ainda que de forma rudimentar, eles usam o inglês. Inglês é, também, a língua que eu usei para me comunicar com a Super. Se meu texto tivesse de ser traduzido do alemão ou do cantonês, isso significaria um acréscimo de tempo e de custo. Da mesma maneira, O Mundo É Plano teria muito menos chance de atrair a atenção de uma editora brasileira se tivesse sido escrito originalmente em sueco.

Como no acesso à internet, a exigência de usar o inglês elimina da concorrência parcelas enormes do planeta. A revista The Economist apresentou (em inglês, é claro) os seguintes números sobre essa questão: apenas cerca de 25% da população mundial ao menos arranha o inglês.

Muitos outros estão tentando tirar o atraso. Tenho um amigo que viajou para a China para ensinar inglês. Ele dava aulas matinais em parques públicos que atraíam milhares de pessoas dispostas a pagar por elas. Paris há um século era a capital da língua global da elite, o francês. Hoje, as crianças parisienses começam a aprender inglês no jardim-de-infância. David Graddol, do Conselho Britânico, o braço cultural global do governo britânico, afirma que "em uma década, cerca de um terço da população mundial estará tentando aprender a falar inglês".

Por hora, quem não sabe falar inglês está fora do jogo - uma péssima notícia para o Brasil. Em minhas visitas ao país, nos anos 90, encontrei um país monolíngüe. Falar inglês não me levava a lugar nenhum.É claro que também o Brasil está se globalizando. Mas até a localização do país atrapalha a jornada dos que tentam se tornar trabalhadores globais. Para quem tem essa idéia na cabeça, o melhor lugar para estar não é Bangalore, capital tecnológica da Índia, que Friedman tanto admira.

Nem a multinacional, multicultural e multidinâmica Toronto, no Canadá, escolhida por Pico Iyer em seu excelente livro The Global Soul ("A Alma Global", sem versão em português). Sem dúvida, não há lugar mais apropriado que um pequeno triângulo num continente freqüentemente acusado de estar se tornando asilo de luxo para sua população envelhecida: a região noroeste da Europa, centrada em Londres, Paris e Bruxelas. Essa área é um laboratório de observação do futuro do trabalho globalizado.

29 agosto 2007

Trabalho de estudante brasileira será apresentado em conferência promovida pela ONU

O trabalho "Células de Transformação" de Aline Roldan, 18 anos, uma das brasileiras que ganhou o Prêmio do Milênio Mundial (veja o texto abaixo), será apresentado em conferência da ONU. Aline será uma das palestrantes da 60ª Conferência da DPI/NGO, uma rede de ONGs do Departamento de Informação Pública da Organização das Nações Unidas. Esse ano a Conferência terá como tema "Superando as mudanças climáticas: ações estratégicas globais e locais" e será realizada de 5 a 7 de setembro em Nova Iorque.

O Prêmio do Milênio Mundial, vencido por Aline na categoria Desenvolvimento Sustentável, reuniu estudantes secundaristas de vários países, que apresentaram projetos sobre quinze desafios propostos pelo Projeto Millenium, uma rede de futuristas e pesquisadores de diversas áreas do conhecimento, representado no Brasil pelo Núcleo de Estudos do Futuro da PUC-SP.

A outra brasileira premiada no concurso foi Maria do Rosário Gomes da Silva, na categoria Tomada de Decisões. Maria do Rosário venceu também, recentemente, o concurso "Uma Utopia para o Século 21",organizado pela Universidade do Porto, em Portugal, com a redação "Do outro lado do muro" (leia abaixo).

A participação de Aline ainda não foi confirmada por falta de recursos para pagar as despesas de viagem, dela e de um acompanhante. Mercado Ético convoca empresários e parceiros para ajudarem Aline a ajudar o mundo. Contatos pelo email mercadoetico@mercadoetico.com.br.
Células de Transformação

Desenvolvimento sustentável é o novo paradigma que torna possível a realização plena de toda a humanidade ao fornecer o básico para a realização da humanidade em cada um. Diante da conjuntura atual e das tendências para o futuro, é necessário que a sustentabilidade esteja presente nos mais variados contextos, acessível e possível a todos. Sob esse prisma um novo modelo de desenvolvimento deve perpetrar a sociedade ao apresentar e concretizar as soluções de problemas para os quais nosso atual modelo de desenvolvimento não tem respostas. Seriam pequenas sementes que plantadas nas falhas do asfalto originariam árvores. Seriam células de transformação.

