23 outubro 2007

Por trás dos links, as pessoas

Há dois séculos, a ciência descobriu e passou a analisar as redes. Há vinte anos, elas estão revolucionando o jeito de a sociedade se relacionar consigo mesma
Dalton Martins, Hernani Dimantas para o Le Monde Diplô

O matemático suíço Leonhard Euler foi, em 1780, o precursor do pensamento analítico sobre redes. Suas primeiras idéias diziam que eram compostas por nós e links — elos que ligam os nós. Os links são aleatoriamente espalhados entre os nós, formando redes de distribuição aleatória. A teoria de Euler aponta para o caos, ao sustentar que não existem nós centrais e que toda a rede é desprovida de hierarquia.

A palavra rede tem assumido novas conotações, e novas estruturas de comunicação surgiram, potencializando as possibilidades de conversação e circulação da informação. As estruturas matemáticas criadas por Euler para análise das redes passaram a ganhar maior relevância, mas muitas de suas previsões se mostraram sem sentido quando começamos a olhar para as redes sociais, a forma como os seres humanos se organizam — e para como se articulam nossas ações em rede.

Se Euler estivesse correto, os quase 6 bilhões de seres humanos (nós) no planeta deveriam ter aproximadamente o mesmo número de amigos (links). No entanto, nos anos 60, Stanley Milgram, um pesquisador da Universidade de Harvard, realizou um experimento que ficou conhecido como o "os 6 graus de separação".

A compreensão popular do experimento de Milgram aponta que estamos a apenas 6 graus de qualquer pessoa no mundo. Exemplo: será que conheço alguém, que conhece outro alguém, que conhece alguém que te conhece? Estar no máximo a 6 níveis de separação de qualquer outra pessoa significa que o mundo é pequeno pra caramba.
O foco nas experiências sociais

Entretanto, os resultados que Milgram obteve de seus experimentos foram mais radicais. Bem diferentes. Ele descobriu situações como as seguintes:
> Três níveis de separação: algumas pessoas possuem links privilegiados, logo conseguem conectar-se com outras por três níveis de separação;

> Cem níveis de separação: outras pessoas precisam de em torno de cem links para chegarem a outras pessoas. É sinal de que são grupos de pessoas bem mal conectados, mal posicionados na estrutura das redes sociais;

> Sem links: muitas pessoas possuem poucos ou nenhum link, restando como verdadeiras ilhas isoladas dentro da sociedade.

Surge, do experimento de Milgram, uma nova forma de enxergar as redes. O foco está nas experiências sociais. Os nós não seriam conectados aleatoriamente uns aos outros. Alguns deles aglutinam posições estratégicas, como elos. Ou seja, pessoas assumem papéis de protagonismo social a partir de suas possibilidades de conexão com outras pessoas.

Para validar tal premissa, um sociológo norte-americano, Mark Granovetter, realizou um outro experimento no final dos anos 60. Tinha por objetivo pesquisar a forma como as pessoas procuravam emprego. Granovetter identificou que a sociedade era formada por grupos de pessoas, ou clusters. Ele percebeu que as pessoas que possuíam conexões ou relações distantes com outras fora círculo familiar tinham duas vezes mais chances de conseguir uma vaga do que pessoas que tinham mais conexões próximas apenas no âmbito da família e dos amigos próximos. A análise de Granovetter era de que grupos próximos mais fortemente conectados possuíam interesses similares, logo com menos possibilidades de inserção.

Um novo padrão de relações entre as pessoas
Essas descobertas geraram uma revolução no pensamento da sociologia da época. Novas propostas de como potencializar as conexões entre as redes sociais começaram a surgir. Pensando estrategicamente, o número de conexões era fundamental para ampliar a circulação da informação, seja de idéias, de vagas de emprego ou de experiências compartilhadas.
Coincidentemente ou não, estamos falando da mesma época do surgimento da Internet, as primeiras conexões entre computadores, permitindo que mensagens bastante simples fossem trocadas e que pessoas pudessem estabelecer novos links de conexão entre si.

A tecnologia que vinha sendo desenvolvida parecia permitir uma ampliação nesse potencial de conexão entre as pessoas, criando novas possibilidades de ampliação da capilaridade das redes sociais. Novas formas de conexão, de estabelecimento de links, novas formas de desenharmos nossas próprias redes e os grupos de pessoas organizados em torno da tecnologia. Surgia a dinâmica do virtual, do email, das listas de discussões e das possibilidades de nos linkarmos usando as tecnologias da rede.

De lá para cá, muitas idéias foram implementadas, muitas tecnologias foram desenvolvidas. Surgiram Yahoo, Google, Orkut, MySpace, Facebook, Ning, Blogger, Youtube e tantas outras possibilidades de conversação em rede. Das muitas promessas de ampliação da conexão e do "todos conversando com todos", que as tecnologias da informação trouxeram, ainda observamos os mesmos padrões de comportamento das redes: clusters extremamente influentes nas articulações em rede e grupos isolados, com pouca ou nenhuma conectividade.

Novas tecnologias e novos desafios pela frente. O cenário está montado. Emerge um espaço para construção de um diálogo contínuo por várias lentes e percepções das dinâmicas de conversação, de desenvolvimento e ação que as novas tecnologias permitem a partir da construção de novas formas de redes sociais.

A Revolução das segundas-feiras

ECONOMIA ALTERNATIVA
Acaba de realizar-se no Uruguai a VI Feira Nacional da Economia Solidária. Evento irrelevante e experiências micro? Respondo: micro-revolucionário, mas mega-transformador. Gosto dos heróis invisíveis
Carola Reintjes para Le Monde Diplô

A globalização econômica é a globalização dos cristais quebrados. A Economia Alternativa e Solidária funde estes milhões de pedacinhos partidos, milhões de pedacinhos micro. Fundidos a temperatura rebelde, transformam-se em espelho cristalino, um espelho do que é a economia neoliberal, e do que pode ser uma economia inovadora.

No Uruguai, não houve a revolução. Não se apresentou uma tese de doutoramento sobre macro-economia. Não houve nada transcedental, nem inédito. Mesmo assim, tudo o que se apresentou é profundamente inovador e revolucionário. Micro-revolucionário, mas mega-transformador.
Há quem prefira as grandes revoluções. Sabem o que digo? Já me cansei das mega-revoluções e dos super heróis. Prefiro os heróis invisíveis, ao mesmo tempo tão visíveis, milhões de camponesas e artesãos. Empreendedores comprometidos.

Aquelas formiguinhas que fazem sua revolução às segundas-feiras de manhã. Todos os dias. Todos os anos. Uma eternidade. E o fazem sem dar grande importância. Sem discursos eloqüentes nem campanha publicitária. Mas fazem. Transformam, dia após dia, o ambiente econômico e social. Repensam e reconstróem conceitos. Transformam pensamentos e realidades sócio-econômicas. Seus empreendimentos auto-administrados, que contestam a economia neoliberal, são exemplo vivo de que "outra economia é possível".

Tão necessária. Nos rendemos, nos declaramos vencidos diante dos vencedores, os novos senhores do mundo. Entregamos o terreno da economia para seu jogo de roleta-russa. Jogo sem piedade, que arrasa com a lógica esmagadora do aumento incessante de lucros.

