29 agosto 2007

Trabalho de estudante brasileira será apresentado em conferência promovida pela ONU

O trabalho "Células de Transformação" de Aline Roldan, 18 anos, uma das brasileiras que ganhou o Prêmio do Milênio Mundial (veja o texto abaixo), será apresentado em conferência da ONU. Aline será uma das palestrantes da 60ª Conferência da DPI/NGO, uma rede de ONGs do Departamento de Informação Pública da Organização das Nações Unidas. Esse ano a Conferência terá como tema "Superando as mudanças climáticas: ações estratégicas globais e locais" e será realizada de 5 a 7 de setembro em Nova Iorque.

O Prêmio do Milênio Mundial, vencido por Aline na categoria Desenvolvimento Sustentável, reuniu estudantes secundaristas de vários países, que apresentaram projetos sobre quinze desafios propostos pelo Projeto Millenium, uma rede de futuristas e pesquisadores de diversas áreas do conhecimento, representado no Brasil pelo Núcleo de Estudos do Futuro da PUC-SP.

A outra brasileira premiada no concurso foi Maria do Rosário Gomes da Silva, na categoria Tomada de Decisões. Maria do Rosário venceu também, recentemente, o concurso "Uma Utopia para o Século 21",organizado pela Universidade do Porto, em Portugal, com a redação "Do outro lado do muro" (leia abaixo).

A participação de Aline ainda não foi confirmada por falta de recursos para pagar as despesas de viagem, dela e de um acompanhante. Mercado Ético convoca empresários e parceiros para ajudarem Aline a ajudar o mundo. Contatos pelo email mercadoetico@mercadoetico.com.br.
Células de Transformação

Desenvolvimento sustentável é o novo paradigma que torna possível a realização plena de toda a humanidade ao fornecer o básico para a realização da humanidade em cada um. Diante da conjuntura atual e das tendências para o futuro, é necessário que a sustentabilidade esteja presente nos mais variados contextos, acessível e possível a todos. Sob esse prisma um novo modelo de desenvolvimento deve perpetrar a sociedade ao apresentar e concretizar as soluções de problemas para os quais nosso atual modelo de desenvolvimento não tem respostas. Seriam pequenas sementes que plantadas nas falhas do asfalto originariam árvores. Seriam células de transformação.

Células

Células seriam "núcleos de desenvolvimento local e sustentabilidade", que aliariam as soluções nas esferas econômica, social e ambiental, não segmentando-as, e sim contemplando a ligação direta que possuem, pois os problemas de natureza ambiental são também de natureza social, econômica e política. Negligenciar um desses âmbitos inevitavelmente gera conseqüências danosas aos outros, ao passo que considerar a sustentabilidade em sua amplitude, apresenta como uma resposta efetiva aos mais variados problemas pelos quais o mundo atravessa.

Ao refletir sobre os vários significados da palavra célula, amplia-se o entendimento, e porque não a beleza, do que seriam as Células de Transformação:

• célula como "estrutura musical mínima, a partir da qual se faz uma composição", Célula como uma semente, um exemplo de sustentabilidade em pequena escala a partir do qual a sociedade poderá compor um novo paradigma, uma nova "melodia" a partir das primeiras "notas";

• célula como "grupo de pessoas com ideal e atuação afins", Célula como algo que depende da atuação de pessoas com ideais e propósitos semelhantes.

• célula como "unidade fundamental dos seres vivos", Célula como parte de um todo, uma sustentabilidade envolvente e integrada, que nasce inserida na sociedade e não externa a ela, floresce a partir do caos, sendo a Terra o grande ser vivo.

Enfim, as Células ganham o sentido de "parte que compõem o todo" abrangendo a ambigüidade do verbo (compor = fazer;construir), uma vez que o todo é composto de partes, e as partes constroem o todo, elas fazendo parte, fazem um novo todo.

Conjuntura atual e tendências para o futuro

Em escala global, a humanidade presencia o agravamento de inúmeros problemas como a degradação ambiental e as conseqüentes mudanças climáticas, a miséria, a violência, etc. Se nada for feito essa situação tende a piorar com, entre outros fatores, a crise energética, o aumento da ocorrência de catástrofes naturais e doenças causadas por vírus e bactérias com a elevação da temperatura e o crescimento da população em relação a produção de alimentos.