Células

Células seriam "núcleos de desenvolvimento local e sustentabilidade", que aliariam as soluções nas esferas econômica, social e ambiental, não segmentando-as, e sim contemplando a ligação direta que possuem, pois os problemas de natureza ambiental são também de natureza social, econômica e política. Negligenciar um desses âmbitos inevitavelmente gera conseqüências danosas aos outros, ao passo que considerar a sustentabilidade em sua amplitude, apresenta como uma resposta efetiva aos mais variados problemas pelos quais o mundo atravessa.

Ao refletir sobre os vários significados da palavra célula, amplia-se o entendimento, e porque não a beleza, do que seriam as Células de Transformação:

• célula como "estrutura musical mínima, a partir da qual se faz uma composição", Célula como uma semente, um exemplo de sustentabilidade em pequena escala a partir do qual a sociedade poderá compor um novo paradigma, uma nova "melodia" a partir das primeiras "notas";

• célula como "grupo de pessoas com ideal e atuação afins", Célula como algo que depende da atuação de pessoas com ideais e propósitos semelhantes.

• célula como "unidade fundamental dos seres vivos", Célula como parte de um todo, uma sustentabilidade envolvente e integrada, que nasce inserida na sociedade e não externa a ela, floresce a partir do caos, sendo a Terra o grande ser vivo.

Enfim, as Células ganham o sentido de "parte que compõem o todo" abrangendo a ambigüidade do verbo (compor = fazer;construir), uma vez que o todo é composto de partes, e as partes constroem o todo, elas fazendo parte, fazem um novo todo.

Conjuntura atual e tendências para o futuro

Em escala global, a humanidade presencia o agravamento de inúmeros problemas como a degradação ambiental e as conseqüentes mudanças climáticas, a miséria, a violência, etc. Se nada for feito essa situação tende a piorar com, entre outros fatores, a crise energética, o aumento da ocorrência de catástrofes naturais e doenças causadas por vírus e bactérias com a elevação da temperatura e o crescimento da população em relação a produção de alimentos.

Nas raízes desta problemática está um modelo econômico que, desconsiderando as questões ambientais e sociais, destrói o equilíbrio necessário à vida de todas as espécies e coloca a humanidade em risco. Diante disto, para a construção de um verdadeiro desenvolvimento sustentável, o desenvolvimento econômico e a proteção ambiental, assim como o um sistema social equilibrado, são questões inseparáveis. Sob esta perspectiva e contexto mundial, "núcleos de desenvolvimento local e sustentabilidade" atuariam na solução de diversas questões e, mais do que isso, facilitando a transformação humana individual e coletivamente.

Núcleos de desenvolvimento local e sustentabilidade

Com o objetivo de difundir, educar, aplicar conceitos de sustentabilidade ambiental, social e econômica, núcleos de desenvolvimento poderiam ser implantados nas mais variadas partes do mundo e em diferentes contextos, seja em zonas urbanas, rurais ou de proteção ambiental,em meio a comunidades, vilas ou cidades, eles teriam um "alcance global, mas local em sua aplicação".

Inspirados no conceito de Ecovila, os Núcleos seriam incubadoras de desenvolvimento sustentável que atuariam divulgando tecnologias ambientalmente corretas e promovendo o desenvolvimento local. Diferentemente do conceito de Ecovila, que visa apenas garantir as próprias necessidades, realidade evidenciada pelo fato de muitas delas estarem localizadas em lugares isolados, os núcleos agregariam o entorno envolvendo-o: a medida que comprometidos e ligados com às demandas locais e às necessidades da comunidade a sua volta, se tornariam interessantes para a população local nos aspectos econômico, social, cultural e ambiental.