No pensamento neoliberal, sob o dogma do livre mercado, tanto o conceito de riqueza como os indicadores para medi-la parecem reduzir-se ao valor produtivo e mercantil. Não pesam o impacto social, cultural e ambiental da atividade econômica. Endeusam uma escala de valores que atiça a competição entre os atores sociais e econômicos, e coloca o paradigma social e do meio ambiente a serviço da produção econômica e de parâmetros utilitaristas e mercantilistas.
Economia rebelde. Mudança radical das pautas de pensamento, organização pessoal e consumo
A Economia Alternativa e Solidária é rebelde. Tem potencial subversivo de empoderamento das comunidades e transformação social. Está ao alcance de nosso quotidiano, mas tem enorme potencial. Não é apenas a reorganização mais justa da atividade econômica, mas mudança radical das pautas de pensamento, organização pessoal e consumo. Vê os seres humanos como sujeitos e atores principais da transformação social, econômica, de política e cultura. Coloca-os no centro da economia, como protagonistas e beneficiários. Sua origem e fim é o cidadão responsável, que quer manter controle sobre como se produz, troca, consume, investe ou economiza.

Também pretende enfrentar o desafio de criar um equilíbrio entre a atividade econômica e social e sua dimensão ambiental. Assume a dualidade dos valores — meio-ambiente e interesses sociais ou individuais — como algo que contribui para a dimensão integral da produção de riquezas. Natureza e pessoa não são recursos, mas valores supremos com direitos. A diversidade das pessoas tem uma importância especial em sua dimensão cultural, de raça, religião ou gênero. Exige respeito ao à diversidade — que se transforma em valor (e não obstáculo) à vontade de integrar o planeta.

Tudo isso obriga a repensar conceitos como riqueza e bem-estar social. Que projeto permitem assegurá-los para todos? Haverá vencedores e vencidos? Como assegurar poder equilibrado entre quem produz e quem consome? Por que caminhos construir o poder cidadão? Ou iríamos nos reduzir a votar uma vez a cada tantos anos, se podemos decicir diariamente, por meio de nossas ações e atitudes?

Como dizem os organizadores da VI Feira de Economia Solidária, em Montevidéu: "ela é muito mais do que se vê". Boa sorte! E a Feira Permanente da Economia Alternativa e Solidária nem bem começou, por todo o mundo. E vivam as formiguinhas da revolução das segundas-feiras.
Tradução: Gabriela Leite Martins gabrielaleite89@gmail.com
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Carola Reintjes é colunista do Caderno Brasil de Le Monde Diplomatique. Edições anteriores da coluna:

08 setembro 2007

Solving the World's Energy Problems - With LEGO

MANCHESTER, New Hampshire, September 7, 2007 (ENS) - More than 100,000 middle-school students in 38 countries are poised to create solutions for the energy needs of a growing world population - with robots and LEGO, the snap-together plastic building blocks.

An organization called For Inspiration and Recognition of Science and Technology, FIRST, Thursday launched its 10th anniversary FIRST LEGO® League season with the unveiling of the 2007 Power Puzzle Challenge.

The Challenge calls for teams of middle-school students, ages 9 to 14, to use robotics to understand and create solutions for one of the world's most critical environmental issues - energy management and conservation.

To create a theme and Challenge missions that parallel real issues, FIRST collaborated with the Gulf Coast Combined Heat and Power Application Center, the Department of Chemical Engineering at the University of South Carolina, and the Second Hill Group, an independent consultant on energy, environment and green design.

To accomplish missions involving solar panels on houses, hydro-dams, wind turbines and tree planting, teams will program their robots to find sustainable options to meet the world’s growing energy needs in environmentally sound ways.

"The environment is a huge concern for everyone, including kids," said Dean Kamen, who founded FIRST. "Giving them a hands-on experience that allows them to use their imaginations and creativity in combination with science and technology to solve a real-world problem is empowering. It captures the true spirit of FIRST LEGO League and unleashes the creative problem solving skills today’s kids need for building a better tomorrow."

FIRST also kicked off the 2007 Junior FIRST LEGO League Power Puzzle season Thursday for six to nine year-olds.

After eight weeks of preliminary matches, the competition season culminates at high-energy, sports-like tournaments.

Teams will compete to participate at the FIRST LEGO League World Festival, to be held in conjunction with the FIRST Championship, April 17-19, 2008 at the Georgia Dome in Atlanta, Georgia.

"FIRST LEGO League so brilliantly captures the natural curiosity and creativity of youth, and combines it with real-world issues and research and teamwork activities that put children in a position of identifying and creating innovative solutions to big problems," said Jens Maibom, vice president, LEGO Group.

Founded in 1932, the LEGO Group is a privately held, family owned company, based in Billund, Denmark. The name LEGO is an abbreviation of the two Danish words "leg godt," meaning "play well."

Copyright Environment News Service (ENS) 2007. All rights reserved.

04 setembro 2007

Você 3.0

Bem-vindo à nova era da globalização: primeiro empresas. Agora é a sua vez.

texto de Simon Kuper para Superinteressante coordenação Adriano Sambugaro, Carlo Giovani e Sérgio Gwercman

Eu sou inglês, ou pelo menos é isso que diz meu passaporte. Outro dia, sentei na minha casa em Paris para escrever uma reportagem encomendada por um jornal argentino que eu havia apurado em Miami. Dei os últimos retoques no texto dentro de um trem que atravessava a Bélgica. Ao chegar à estação central de Amsterdã, meu destino final, conectei o notebook à rede de internet sem fio e, sentado num cantinho, ao lado da minha esposa americana, enviei o artigo por e-mail para Buenos Aires. Me senti o perfeito trabalhador globalizado. Como diria o colunista do The New York Times Thomas Friedman em seu livro O Mundo É Plano, eu era uma minimultinacional trabalhando no meu escritório virtual global.

O Mundo está entre as obras mais importantes para entender esse novo fenômeno. O livro explica por que pessoas como eu são o seu futuro. Já está claro que, na sua e na minha carreira, a maior parte do dinheiro virá dos trabalhos globais. Agora só nos resta desvendar um detalhe - nada irrelevante, aliás: quem terá a chance de se tornar global e quem será atropelado pelo processo, sendo deixado para trás na corrida da globalização.

Nova globalização

Mas como foi que chegamos a este estágio? Afinal, globalização (essa palavra horrível) costuma ser usada para se referir a empresas ou produtos. Pois Friedman decretou que essa globalização caducou. A coisa funciona assim: em 1492, Colombo pegou seu barco e mostrou que o mundo ia bem além da Europa. Começava a globalização 1.0,com as nações percebendo que poderiam fazer negócios no mundo todo. O marco seguinte veio por volta de 1800, com a Revolução Industrial, que forçou as empresas a se multinacionalizar em busca de novos mercados para vender seus produtos - e mão-de-obra barata para fabricá-los.

Era a globalização 2.0. A era que estamos vivendo, a globalização 3.0, "é sobre indivíduos se globalizando". As raízes desse fenômeno estão fincadas em uma variedade de tecnologias que, por volta do ano 2000, começaram a ficar disponíveis ao grande público (o preço ficou acessível, para ser mais claro). Vamos a elas: conexões à internet estão cada vez mais velozes. Os computadores, baratos. Softwares sofisticadíssimos ficaram tão simples que podem ser usados por semi-analfabetos tecnológicos. E o Google mostrou-se capaz de colocar pessoas sentadas na sala de casa em contato com boa parte da informação mundial. Por fim o número de usuários da internet teve um crescimento exponencial.

O resultado disso tudo é que quando se afirma que o mundo é plano não estamos falando na possibilidade de ficar de papo com qualquer pessoa no planeta através do computador de casa. É muito mais do que isso. Mundo plano quer dizer que após a queda do Muro de Berlim, a abertura dos mercados da Índia e da China e a redução dos impostos alfandegários, podemos muito mais do que conversar com todos: agora podemos nos conectar a qualquer habitante do planeta (desde que ele não viva nas ditaduras da Coréia do Norte ou de Mianmar, é claro).