Nas raízes desta problemática está um modelo econômico que, desconsiderando as questões ambientais e sociais, destrói o equilíbrio necessário à vida de todas as espécies e coloca a humanidade em risco. Diante disto, para a construção de um verdadeiro desenvolvimento sustentável, o desenvolvimento econômico e a proteção ambiental, assim como o um sistema social equilibrado, são questões inseparáveis. Sob esta perspectiva e contexto mundial, "núcleos de desenvolvimento local e sustentabilidade" atuariam na solução de diversas questões e, mais do que isso, facilitando a transformação humana individual e coletivamente.

Núcleos de desenvolvimento local e sustentabilidade

Com o objetivo de difundir, educar, aplicar conceitos de sustentabilidade ambiental, social e econômica, núcleos de desenvolvimento poderiam ser implantados nas mais variadas partes do mundo e em diferentes contextos, seja em zonas urbanas, rurais ou de proteção ambiental,em meio a comunidades, vilas ou cidades, eles teriam um "alcance global, mas local em sua aplicação".

Inspirados no conceito de Ecovila, os Núcleos seriam incubadoras de desenvolvimento sustentável que atuariam divulgando tecnologias ambientalmente corretas e promovendo o desenvolvimento local. Diferentemente do conceito de Ecovila, que visa apenas garantir as próprias necessidades, realidade evidenciada pelo fato de muitas delas estarem localizadas em lugares isolados, os núcleos agregariam o entorno envolvendo-o: a medida que comprometidos e ligados com às demandas locais e às necessidades da comunidade a sua volta, se tornariam interessantes para a população local nos aspectos econômico, social, cultural e ambiental.

A sustentabilidade é um modelo que contempla as esferas econômica, social, cultural e ambiental, e sua aplicação varia de acordo com as necessidades locais abrangendo os mais variados âmbitos da vida em sociedade: Educação e cultura, saúde, produção de alimentos, saneamento básico, economia, administração, ecologia com relação a preservação do ambiente, energia, construção. Considerando o iminente aumento das ocorrências de catástrofes naturais, os núcleos teriam um papel fundamental na resposta para colapsos, pois estariam preparados para dar apoio após desastres, além de apresentar alternativas diante da desarticulação possível de cidades e do sistema produtivo com colapsos ambientais, uma vez que descentralizam a produção agrícola e energética e o tratamento de água e esgoto.

Tendo em vista possíveis entraves na concretização dos objetivos das Células, alguns conceitos e mecanismos, as chamadas "estratégias para a sustentabilidade", atuariam de forma a garantir a integridade na formação dos núcleos através da independência destes com relação a interesses não convergentes e questões locais de poder, da fiscalização mútua entre os envolvidos (Núcleo, Rede, Comunidade e Governo) e da cooperação entre as células. Entre essas estratégias está a formação de uma rede composta por diferentes profissionais capacitados para avaliar o desenvolvimento e a sustentabilidade dos núcleos e por representantes dos núcleos.

Essa rede fiscalizaria o processo e administraria os recursos financeiros (recebendo–os e os direcionando aos núcleos de acordo com as necessidades destes).

O processo de formação destas Células abrangeria duas etapas:

1. "GESTAÇÃO", na qual o núcleo está "crescendo", ou seja, envolvendo o entorno e construindo a sua sustentabilidade. Nesta primeira parte o núcleo receberia investimento através de uma rede.

2. A segunda etapa seria caracterizada pelo alcance da sustentabilidade, ou seja, ao término do prazo estabelecido previamente para o projeto, o núcleo não mais necessitaria de investimento externos, seja da REDE, que não mais o forneceria, ou de outras iniciativas, alcançando independência, cessando seu crescimento uma vez que teria envolvido já a comunidade. Neste ponto ele estaria consolidado, o núcleo e o entorno tendo atingido a sustentabilidade, formando juntos o que poderia ser chamado de Ecovila.

Enfim, para que a verdadeira sustentabilidade nasça é preciso não só a ecologia no sentido de proteção ambiental, mas também a ecologia humana, pois somente através do resgate do ser humano, a conscientização, a sua valorização como indivíduo e o atendimento a todas as suas necessidades essenciais à vida, que a humanidade deixará de destruir o ambiente, respeitando o delicado equilíbrio entre as mais variadas formas de vida. Quando os homens deixarem de se tratar como animais, talvez os animais deixem de ser tratados como coisas, e o planeta seja respeitado como um lar.

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