A sustentabilidade é um modelo que contempla as esferas econômica, social, cultural e ambiental, e sua aplicação varia de acordo com as necessidades locais abrangendo os mais variados âmbitos da vida em sociedade: Educação e cultura, saúde, produção de alimentos, saneamento básico, economia, administração, ecologia com relação a preservação do ambiente, energia, construção. Considerando o iminente aumento das ocorrências de catástrofes naturais, os núcleos teriam um papel fundamental na resposta para colapsos, pois estariam preparados para dar apoio após desastres, além de apresentar alternativas diante da desarticulação possível de cidades e do sistema produtivo com colapsos ambientais, uma vez que descentralizam a produção agrícola e energética e o tratamento de água e esgoto.

Tendo em vista possíveis entraves na concretização dos objetivos das Células, alguns conceitos e mecanismos, as chamadas "estratégias para a sustentabilidade", atuariam de forma a garantir a integridade na formação dos núcleos através da independência destes com relação a interesses não convergentes e questões locais de poder, da fiscalização mútua entre os envolvidos (Núcleo, Rede, Comunidade e Governo) e da cooperação entre as células. Entre essas estratégias está a formação de uma rede composta por diferentes profissionais capacitados para avaliar o desenvolvimento e a sustentabilidade dos núcleos e por representantes dos núcleos.

Essa rede fiscalizaria o processo e administraria os recursos financeiros (recebendo–os e os direcionando aos núcleos de acordo com as necessidades destes).

O processo de formação destas Células abrangeria duas etapas:

1. "GESTAÇÃO", na qual o núcleo está "crescendo", ou seja, envolvendo o entorno e construindo a sua sustentabilidade. Nesta primeira parte o núcleo receberia investimento através de uma rede.

2. A segunda etapa seria caracterizada pelo alcance da sustentabilidade, ou seja, ao término do prazo estabelecido previamente para o projeto, o núcleo não mais necessitaria de investimento externos, seja da REDE, que não mais o forneceria, ou de outras iniciativas, alcançando independência, cessando seu crescimento uma vez que teria envolvido já a comunidade. Neste ponto ele estaria consolidado, o núcleo e o entorno tendo atingido a sustentabilidade, formando juntos o que poderia ser chamado de Ecovila.

Enfim, para que a verdadeira sustentabilidade nasça é preciso não só a ecologia no sentido de proteção ambiental, mas também a ecologia humana, pois somente através do resgate do ser humano, a conscientização, a sua valorização como indivíduo e o atendimento a todas as suas necessidades essenciais à vida, que a humanidade deixará de destruir o ambiente, respeitando o delicado equilíbrio entre as mais variadas formas de vida. Quando os homens deixarem de se tratar como animais, talvez os animais deixem de ser tratados como coisas, e o planeta seja respeitado como um lar.

08 agosto 2007

"Um Pé de Quê?" volta ao canal Futura e torna-se "carbono neutro"
Da Redação Canal Futura

A apresentadoraRegina Casé exploraa flora brasileira

O "Um Pé de Quê?", programa apresentado por Regina Casé que mostra a diversidade da flora brasileira, volta à grade do Canal Futura nesta quarta-feira (1/8) com uma novidade: o programa tornou-se "carbono neutro". A produção do "Um Pé de Quê?" diz que "todas as emissões de carbono" geradas pela realização do programa em 2007 "serão neutralizadas com o plantio de árvores". Para marcar a reestréia da série que completa sete anos, a nova temporada começa com um episódio sobre o aquecimento global. No programa, Regina Casé analisa as características botânicas de uma planta e a partir daí as relaciona com passagens da história e da cultura brasileira como música, história, antropologia, culinária e paisagismo. Serão temas da nova temporada plantas como o Visgueiro, o "Rei das Matas Pernambucanas", e a Camélia, que se tornou símbolo da luta abolicionista. Um dos episódios inéditos comemorará os 70 anos do Parque Nacional de Itatiai, o primeiro criado no Brasil.