Uma breve história global

Os imigrantes que deixaram Nápoles rumo a São Paulo na virada do século 20 estavam trocando um planeta por outro. Havia muito pouco em comum entre esses dois lugares. A comida era diferente, a música era outra e os hábitos sociais não se pareciam em quase nada. Hoje, com o ciberespaço, eles poderiam ter conseguido um emprego em outro país sem ter de abandonar a macarronada.

Gerentes industriais e editores de revista contratam profissionais como eu, que eles nunca viram pela frente, e que trabalham sentados numa cadeira do outro lado do mundo. A Índia é hoje um dos principais pólos desse tipo de serviço. Friedman encontrou lá contadores cuidando, via internet, do Imposto de Renda de clientes americanos. Viu nerds programando jogos de computador para desenvolvedores na Califórnia. Atendentes de call center em Nova Délhi recebendo telefonemas feitos para o serviço de atendimento de empresas americanas. Achou raios X tirados na madrugada dos EUA sendo examinados em tempo real por médicos na Austrália, onde já era dia. Ao ler O Mundo, até eu pensei em importar da Índia umas pesquisas jornalísticas!

Terrorismo: outro fenômeno globalizado

Nem sempre, porém, a nova realidade é uma maravilha. Talvez o melhor exemplo da nova logística global seja a rede terrorista Al Qaeda. Os ataques de 11/9 foram detonados nos EUA por um time de sauditas comandados por um egípcio educado na Alemanha e guiado por um chefe na zona rural do Afeganistão. As teorias conspiratórias que incluem os governos israelenses e americanos na trama costumam se esquecer o quão fácil se tornou para uma pessoa comum realizar um trabalho global altamente sofisticado - Mohammed Atta, chefe dos seqüestradores, comprou sua passagem no AA.com, site da American Airlines. Simples assim. Ou então pegue a rede global de jornalistas e designers que criou esta reportagem. A idéia original - exemplificar na realização da matéria o fenômeno de que estamos tratando - partiu da redação da revista, em São Paulo.

Por e-mail, fui convidado a escrevê-la aqui de Paris. Enquanto isso, o diretor de arte da Super fuçava sites especializados em busca de ilustradores. Os colaboradores escolhidos eram gente de que ele nunca ouvira falar, espalhados pelo Brasil, Canadá, Espanha e Rússia. Tudo parece muito elaborado, mas na prática o processo inteiro custou a mesma coisa e foi praticamente idêntico ao de qualquer outra reportagem da Super - a única diferença foi que precisamos nos comunicar por Skype ou Messenger em vez de fazer uma reunião ao vivo.

Como participar?

Agora vem a má notícia. A globalização não é uma festa para a qual todos estão convidados - esse é o drama de toda boa festa, aliás. Mesmo que a hostess da porta seja bonitinha, ela decide quem entra e quem não entra com a mesma crueldade de um leão-de-chácara. O que fazer para conseguir um convite?

Aí vai o caminho das pedras. Para ser um trabalhador global, você precisa de duas ferramentas: um computador com internet e domar o inglês. Quando combinados, esses dois requisitos excluem mais de 90% da população do planeta. É um equívoco, portanto, acreditar que não há barreiras para a globalização 3.0. A maioria não tem essas ferramentas básicas.

Veja o caso do Brasil: numa população de 189 milhões de pessoas, cerca de 30 milhões têm acesso à internet. Globalmente estima-se em 694 milhões os maiores de 15 anos que acessam a rede - apenas 14% de toda a população mundial nessa faixa etária. Não pense, porém, que o fato de você fazer parte desses 14% de privilegiados lhe garante uma vaga no mercado de trabalho global. Você precisará se virar na hora de falar inglês, porque colaboradores têm de se comunicar e o inglês é a língua escolhida para essa tarefa.

Do you speak english?

Quando um chinês conversa com um francês, ainda que de forma rudimentar, eles usam o inglês. Inglês é, também, a língua que eu usei para me comunicar com a Super. Se meu texto tivesse de ser traduzido do alemão ou do cantonês, isso significaria um acréscimo de tempo e de custo. Da mesma maneira, O Mundo É Plano teria muito menos chance de atrair a atenção de uma editora brasileira se tivesse sido escrito originalmente em sueco.

Como no acesso à internet, a exigência de usar o inglês elimina da concorrência parcelas enormes do planeta. A revista The Economist apresentou (em inglês, é claro) os seguintes números sobre essa questão: apenas cerca de 25% da população mundial ao menos arranha o inglês.

Muitos outros estão tentando tirar o atraso. Tenho um amigo que viajou para a China para ensinar inglês. Ele dava aulas matinais em parques públicos que atraíam milhares de pessoas dispostas a pagar por elas. Paris há um século era a capital da língua global da elite, o francês. Hoje, as crianças parisienses começam a aprender inglês no jardim-de-infância. David Graddol, do Conselho Britânico, o braço cultural global do governo britânico, afirma que "em uma década, cerca de um terço da população mundial estará tentando aprender a falar inglês".

Por hora, quem não sabe falar inglês está fora do jogo - uma péssima notícia para o Brasil. Em minhas visitas ao país, nos anos 90, encontrei um país monolíngüe. Falar inglês não me levava a lugar nenhum.É claro que também o Brasil está se globalizando. Mas até a localização do país atrapalha a jornada dos que tentam se tornar trabalhadores globais. Para quem tem essa idéia na cabeça, o melhor lugar para estar não é Bangalore, capital tecnológica da Índia, que Friedman tanto admira.

Nem a multinacional, multicultural e multidinâmica Toronto, no Canadá, escolhida por Pico Iyer em seu excelente livro The Global Soul ("A Alma Global", sem versão em português). Sem dúvida, não há lugar mais apropriado que um pequeno triângulo num continente freqüentemente acusado de estar se tornando asilo de luxo para sua população envelhecida: a região noroeste da Europa, centrada em Londres, Paris e Bruxelas. Essa área é um laboratório de observação do futuro do trabalho globalizado.

29 agosto 2007

Ainda falta senso de urgência diante da crise ambiental

Por Darlene Menconi, do Mercado Ético

A questão ambiental ainda não chegou à sociedade e à realidade das empresas com o devido senso de urgência. Essa foi uma das principais conclusões dos participantes do Fórum de Desenvolvimento Sustentável, promovido pela Editora Globo com apoio da Revista Época e o patrocínio da Petrobras, realizado nesta quarta-feira (29/8) em São Paulo.

“O aquecimento global não é mera figura de imaginação ou teoria de professores universitários, é realidade” - afirmou o físico José Goldemberg, professor da Universidade de São Paulo (USP) e do Instituto de Eletrotécnica e Energia (IEE). Ex-secretário estadual do Meio Ambiente, Goldemberg destacou três evidências do processo de mudanças climáticas: a elevação da temperatura média do planeta, o aumento do nível dos oceanos e o derretimento das geleiras.

Desde o início da era industrial, em 1850, até hoje, a temperatura da Terra subiu 0,7 grau Celsius e deve chegar a 2 graus Celsius até 2050. Por conta desse aumento, a água dos oceanos tende a se expandir, e o nível do mar deve subir mais 20 centímetros até meados de 2050, segundo Goldemberg. O grande efeito disso, diz o físico, pode ser o colapso dos serviços de esgoto nas cidades litorâneas. “Isso afeta o porto e a cidade de Santos imediatamente porque, com a elevação do nível do mar, o esgoto em vez de correr da terra para o mar pode fazer justamente o percurso contrário”, explicou.

A saída para contornar os efeitos das mudanças climáticas, segundo os próprios especialistas do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) está na adoção de novas atitudes que levem em conta a realidade do aquecimento global. A primeira delas é lutar pela maior eficiência em todos os setores econômicos - e foi justamente esse um dos denominadores comuns nas palestras do Fórum de Desenvolvimento Sustentável, que reuniu empresários, acadêmicos e representantes do setor petrolífero e da construção civil.

NOVOS PARADIGMAS E MAIS EFICIÊNCIA

A urgência em adotar novas práticas passa pelas indústrias de base, pela agricultura, pelo setor de transportes e o de construção, que devem ser cada vez mais eficientes. “Fica claro que é necessário mudar de paradigma urgentemente. Ainda há um total descolamento da crise ambiental que vivemos, mostrada claramente pela ciência, e a realidade do mundo dos negócios”, alerta Miguel Milano, vice-presidente da Fundação Boticário.

No setor energético, garante José Sérgio Gabrielli, presidente da Petrobras, investir em eficiência e em tecnologia é o segredo da sobrevivência. De olho na realidade brasileira em 2020, Gabrielli avalia que o petróleo ainda deve ter uma longa história. A tendência, ele prevê, é que os biocombustíveis respondam por cerca de 20% da matriz energética nacional nessa ocasião.

“As pressões energéticas, ambientais e a eficiência vão exigir novas posturas em 2020”, diz o presidente da Petrobras. Entre elas estaria a expansão da produção de gás, o crescimento dos combustíveis renováveis, como o etanol e o biodiesel. E, sobretudo, a expansão da indústria de petroquímica. “Saímos do aço e do metal para a cultura do plástico e dos biopolímeros”, ele diz. Para isso, assegura Gabrielli, é preciso investir em pesquisa científica e desenvolvimento tecnológico. Só a Petrobras deve aplicar US$ 22,5 bilhões ao ano em tecnologia de hoje até 2020.

Trabalho de estudante brasileira será apresentado em conferência promovida pela ONU

O trabalho "Células de Transformação" de Aline Roldan, 18 anos, uma das brasileiras que ganhou o Prêmio do Milênio Mundial (veja o texto abaixo), será apresentado em conferência da ONU. Aline será uma das palestrantes da 60ª Conferência da DPI/NGO, uma rede de ONGs do Departamento de Informação Pública da Organização das Nações Unidas. Esse ano a Conferência terá como tema "Superando as mudanças climáticas: ações estratégicas globais e locais" e será realizada de 5 a 7 de setembro em Nova Iorque.

O Prêmio do Milênio Mundial, vencido por Aline na categoria Desenvolvimento Sustentável, reuniu estudantes secundaristas de vários países, que apresentaram projetos sobre quinze desafios propostos pelo Projeto Millenium, uma rede de futuristas e pesquisadores de diversas áreas do conhecimento, representado no Brasil pelo Núcleo de Estudos do Futuro da PUC-SP.

A outra brasileira premiada no concurso foi Maria do Rosário Gomes da Silva, na categoria Tomada de Decisões. Maria do Rosário venceu também, recentemente, o concurso "Uma Utopia para o Século 21",organizado pela Universidade do Porto, em Portugal, com a redação "Do outro lado do muro" (leia abaixo).

A participação de Aline ainda não foi confirmada por falta de recursos para pagar as despesas de viagem, dela e de um acompanhante. Mercado Ético convoca empresários e parceiros para ajudarem Aline a ajudar o mundo. Contatos pelo email mercadoetico@mercadoetico.com.br.
Células de Transformação

Desenvolvimento sustentável é o novo paradigma que torna possível a realização plena de toda a humanidade ao fornecer o básico para a realização da humanidade em cada um. Diante da conjuntura atual e das tendências para o futuro, é necessário que a sustentabilidade esteja presente nos mais variados contextos, acessível e possível a todos. Sob esse prisma um novo modelo de desenvolvimento deve perpetrar a sociedade ao apresentar e concretizar as soluções de problemas para os quais nosso atual modelo de desenvolvimento não tem respostas. Seriam pequenas sementes que plantadas nas falhas do asfalto originariam árvores. Seriam células de transformação.

Células

Células seriam "núcleos de desenvolvimento local e sustentabilidade", que aliariam as soluções nas esferas econômica, social e ambiental, não segmentando-as, e sim contemplando a ligação direta que possuem, pois os problemas de natureza ambiental são também de natureza social, econômica e política. Negligenciar um desses âmbitos inevitavelmente gera conseqüências danosas aos outros, ao passo que considerar a sustentabilidade em sua amplitude, apresenta como uma resposta efetiva aos mais variados problemas pelos quais o mundo atravessa.

Ao refletir sobre os vários significados da palavra célula, amplia-se o entendimento, e porque não a beleza, do que seriam as Células de Transformação:

• célula como "estrutura musical mínima, a partir da qual se faz uma composição", Célula como uma semente, um exemplo de sustentabilidade em pequena escala a partir do qual a sociedade poderá compor um novo paradigma, uma nova "melodia" a partir das primeiras "notas";

• célula como "grupo de pessoas com ideal e atuação afins", Célula como algo que depende da atuação de pessoas com ideais e propósitos semelhantes.

• célula como "unidade fundamental dos seres vivos", Célula como parte de um todo, uma sustentabilidade envolvente e integrada, que nasce inserida na sociedade e não externa a ela, floresce a partir do caos, sendo a Terra o grande ser vivo.

Enfim, as Células ganham o sentido de "parte que compõem o todo" abrangendo a ambigüidade do verbo (compor = fazer;construir), uma vez que o todo é composto de partes, e as partes constroem o todo, elas fazendo parte, fazem um novo todo.

Conjuntura atual e tendências para o futuro

Em escala global, a humanidade presencia o agravamento de inúmeros problemas como a degradação ambiental e as conseqüentes mudanças climáticas, a miséria, a violência, etc. Se nada for feito essa situação tende a piorar com, entre outros fatores, a crise energética, o aumento da ocorrência de catástrofes naturais e doenças causadas por vírus e bactérias com a elevação da temperatura e o crescimento da população em relação a produção de alimentos.

Nas raízes desta problemática está um modelo econômico que, desconsiderando as questões ambientais e sociais, destrói o equilíbrio necessário à vida de todas as espécies e coloca a humanidade em risco. Diante disto, para a construção de um verdadeiro desenvolvimento sustentável, o desenvolvimento econômico e a proteção ambiental, assim como o um sistema social equilibrado, são questões inseparáveis. Sob esta perspectiva e contexto mundial, "núcleos de desenvolvimento local e sustentabilidade" atuariam na solução de diversas questões e, mais do que isso, facilitando a transformação humana individual e coletivamente.

Núcleos de desenvolvimento local e sustentabilidade

Com o objetivo de difundir, educar, aplicar conceitos de sustentabilidade ambiental, social e econômica, núcleos de desenvolvimento poderiam ser implantados nas mais variadas partes do mundo e em diferentes contextos, seja em zonas urbanas, rurais ou de proteção ambiental,em meio a comunidades, vilas ou cidades, eles teriam um "alcance global, mas local em sua aplicação".

Inspirados no conceito de Ecovila, os Núcleos seriam incubadoras de desenvolvimento sustentável que atuariam divulgando tecnologias ambientalmente corretas e promovendo o desenvolvimento local. Diferentemente do conceito de Ecovila, que visa apenas garantir as próprias necessidades, realidade evidenciada pelo fato de muitas delas estarem localizadas em lugares isolados, os núcleos agregariam o entorno envolvendo-o: a medida que comprometidos e ligados com às demandas locais e às necessidades da comunidade a sua volta, se tornariam interessantes para a população local nos aspectos econômico, social, cultural e ambiental.