UM PÉ DE QUÊ? Onde: Canal Futura
Quando: quartas, a partir de 1º de agosto Horários: às 22h Reprises: quinta-feiras às 2h, sábados às 16:30h, domingos às 19h e segundas às 16h

03 fevereiro 2007

Marina Silva recebe o maior prêmio de meio ambiente das Nações Unidas
02/02/2007 - 09h02

A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, receberá o maior prêmio das Nações Unidas na área ambiental, o Champions of the Earth (Campeões da Terra) de 2007, como reconhecimento ao seu trabalho em favor da preservação da floresta amazônica e da valorização das comunidades locais e tradicionais da região. O anúncio foi feito nesta quinta-feira (01) pelo Programa das Nações Unidas pelo Meio Ambiente (PNUMA). Marina Silva é uma das sete personalidades que serão premiadas. O Campeões da Terra será entregue numa cerimônia prevista para o dia 19 de abril, em Cingapura.

O sub-secretário da Organização das Nações Unidas (ONU) e diretor-executivo do PNUMA, Achim Steiner, em carta enviada à ministra, elogia a sua dedicação na defesa das questões ambientais. "Vossa Excelência reconheceu que a construção de uma aliança de apoio para proteger o meio ambiente exige adesão a um conjunto básico de valores. Sua crença de que o sucesso da luta para salvar a vida sobre a Terra exige que princípios estejam à frente de nossos esforços fez com que fosse merecedora do prêmio Champions of the Earth 2007", escreve ele.

O prêmio existe desde 2004. Seu objetivo é contemplar pessoas que tenham uma contribuição significativa e reconhecida, global e regionalmente, na proteção e gestão sustentável do meio ambiente e dos recursos naturais. Os premiados são selecionados por um painel de alto nível, a partir de indicações que o Pnuma recebe. O prêmio não reverte em dinheiro. Ele é simbolizado por uma escultura de metal reciclado, assinada pelo queniano Kioko, que simboliza os quatro elementos fundamentais à vida: sol, ar, terra e água. Na carta, Steiner classificou como "extraordinária" a contribuição de Marina Silva no Ministério do Meio Ambiente para a proteção da Amazônia e mencionou a queda estimada de mais de 50% na taxa do desmatamento da região nos últimos dois anos. "É um resultado dos novos processos governamentais implementados", ressalta o diretor-executivo do PNUMA.

Entre 2003 e 2006, a ministra inaugurou um novo modelo de gestão ambiental no governo federal, cujo princípio básico é o envolvimento efetivo de diferentes setores de governo e da sociedade na busca de soluções para problemas de meio ambiente. Defendeu a cooperação entre os vários ministérios e governos estaduais, obtendo importantes resultados que refletem a capacidade do Estado e da sociedade em implementar uma política ambiental capaz de dar respostas aos desafios de conservação da atualidade. Com isso, conseguiu consolidar várias propostas da sociedade civil em novos instrumentos de política ambiental, como o Plano de Ação para a Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia e a Política Nacional para o Desenvolvimento Sustentável das Comunidades Tradicionais, que abrange todos os biomas brasileiros.

No Senado, Marina Silva apresentou inúmeros projetos de lei e trabalhou pela aprovação de outros tantos - grande parte deles voltados para a preservação das florestas, proteção dos direitos das comunidades tradicionais e inclusão social. Como senadora, apresentou o primeiro Projeto de Lei para regular o acesso aos recursos genéticos. Esse empenho foi igualmente reconhecido pelo PNUMA e destacado por Steiner na carta.

A dedicação de Marina Silva na implementação da CDB, cujos objetivos são a promoção da conservação, do uso sustentável e da repartição de benefícios gerados a partir da biodiversidade, também teve forte influência na decisão do painel do PNUMA. Desde março de 2006, o Brasil, representado pela ministra, ocupa a presidência da CDB - mandato que encerra em 2008.