A sustentabilidade é um modelo que contempla as esferas econômica, social, cultural e ambiental, e sua aplicação varia de acordo com as necessidades locais abrangendo os mais variados âmbitos da vida em sociedade: Educação e cultura, saúde, produção de alimentos, saneamento básico, economia, administração, ecologia com relação a preservação do ambiente, energia, construção. Considerando o iminente aumento das ocorrências de catástrofes naturais, os núcleos teriam um papel fundamental na resposta para colapsos, pois estariam preparados para dar apoio após desastres, além de apresentar alternativas diante da desarticulação possível de cidades e do sistema produtivo com colapsos ambientais, uma vez que descentralizam a produção agrícola e energética e o tratamento de água e esgoto.

Tendo em vista possíveis entraves na concretização dos objetivos das Células, alguns conceitos e mecanismos, as chamadas "estratégias para a sustentabilidade", atuariam de forma a garantir a integridade na formação dos núcleos através da independência destes com relação a interesses não convergentes e questões locais de poder, da fiscalização mútua entre os envolvidos (Núcleo, Rede, Comunidade e Governo) e da cooperação entre as células. Entre essas estratégias está a formação de uma rede composta por diferentes profissionais capacitados para avaliar o desenvolvimento e a sustentabilidade dos núcleos e por representantes dos núcleos.

Essa rede fiscalizaria o processo e administraria os recursos financeiros (recebendo–os e os direcionando aos núcleos de acordo com as necessidades destes).

O processo de formação destas Células abrangeria duas etapas:

1. "GESTAÇÃO", na qual o núcleo está "crescendo", ou seja, envolvendo o entorno e construindo a sua sustentabilidade. Nesta primeira parte o núcleo receberia investimento através de uma rede.

2. A segunda etapa seria caracterizada pelo alcance da sustentabilidade, ou seja, ao término do prazo estabelecido previamente para o projeto, o núcleo não mais necessitaria de investimento externos, seja da REDE, que não mais o forneceria, ou de outras iniciativas, alcançando independência, cessando seu crescimento uma vez que teria envolvido já a comunidade. Neste ponto ele estaria consolidado, o núcleo e o entorno tendo atingido a sustentabilidade, formando juntos o que poderia ser chamado de Ecovila.

Enfim, para que a verdadeira sustentabilidade nasça é preciso não só a ecologia no sentido de proteção ambiental, mas também a ecologia humana, pois somente através do resgate do ser humano, a conscientização, a sua valorização como indivíduo e o atendimento a todas as suas necessidades essenciais à vida, que a humanidade deixará de destruir o ambiente, respeitando o delicado equilíbrio entre as mais variadas formas de vida. Quando os homens deixarem de se tratar como animais, talvez os animais deixem de ser tratados como coisas, e o planeta seja respeitado como um lar.

08 agosto 2007

"Um Pé de Quê?" volta ao canal Futura e torna-se "carbono neutro"
Da Redação Canal Futura

A apresentadoraRegina Casé exploraa flora brasileira

O "Um Pé de Quê?", programa apresentado por Regina Casé que mostra a diversidade da flora brasileira, volta à grade do Canal Futura nesta quarta-feira (1/8) com uma novidade: o programa tornou-se "carbono neutro". A produção do "Um Pé de Quê?" diz que "todas as emissões de carbono" geradas pela realização do programa em 2007 "serão neutralizadas com o plantio de árvores". Para marcar a reestréia da série que completa sete anos, a nova temporada começa com um episódio sobre o aquecimento global. No programa, Regina Casé analisa as características botânicas de uma planta e a partir daí as relaciona com passagens da história e da cultura brasileira como música, história, antropologia, culinária e paisagismo. Serão temas da nova temporada plantas como o Visgueiro, o "Rei das Matas Pernambucanas", e a Camélia, que se tornou símbolo da luta abolicionista. Um dos episódios inéditos comemorará os 70 anos do Parque Nacional de Itatiai, o primeiro criado no Brasil.

UM PÉ DE QUÊ? Onde: Canal Futura
Quando: quartas, a partir de 1º de agosto Horários: às 22h Reprises: quinta-feiras às 2h, sábados às 16:30h, domingos às 19h e segundas às 16h

04 agosto 2007

Strengthening Local Economies & Sustainable Communities
By WWI

Strong local economies are the foundation of strong communities that can grow and withstand the pressures of an increasingly urbanized world, according to State of the World 2007. And strong communities require a holistic approach that not only provides the traditional deliverables of economic development—jobs, income, wealth, and security—but also protects the environment, improves community infrastructure, increases and develops local skills and capacity, strengthens the social fabric, and respects heritage and cultural identity.

In many cities, towns, and villages, communities are drawing on the existing social capital to establish projects that improve their shared well-being. The rich array of local, community-based sustainable development efforts around the world is having a significant impact on energy use, ecological restoration, green building design, and improved social capital and civic participation. In State of the World 2008, Worldwatch Research Associate Erik Assadourian will assess the impacts these communities are having on building a sustainable world.

Poll: Eco-Community Living
What do you think is the most compelling motivation to live in an ecovillage or other type of sustainable community?

Reducing one's ecological footprint by living in a community that utilizes renewable energy sources, efficient building techniques, community gardens, or natural waste management.
Restoring a sense of community with fellow residents through shared activities and meals.
The reduced stress of returning to a simpler lifestyle.

The reduced cost of shared resources such as major appliances and cars.
None. I don't find the idea of living in an ecovillage compelling at all.
Other (leave a comment!)
Cast your vote on the Worldwatch Website.

Don't forget to read the diverse comments from members on our previous poll on population.

Ciência é essencial para combate à pobreza

Jornal O Globo, 24/7/2007

Um relatório da agência das Nações Unidas para o comércio e o desenvolvimento (Unctad), divulgado este mês, disse que não existe outro meio para ajudar os países mais pobres do que o investimento em ciência, tecnologia e inovação. Segundo a Unctad, as nações menos desenvolvidas estão aprisionadas numa espécie de armadilha tecnológica. O relatório destacou que existe pouco estímulo internacional ao desenvolvimento da ciência nos países pobres. E citou como exemplo o fato de apenas 4% do total dos empréstimos concedidos pelo Banco Mundial nos últimos 25 anos terem ido para a projetos de ciência e tecnologia.

O relatório recomenda que esse percentual seja, pelo menos, dobrado. A Unctad destaca ainda que as empresas dos países ricos não transferem tecnologia quando se instalam em nações mais pobres. Na África, empresas de mineração e petróleo são o exemplo mais gritante. A principal autora do estudo, Zelijka Kozul-Wright, disse que duas coisas são necessárias: (1) estimular a criação de uma base para o desenvolvimento científico, isto é, melhorar a educação; (2) aumentar o volume de investimentos na área de C&T. O relatório do Unctad diz que avanços na área têm sido registrados só na Ásia. Países como Camboja, Laos e Bangladesh aumentaram significativamente seus investimentos na criação de uma base científica.

02 agosto 2007

Qual é a sua idéia mais perigosa?

Por Ricardo Jordão Magalhães da BizRevolution
Quando você troca um produto por outro produto você termina com um produto. Quando você troca uma idéia por outra idéia você termina com duas idéias.

Querida(o) Amiga(o),

Inovação está na moda. "Se você não inovar e fizer diferente, você morre!" Que piada! Ninguém quebra por falta de inovação, as empresas quebram justamente porque inovam, arriscam, investem, ampliam suas instalações, compram outras empresas, fazem suas apostas no diferente, triplicam a linha de produtos, trocam os sistemas, colocam minhocas nas cabeças dos funcionários, enfim, inovam. A auto-escola onde eu tirei a minha primeira carteira de motorista vinte anos atrás ainda está lá, do mesmo tamanho com as mesmas pessoas fazendo as mesmas coisas do mesmo jeito. A única diferença está nos dois computadores que agora ocupam as duas mesas da recepção, fora isso, tudo igual. A empresa quebrou por não ter inovado? Não! Nem ela nem outras. Eu posso te apresentar dezenas de empresas que estão vivas da silva justamente porque não inovam, não fazem diferente, não mudam nada. Inovação QUEBRA, mesmice MANTÊM AS COISAS COMO ESTÃO.

Devemos então manter as coisas como estão? ARGH!!!! É contra nossa natureza fazer isso. É anti-humano. Nós, seres humanos, nascemos com um irresistível senso de missão que não nos deixa outra escolha a não ser, talvez, colocar em pratica idéias perigosas, mesmo sabendo que, talvez, ninguém nos escute.

Eu quero compartilhar com você as minhas idéias mais perigosas. Idéias que encontram resistências nas mentes medíocres. Idéias maiores que o mundo dos negócios, justamente porque o mundo dos negócios precisa crescer.

A minha primeira idéia mais perigosa é justamente expor as minhas idéias mais perigosas e convidá-lo a fazer o mesmo, no web site da BIZ ou na próxima reunião na sua empresa. Eu quero saber o quê de mais revolucionário passa pela sua cabeça. Como você mudaria o mundo se pudesse. O que você está perdendo? Como seriam as coisas "Se você?", Como você gostaria de investir o tempo da sua vida de segunda a sexta-feira das 8:00 as 18:00hs? O que o seu chefe faz de mais estúpido? Suponha que o seu adversário esteja certo, e aí? Suponha que você possa substituir todo o governo brasileiro, quem você colocaria no lugar?

Eu tenho uma receita para tirar o Brasil da Idade Média e colocá-lo na Idade Moderna. Eu tenho uma receita para a renascença brasileira: jantar em restaurante de bairro, andar de metrô, plantar uma árvore na frente de casa, fazer compras no centro da cidade, computador de 100 reais com internet wireless de 10 reais para todos, viver em uma cidade onde você e seus filhos possam andar na rua a qualquer hora do dia e da noite.

As minhas idéias mais perigosas que compõem a receita do renascimento são:

1a Idéia Mais Perigosa: Soltar todos os presos de todas as prisões brasileiras, planejar a sua reintegração a sociedade, transformá-los em cidadãos de bem que já são. Soltar todos os presos das cadeias com exceção dos assassinos, estrupradores e culpados de maltratos a crianças. Nós precisamos de brasileiros para trabalhar! Existem estradas, escolas, aeroportos, cidades inteiras para construir. Nós precisamos da energia e participação de todos os brasileiros para construir o Brasil solidário que sonhamos para os nossos filhos. Solta todo mundo! O que estamos fazendo é um genocídio dos pobres e miseráveis que tiveram poucas ou nenhuma chance na vida. A sociedade economiza mais com os presos soltos do que encarcerados. Cada preso custa a sociedade mais de R$ 1.500 reais por mês. Além disso, eu sinceramente não vejo diferença alguma entre o fernandinho beira mar e um executivo da Ambev. Bebida álccolica mata mais do que drogas. O álcool é responsável por 60% dos acidentes de trânsito e 70% das mortes violentas. 11,2% dos brasileiros tem problemas com alcoolismo e a televisão continua a estimular o consumo como se cerveja fosse água. Quem acredita que a Juliana Paes, com aquele corpinho maravilhoso, bebe cerveja?

2a Idéia Mais Perigosa: Música, empreendedorismo, artes, ética, teatro, literatura, filosofia, fotografia, educação física e educação sexual serão matérias escolares que terão o mesmo peso que matemática, física, química e biologia nas escolas primárias e vestibulares para faculdade. Nós precisamos de brasileiros extremamente criativos, corajosos e empreendedores no presente e futuro. Nós precisamos de brasileiros verdadeiramente humanos e éticos. Nós precisamos de brasileiros sem nenhum preconceitos sobre nada. Somente os esportes e artes conseguem ensinar as crianças a admirar um escritor judeu e um escritor mulçumano. Somente as artes conseguem ensinar tolerância. Chega de gente quadrada com visão matemática míope das coisas. As nossas crianças precisam adorar as escolas que frequentam. As nossas crianças não são gado nem rebanho para aprender a decorar, fazer conta. Que tipo de brasileiro queremos formar para o século 21?

3a Idéia Mais Perigosa: Desmantelar todos os muros que cercam todas as casas de todas as cidades do Brasil, e transformar os seus tijolos em casas próprias. A verba do governo para construir casas e tirar o brasileiro da favela é de R$ 14 bilhões de reais. Ainda assim, vai faltar muito dinheiro para construir 7,9 milhões de residências para os brasileiros que vivem abaixo de uma condição razovável para a vida humana prosperar. Com os tijolos de todos os muros, eu tenho certeza que vamos conseguir construir milhões de residências dignas para morar.

4a Idéia Mais Perigosa. Criação de um fundo de ajuda financeira e moral para aqueles que estão desempregados na rua em que você mora. Todas as ruas - que quiserem - de todas as cidades brasileiras terão um fundo desses, onde as famílias que moram na rua contribuem em tempos de vacas gordas, e funciona como auxílio quando uma das famílias precisar. Mas não basta dar dinheiro, os moradores devem contribuir intelectualmente nas reuniões e eventos coordenados pelos próprios moradores da comunidade. Quando alguém estiver em dificuldades, deve ser ajudado por todos. Uma das maiores doenças do mundo moderno chama-se solidão. Solidão mata. Isolamento mata. Todos devem sentir que serão amparados, acalentados e encorajados a se erguerem quando cairem. Todos caem, sem exceção.

5a Idéia Mais Perigosa: O fim de todos os impostos federais. O cidadão deve pagar impostos apenas para a região onde mora. Por que pagar impostos federais se no final das contas serão repassados para o governo estadual e municipal? Por que mandar o dinheiro para longe se no final temos que arrumar a casa? A prática do repasse de impostos federais para o governo estadual que repassa para os municípios é uma tremenda oportunidade para os malandros roubarem. É impunidade certa. Corrupção na cabeça! Se eu tenho que pagar impostos que seja para a subprefeitura que comanda a periferia onde eu moro. É mais facil controlar, mais fácil administrar, mais fácil saber para onde foi o dinheiro dos meus impostos. Não precisamos de tanta gente em Brasilia para dizer onde o dinheiro deve ser investido. Quem está no front da guerra sabe onde o dinheiro tem que ser investido.

6a Idéia Mais Perigosa: Convocação imediata de todos os brasileiros que desejarem ter uma segunda carreira na vida. Vamos recapacitar imediatamente um mínimo de 30 milhões de brasileiros que nesse momento estão completamente desqualificados para trabalhar no século 21, o século da criatividade e do cérebro. Aprendizado imediato sobre as áreas que terão campo de trabalho para os próximos 20 anos. Os profissionais requalificados poderão trabalhar em diferentes mutirões de construção de um Brasil melhor para todos.

7a Idéia Mais Perigosa: Consumir sempre que possível produtos e serviços da sua própria cidade. Comprar frutas, legumes e vegetais da fazenda mais próxima de você. O transporte de produtos e serviços é um dos grandes causadores do aquecimento global. Por que consumir uma água envasada a 400 quilômetros de distância da sua cidade se você poderia consumir água da sua própria torneira? Escolha sempre que possível comprar da vendinha do Zé ao invés de comprar produtos de uma rede multinacional. Teoricamente os pequenos não tem praticamente nenhuma desvantagem com relação aos grandes. Se o problema for preço, compare os preços dos produtos do Supermercado do Zé com os preços dos supermercados da rede do Pão de Açucar ou mesmo Wal-Mart. Eu tenho certeza que você vai perceber que os preços do Zé são mais econômicos. Os pequenos tem mais serviços a oferecer, mais velocidade, mais personalização e customização no atendimento. Dê preferência ao restaurante do bairro, ao supermercado do bairro, a banca de jornal do bairro, a rede de serviços do bairro. Todo mundo sai ganhando.