Ao lado de Marina Silva, receberão o Campeões da Terra de 2007: o ex-vice presidente dos Estados Unidos, Al Gore, pela sua atuação na proteção ambiental e na educação sobre os perigos decorrentes do aumento de gases de efeito estufa na atmosfera; o Príncipe Hassan Bin Talal, da Jordânia, por sua crença na colaboração transfronteiriça para proteger o meio ambiente e tratar dos temas ambientais de maneira holística; Jacques Rogge e o Comitê Olímpico Internacional, pelos avanços no esporte e na agenda ambiental, por meio da provisão de mais recursos para o desenvolvimento sustentável e pela introdução de requisitos ambientais mais rigorosos às cidades candidatas a sediar os Jogos Olímpicos; Cherif Rahmani, pelo avanço na agenda de direito ambiental e pela abordagem do tema desertificação na Argélia; Elisea "Bebet" Gillera Gozun, pelo avanço na agenda ambiental nas Filipinas; e,Viveka Bohn, da Suécia, pelo desempenho de destaque em negociações multilaterais e liderança em esforços globais para a segurança química. Já foram premiados em edições anteriores, o ex-presidente da União Soviética, Mikhail Gorbachev; o povo da África do Sul e sua presidenta, Thabo Mbeki; e a ex-vice presidente do Irã, Massoumeh Ebtekar.

Perfil

Do seringal, de onde saiu aos 16 anos, até o Ministério do Meio Ambiente, cargo que ocupa atualmente, Marina Silva percorreu um longo caminho. Viveu na floresta amazônica, onde nasceu em 1958, num seringal no interior do Acre, até os 16 anos, quando foi morar na capital do estado, Rio Branco. Alfabetizou-se aos 17 anos. Foi empregada doméstica e costureira. Aos 26, conquistou o diploma de Bacharel em História pela Universidade Federal do Acre.

Antes mesmo de formada, iniciou a militância. Em 1984, participou da fundação da Central Única dos Trabalhadores (CUT) do Acre e foi a primeira vice-coordenadora da entidade, ao lado de Chico Mendes. Um ano depois, filiou-se ao Partido dos Trabalhadores. Participou das Comunidades Eclesiais de Base, de movimentos de bairro e do movimento dos seringueiros. Apenas três anos depois, elegeu-se a vereadora mais votada da Câmara Municipal de Rio Branco. Outros dois anos bastaram para tornar-se a deputada estadual mais votada do Acre.

Marina Silva foi a mais jovem parlamentar a ocupar uma vaga no Senado Federal na República. Com 36 anos, foi eleita a primeira vez, em 1994. Foi reeleita em 2002. Como senadora, foi vice-presidente da Comissão Especial do Congresso de Combate à Pobreza, criada a partir de uma proposta sua, vice-presidente da Comissão de Assuntos Sociais e membro titular da Comissão de Educação. Em 1999, foi líder da bancada do PT e do Bloco de Oposição. Durante sua legislatura, apresentou diversos projetos, como o que disciplina o acesso aos recursos da biodiversidade brasileira e ao conhecimento das populações tradicionais.

Propôs ainda a criação da reserva de 2% do Fundo de Participação dos Estados e do Distrito Federal para os estados que tenham, em seus territórios, unidades de conservação federais e terras indígenas demarcadas. Defendeu, também por meio de um projeto, uma nova estrutura para o orçamento para garantir que verbas destinadas a gastos sociais sejam efetivamente aplicadas nesses setores. Considerada uma dos 100 parlamentares mais influentes do Congresso Nacional, teve sua biografia publicada no Brasil e no exterior.

Em 2003, afastou-se do Senado para assumir o cargo de ministra de estado do governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Deixava a defesa do meio ambiente no Poder Legislativo para defender as questões ambientais no Poder Executivo. Sua atuação, entre 2003 e 2006, inaugurou um novo modelo de gestão ambiental, que conta com a participação de diferentes setores do governo federal e da sociedade. Foi a partir desse modelo que surgiu o Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento, em 2004. Resultado do trabalho de 13 ministérios coordenados pela Casa Civil, o plano foi definidor na redução estimada de mais de 50% na taxa de desmatamento da Amazônia entre 2004-2005 e 2005-2006.

Recebeu diversos prêmios no Brasil e no exterior. Entre eles, estão:

* Prêmio Goldmann de Meio Ambiente, como representante das Américas do Sul e Central - São Francisco/EUA (1996);

* Homenagem a "25 Mulheres em Ação no Mundo pela Vida na Terra", do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente - ONU, Nova York/EUA, (1997);

* Premio al Desarrollo Sostenible 2003 - Fundacion Ecologia y Desarrollo, Barcelona/Espanha (2003);

* Prêmio "Imprensa Estrangeira 2003" - Associação dos Correspondentes de Imprensa Estrangeira no Brasil, Rio de Janeiro/RJ (2003);

* Prêmio Mulheres Mais Influentes Forbes Brasil, Revista Forbes Brasil (2006).

Além disso, seu nome constou na lista de Jovens de Futuro no Mundo, em 1995, elaborada pela revista Time (Nova Iorque/ EUA). Também foi escolhida Mulher do Ano, em 1997, pela revista Miss Magazine (Washington/EUA).

Marina Silva é casada com Fábio Vaz de Lima e tem quatro filhos: Shalom, Danilo, Moara e Mayara.

Crédito da imagem: Jefferson Rudy/MMA
(Envolverde/MMA)

01 fevereiro 2007

Google: Até os donos ajudam a contratar
28.12.2006


Com um recrutamento quase paranóico, o Google contrata 16 funcionários por dia. Todos são aprovados pelos fundadores da empresa

Por Cristiane Mano
EXAME A dupla Larry Page e Sergey Brin criou o maior fenômeno ponto-com de todos os tempos com um jeito de fazer negócios altamente inovador. O Google lança novos produtos como pão quente -- tão diferentes como e-mail, blogs, fotos de satélite ou um programa para planilhas semelhante ao Excel. Os resultados crescem de maneira espantosa. As vendas -- de publicidade, pois todos os serviços são gratuitos -- ultrapassaram 7 bilhões de dólares entre janeiro e outubro de 2006 e analistas projetam que cheguem a 10 bilhões de dólares até o final do ano. O valor de mercado da empresa em bolsa beira os 150 bilhões de dólares -- superior ao de companhias tradicionais, como GM e Coca-Cola. Apesar da exposição pública que esse espantoso crescimento provocou, o Google tenta preservar um segredo: seu modelo de contratação de funcionários, um dos mais complexos do mundo. "O processo é extenuante", diz Alexandre Hohagen, diretor-geral do Google no Brasil, que passou por 18 entrevistas antes de ser contratado. "Mas é uma maneira eficiente de contratar as melhores pessoas e também as mais afinadas com nossa cultura."

O Google é hoje o segundo lugar de trabalho mais cobiçado por alunos de MBAs nos Estados Unidos -- atrás apenas da consultoria McKinsey -- e as particularidades de seu processo de contratação tornaram-se lendárias no Vale do Silício, na Califórnia, onde fica a sede da companhia. Há inúmeros relatos na internet (facilmente encontrados numa busca no... Google) de candidatos que passaram por mais de uma dezena de entrevistas. Mesmo num ritmo frenético de crescimento, com recrutamento de 16 profissionais por dia em todo o mundo, reza a lenda que os fundadores Page e Brin deram a palavra final na contratação de cada um dos 9 600 funcionários da empresa. O processo rigoroso vale para todos: do presidente de uma subsidiária às secretárias dos executivos. Para ter uma idéia do grau de exigência, o Google contratou cerca de 15 engenheiros no Brasil neste ano -- embora a subsidiária tenha carta branca para contratar quantos quiser. "Estamos atrás de um perfil específico", diz Berthier Ribeiro-Neto, diretor de engenharia do Google no país, que já entrevistou centenas de candidatos. "É preciso ter conhecimento técnico, capacidade de aprendizado e afinidade com a cultura do Google. Gente arrogante, por exemplo, está fora."