8a Idéia Mais Perigosa: Torne-se um e-empresário comece um e-business. Pare de vender bugigangas às escondidas nos banheiros do escritório da empresa em que você trabalha (qualquer dia desses é JUSTA CAUSA!). Você não precisa de grandes escritórios, gestão de estoques, sistemas caríssimos de tecnologia e MBAs para ter um e-business. Existem centenas de oportunidades na internet para aqueles que tem disposição para tocar um negócio e colocar o melhor de si para funcionar: o cérebro. E-business não é grátis, mas os investimentos envolvidos são muito menores do que o negócio convencional. Deixe-me apresentar a você algumas idéias de e-business que você pode começar AGORA: loja de varejo de qualquer coisa, você não precisa de estoques, você precisa criar um bom relacionamento com distribuidores que tenham um ótimo sistema de logística para trabalhar para você; agência de web design, você não precisa de dezenas de computadores Apple e um endereço engomadinho na Vila Olímpia, você precisa criar um bom relacionamento com uma ampla rede de web designers que trabalham em suas próprias casas espalhados por todo o Brasil; consultoria de qualquer coisa, você não precisa investir milhões no desenvolvimento de profissionais caríssimos, você precisa caçar os profissionais experientes que estão espalhados na rede e montar a sua estrutura virtual; web site especialista em resolver um determinado problema, você não precisa dizer que faz tudo para todos, você precisa se aprofundar em uma única solução que resolve um único problema para um determinado tipo de público; educação, você não precisa de salas de aula com cadeiras de 200 reais, equipadas com projetores de última geração, você precisa apenas de salas virtuais na web e 200 reais para começar a sua maneira única de resolver algum problema.

"Quando eu examino a mim mesmo e a minha maneira de pensar, eu chego a conclusão que o dom da fantasia significou mais para mim do que o meu talento para absorver conhecimento." Disse Albert Einstein, um dos maiores gênios da física em todos os tempos, criador da Teoria da Relatividade, ganhador do Prêmio Nobel de Física, dono de um QI estimado em 240, matemático, engenheiro, racional, "Novas e revolucionárias idéias sempre encontrarão resistência por parte de mentes medíocres", fecha Einstein em 1953.

Se o ser mais racional de todos os tempos, acredita em idéias irracionais e fantasiosas, o que você está esperando para começar a acreditar?

QUEBRA TUDO! Foi para isso que eu vim! E Você?

Ricardo Jordão Magalhães, ricardom@bizrevolution.com.br

O papel das empresas, decisivo para o bem e para o mal

José Eli da Veiga, para o Valor Econômico

Sobre o livro "Os Desafios da Sustentabilidade" - De Fernando Almeida, Ed. Campus/Elsevier, 304 págs.


É no papel dos empreendimentos empresariais que se concentra este novo livro de Fernando Almeida, embora seu público-alvo esteja longe de se restringir ao mundo corporativo. Foca o segmento empresarial porque acredita que é nas empresas que está a essência do poder no mundo contemporâneo e, portanto, a maior responsabilidade pelos rumos que poderão se impor.

Será um erro, porém, se as livrarias colocarem este livro nas prateleiras reservadas a auto-ajuda empresarial. Principalmente porque o autor conseguiu a proeza de evitar todas as limitações desse tipo de escrita ao se propor discutir a crucial contribuição do setor privado para a crescente insustentabilidade dos processos de crescimento econômico e de desenvolvimento.

Não é livro de "abobrinhas", como muitos daqueles que abusam das boas receitas normativas para vender a idéia de que uma empresa pode se tornar sustentável caso seus dirigentes aceitem os conselhos do autor. Na verdade, ótimas dicas desse tipo até podem ser encontradas na segunda parte, e principalmente no sexto capítulo, no qual se faz um primoroso balanço dos oito mais importantes instrumentos já criados para que a noção de sustentabilidade possa ser inserida no cotidiano das empresas: ISO 14000, Índice Dow Jones de Sustentabilidade (IDJS), diretrizes da OCDE, "Global Compact", "Global Reporting Initiative (GRI)", norma AA1000 com comitês de garantia independentes, norma AS 8000 da "Social Accountability International (SAI)", e até a lei americana Sarbannes-Oxley. Todavia, a abordagem é muito mais ampla e profunda.

Antes de tomar contato com tais instrumentos, e de poder relacioná-los com a transparência, com o engajamento dos "stakeholders", com inovações tecnológicas e sociais, ou com as finanças, na primeira parte o leitor já foi confrontado com a urgência da questão. Foi-lhe apresentado o largo inventário do conhecimento disponível sobre a degradação ambiental que resultou da Avaliação Ecossistêmica do Milênio, a mais nobre iniciativa do anterior secretário-geral da ONU, Kofi Annan, e de cuja execução Fernando Almeida teve o privilégio de participar como membro do conselho diretor. Nesses primeiros quatro capítulos se encontra um panorama, que não poderia ser mais completo, do comportamento dos sistemas naturais e também da influência que a Avaliação Ecossistêmica acabou tendo sobre a formulação dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio.

Depois, na terceira parte, surge a principal contribuição do livro para o debate sobre a própria exeqüibilidade do desenvolvimento sustentável. Aí o autor pergunta por que tal noção ainda se mantém enclausurada numa elite intelectual. E rejeita liminarmente a hipótese de que o grande arco de interesses contrariados seja razão suficiente para explicar tal isolamento. Em vez disso, acha que estão nas dificuldades conceituais do desenvolvimento sustentável, em seu ineditismo, e em sua transversalidade, os obstáculos à geração de indispensável massa crítica de líderes - uma tese que merece ser levada muito a sério, principalmente quando exposta por um engenheiro cujos 32 anos de dedicação integral ao tema do meio ambiente o legitimam na presidência-executiva do CEBDS - Conselho Empresarial para o Desenvolvimento Sustentável. Uma organização que está, desde 1997, na vanguarda da luta pela conservação da base material de qualquer possibilidade de aumento das liberdades humanas.

Outra grande qualidade do novo livro desse professor da UFRJ (Politécnica e Coppe), que também esteve presidente da Feema-RJ (Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente), está na maneira de relatar dezenas de casos, dos quais os mais saborosos nem sempre são róseos. Ao abordar o tema das finanças, por exemplo, conta que o Banco Mundial concedeu grande empréstimo a destacada firma do agronegócio brasileiro, mas só no meio da execução do projeto é que percebeu que ela simplesmente destruíra uma área de preservação permanente. A liberação das demais parcelas passou a ser então condicionada à efetiva reparação do crime. No entanto, em vez de atender à exigência do Bird, a empresa propôs uma parceria de operação financeira ao Banco Real, sem revelar a destruição da reserva florestal. Conseguiu, assim, vender debêntures ao banco, mediante apresentação de excelente dossiê financeiro. O dinheiro liberado pelo Banco Real seria usado para saldar a dívida com o Banco Mundial e para expandir a plantação na área devastada se - por sorte, diz Almeida - o Real não tivesse sido alertado a tempo sobre a manobra pela ONG Amigos da Terra. A situação foi revertida com oferta de ajuda ao infrator, para que viabilizasse seu negócio com o reflorestamento da área. Só falta mesmo é dar nome a todos os bois.