A regra para selecionar os melhores é fugir do lugar-comum desde o primeiro momento. O exemplo mais eloqüente é um cartaz que a companhia espalhou recentemente em locais como a rodovia BR-101, a movimentada via de acesso entre o Vale do Silício e São Francisco, que dizia apenas: [first 10-digit prime found in consecutive digits of e].com. O enigma nem sequer trazia o logotipo do Google. Para a maioria dos mortais, a equação não significa nada. Alguns engenheiros e matemáticos, porém, conseguem traduzir o emaranhado de letras e números e transformá-lo na mensagem 7427466391.com. Os curiosos que conseguiram atravessar o primeiro obstáculo e digitaram o endereço na internet chegaram a uma página com outro problema ainda mais difícil. Quem conseguiu resolvê-lo recebeu um convite para enviar o currículo. A companhia também inseriu um teste de aptidão chamado Google Labs Aptitude Test em publicações especializadas, como o periódico Linux Journal. São 21 questões, com problemas matemáticos complexos e algumas quase poéticas, como "Qual é a equação matemática mais bonita na sua opinião?" Após o envio e a aprovação das respostas, os candidatos seguem no processo. Outra maneira comum de a empresa se aproximar de candidatos é estimular indicações de funcionários, que recebem uma bonificação (cujo valor a empresa não divulga) se houver sucesso na contratação. Tudo isso parece excentricidade de um grupo de nerds? Pode ser. É muito provável que um modelo como esse naufragasse numa companhia mais conservadora. Mas no Google tem funcionado como uma espécie de combustível para a companhia mais inovadora da atualidade.

O centro da estratégia de contratação do Google está na tentativa quase paranóica de manutenção de sua forte cultura empresarial. Nenhuma etapa do recrutamento, por exemplo, é terceirizada. Nem quando se trata de altos executivos. A contratação de headhunters só ocorre em casos raros, como a entrada em um novo país. Foi o que aconteceu a Hohagen, diretor-geral para o Brasil, recrutado com outros finalistas pela consultoria Egon Zehnder quando o escritório da companhia foi montado em São Paulo, em meados de 2005. Com base na seleção feita pela consultoria, o estilo Google de contratar entrou em ação. A primeira etapa foi enviar os currículos para que o time de recrutadores internos da empresa, baseado nos Estados Unidos, checasse as informações. "Se o candidato diz ter fluência em inglês, por exemplo, um recrutador americano liga para ele e tenta manter uma conversação", diz Hohagen.

O próximo passo é a maratona de entrevista. No caso de Hohagen, foram 18 -- dez delas na matriz, em Mountain View, na Califórnia, num único dia. A maratona durou quase dois meses. "O processo foi muito mais intenso do que eu poderia imaginar", diz ele, que hoje dedica cerca de um quarto do tempo para entrevistar candidatos para o escritório da companhia no Brasil, onde trabalham cerca de 60 pessoas. Todos os funcionários do Google são entrevistadores em potencial -- e por isso são treinados para conduzir corretamente a seleção. "Uma das lições é levar a conversa até o final, mesmo que se perceba logo no começo que o candidato não é o ideal", diz Ribeiro-Neto. "A idéia é manter a boa imagem da companhia e deixar as portas abertas para uma nova tentativa no futuro, se o interessado conseguir se preparar melhor para a vaga." Em geral, um candidato é sabatinado tanto por futuros colegas de trabalho como por funcionários de outras áreas e até de outros países. Cada entrevistador preenche um formulário, em que explica detalhadamente as razões que levaram à indicação ou à eliminação de um candidato. Para que o postulante ao cargo seja aceito, é preciso haver unanimidade. Um único voto contra elimina o aspirante.

Nos primórdios do Google (e lá se vão apenas oito anos), os co-fundadores, Page e Brin, entrevistavam todos os contratados. Ainda hoje pelo menos um deles reserva um dia na semana para debruçar-se sobre os dossiês dos recrutadores e dar a palavra final sobre a aprovação dos candidatos. Para quem acha que isso não passa de folclore, Hohagen conta que há poucos meses um finalista brasileiro recebeu o cartão vermelho porque um dos fundadores encontrou um erro gramatical em seu currículo. "Tivemos de insistir e argumentar que, apesar daquele tropeço, ele era a pessoa certa", diz ele. "No final, conseguimos reverter a decisão."

Nos últimos anos, os próprios fundadores vêm questionando a viabilidade do modelo. Em fevereiro de 2005, Sergey Brin anunciou a analistas que a rigidez nos critérios de contratação poderia se tornar um obstáculo à expansão dos negócios. Em março deste ano, a companhia substituiu seu primeiro diretor de recursos humanos. O escolhido foi Laszlo Bock, ex-diretor da General Electric, empresa mundialmente conhecida pela habilidade em recrutar e formar pessoas. Uma das mudanças implementadas por Bock foi limitar o número de entrevistas para, no máximo, nove. A empresa também estuda criar, para alguns cargos, um modelo mais veloz que envolva apenas duas entrevistas -- um padrão mais próximo ao da maioria das empresas. Os fundadores parecem ter entendido que desburocratizar o recrutamento (pelo menos um pouco) pode ser fundamental para que a companhia consiga continuar crescendo de forma acelerada -- e sem abrir mão de seus valores e dos melhores talentos.

A maratona da contratação
Veja o passo-a-passo de um recrutamento no Google

1 - A equipe de recrutadores internos inicia a seleção dos currículos dos candidatos. No primeiro contato por telefone, eles checam informações gerais, como fluência em inglês
2 - Os finalistas são entrevistados individualmente por um
comitê de funcionários do Google composto de até nove pessoas
3 - Após a entrevista, cada membro do comitê preenche um relatório para justificar a eliminação ou a recomendação do candidato
4 - Depois de todas as entrevistas, o comitê faz uma reunião para definir quem será contratado. O nome tem de ser aprovado por unanimidade
5 - Um recrutador checa se os relatórios foram preenchidos corretamente e valida a escolha
6 - A última palavra é dos fundadores, Larry Page e Sergey Brin, que lêem os dossiês dos indicados para contratação em todo o mundo
Fonte: empresa

Gore Nominated for Nobel Peace Prize
The Associated Press
Thursday 01 February 2007

He "has put climate change on the agenda," two Norwegian sponsors say.

Oslo, Norway - Former Vice President Al Gore was nominated for the 2007 Nobel Peace Prize for his wide-reaching efforts to draw the world's attention to the dangers of global warming, a Norwegian lawmaker said Thursday.

"A prerequisite for winning the Nobel Peace Prize is making a difference, and Al Gore has made a difference," Conservative Member of Parliament Boerge Brende, a former minister of environment and then of trade, told The Associated Press.

Brende said he joined political opponent Heidi Soerensen of the Socialist Left Party to nominate Gore as well as Canadian Inuit activist Sheila Watt-Cloutier before the nomination deadline expired Thursday.

"Al Gore, like no other, has put climate change on the agenda. Gore uses his position to get politicians to understand, while Sheila works from the ground up," Brende said.

"I think climate change is the biggest challenge we face in this century," Brende said.

During eight years as Bill Clinton's vice president, Gore pushed for climate measures, including the Kyoto Treaty. Since leaving office in 2001 he has campaigned worldwide, including with his Oscar-nominated documentary on climate change called "An Inconvenient Truth."

Norwegian lawmakers are among the thousands of people and groups with rights to nominate Nobel candidates. Others include members of national governments, past laureates, members of the awards committee and its staff, and many university professors.

The winner is traditionally announced in mid-October, with the prize always presented on the Dec. 10 anniversary of the death of its creator, Swedish industrialist Alfred Nobel.

The secretive Nobel committee never comments on specific nominations, but members often note that anyone can be nominated. Last year, there were 191 nominations for the prize that went to Bangladeshi economist Muhammad Yunus and the Grameen Bank he founded to help the poor.

Other announced nominations for the 2007 prize include Vietnamese Monk Thich Quang Do and Sail Training International, a British-based charity helping young people develop through sailing.

The five-member Norwegian awards committee accepts proposals postmarked by Feb. 1 and expects a rough count of nominations on Feb. 12.

In 2004, the Nobel Peace Prize went to Kenyan environmentalist Wangari Maathai, which Brende said shows the award committee's focus on ecological problems as a source of conflict.