Esse e outros casos mostram que serão necessários muitíssimos mais "amigos da terra" - além de muitíssima mais sorte - para que saiam do papel os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio. Afinal, as três metas essenciais do penúltimo desses objetivos, que visa "garantir a sustentabilidade ambiental", pretendem conseguir: a inversão da tendência atual de perda de recursos naturais, a redução pela metade da proporção da população sem acesso permanente à água (até 2015) e considerável melhora da vida de pelo menos 100 milhões de habitantes de áreas degradadas (até 2020). Como enfatiza o próprio título do livro, são desafios que exigem urgente ruptura.

Em suma, trata-se de leitura recomendável não apenas aos que já trabalham, seja no privado, no público, ou no terceiro setor, mas particularmente aos estudantes de todos os quadrantes. Quem tomar contato com esse livro terá formidável oportunidade de entender, em termos bem concretos, o que está impedindo que sejam sustentáveis os processos de desenvolvimento.

José Eli da Veiga é professor titular do departamento de economia da FEA/USP e coordenador de seu Núcleo de Economia Socioambiental. ( www.zeeli.pro.br )

Corrida das cidades digitais agita o mercado de redes

Valor Econômico,
André Borges e Talita Moreira
02/08/2007

A praça central de Santa Cecília do Pavão não difere muito daquelas encontradas em qualquer cidadezinha do país. Lá está a igreja - nesse caso, de Santa Cecília, rebatizada pelas águas do rio Pavão, que banha o município. Lá estão as pombas empoleiradas nos bancos, as mesas de jogo de dama, alguns aposentados, o coreto abandonado. Mas, nos próximos dias, essa paisagem vai mudar.


Uma torre de vidro está pronta para ser instalada no meio da praça. Dentro dela, uma rede de computadores estará à disposição para que a população ceciliense possa, finalmente, navegar na tal internet. "Será nosso coreto digital", diz o prefeito Edimar Santos (PTB-PR).


O prefeito de Santa Cecília tem internet em casa. Não tinha quando chegou à cidade para trabalhar como agente funerário, nos anos 90. Mas Santos progrediu rápido, ganhou popularidade, montou o grupo Santos, sua empresa do ramo funerário, e foi escolhido para governar a cidade.


Diferentemente do prefeito, o município não cresceu tanto. Por muito tempo, internet continuou a ser tema incomum no cotidiano dos 5 mil habitantes de Santa Cecília do Pavão, município 362 quilômetros ao norte de Curitiba. De base agrícola e com renda per capita de R$ 162, a cidade fica escondida entre montanhas, longe de grandes centros, numa área em que os cabos de telefonia não oferecem banda larga. Não há provedor local de internet. "Se alguém quisesse acessar a rede, tinha de fazer um interurbano", diz Santos.


Mas há dois meses a prefeitura fechou um projeto para cobrir a cidade com uma rede sem fio. Participaram da iniciativa a Universidade Tecnológica Federal do Paraná, o Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro) e a D-Link, fabricante de equipamentos de rede. Rádios de comunicação WiFi foram instalados no município, interligando a prefeitura a demais órgãos públicos, como biblioteca, posto de saúde e escolas. Uma antena de alta capacidade foi montada sob uma montanha e direcionada para outra, a 60 quilômetros dali, em Londrina. A prefeitura abriu o sinal para a população.


Santa Cecília descobriu a internet. "Cerca de 250 casas já têm computador", comemora Santos. Agora, o projeto será estendido com a criação desse telecentro na praça central, para conectar os cidadãos que não têm condições de adquirir um PC. Além de incentivar a inclusão digital, a prefeitura reduziu custos. A conta telefônica municipal chegava a R$ 27 mil por mês. Com o uso da web para trafegar voz (tecnologia chamada de voz sobre protocolo de internet), a despesa caiu para algo em torno de R$ 2 mil. "Mantemos a rede WiFi funcionando com R$ 680 por mês", afirma Santos.


Histórias assim têm se espalhado com rapidez pelo Brasil. Nos últimos anos, cidades pequenas, que estão fora das áreas "iluminadas" por cabos de fibra óptica passaram a ver nas tecnologias de comunicação sem fio uma forma de reduzir a exclusão digital e, principalmente, eliminar gastos. Esse processo intensificou-se em 2007.


Embora a maioria dos projetos ainda se encontre em fase experimental, a movimentação já é suficiente para mexer com os negócios dos fornecedores de equipamentos. A Nortel, que começou a olhar para esse mercado no ano passado, tem capacitado parceiros para testes em municípios de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, diz o gerente sênior da área de desenvolvimento de negócios de WiMax, Cláudio Falcone. "É um mercado grande, e hoje ainda há centenas de municípios que sequer têm acesso à internet discada."


Não há números oficiais sobre quantos municípios têm executado projetos similares ao de Santa Cecília do Pavão. Segundo o Ministério das Comunicações, 3,3 mil cidades do país já têm em funcionamento pelo menos um telecentro, local público de acesso gratuito à internet. No próximo mês, o governo deve lançar uma licitação para contratar novos links de satélite para expandir sua rede. O contrato deverá atingir R$ 200 milhões por ano. As iniciativas federais, no entanto, muitas vezes correm descoladas de projetos tocados por municípios. Nesta esfera, empresas do setor procuram patrocinar casos que demonstrem a viabilidade de suas tecnologias, na prática.


Em Santa Cecília, a D-Link forneceu os rádios de comunicação. Já em Ouro Preto (MG), o projeto teve apoio da Intel. A Motorola, que participou da iniciativa de Macaé (RJ), também tem ofertado equipamentos para degustação. "Há um senso de urgência muito alto no mercado", diz Eduardo Stefano, vice-presidente de redes corporativas da companhia. Cidades como Sud Mennucci (SP), Piraí (RJ), Parintins (AM) e Tiradentes (MG) são outros exemplos.


"São projetos pequenos, apenas uma forma de demonstração da nossa capacidade", comenta o diretor comercial da Alcatel-Lucent, José Vasques, ao se referir à rede que a companhia inaugurou recentemente em Visconde de Mauá (RJ). "Agora estamos partindo para outros casos de maior porte."


Não são apenas os fabricantes de equipamentos que estão de olho no mercado de comunicação sem fio. As operadoras de telefonia fixa, embora resistentes a falar sobre o assunto, não estão paradas. "As teles começaram a ver esses projetos acontecerem embaixo do nariz delas e agora decidiram agir", diz o gerente comercial da divisão de governo da D-Link, Fred Maynart. "Hoje só a Telefônica tem mais de 20 gerentes nas ruas só para bater na porta das prefeituras."


A Telefônica foi procurada para comentar o assunto, mas não deu resposta. A Brasil Telecom não quis falar sobre o tema. A Oi, por meio de nota, afirmou que "a expansão da oferta de banda larga traz benefícios inquestionáveis", mas a implantação de projetos como o das cidades digitais "demanda investimentos que vão além da aquisição de equipamentos" para redes municipais. Uma saída para a sustentação das iniciativas, segundo a operadora, seriam as parcerias público-privadas.


As discussões sobre a viabilidade dos projetos também passam pelo aspecto da tecnologia. Há experiências em que as redes WiFi, originalmente usadas em ambientes internos, como aeroportos, têm se mostrado mais viáveis em projetos nos quais a área de cobertura não é tão extensa. Em outras situações, a escolha pende para o chamado WiMax, padrão de maior alcance que o WiFi, porém mais caro. Uma terceira via ainda pode ser o WiMesh, tecnologia usada na cidade mineira de Tiradentes que faz uso de várias antenas instaladas em diferentes pontos para ampliar sua capacidade de transmissão.


Para o prefeito de Santa Cecília do Pavão, Edimar Santos, os meandros tecnológicos são irrelevantes. "O importante é que, agora, se alguém sentar na praça da cidade com um notebook no colo poderá navegar pelo mundo."

01 agosto 2007

É preciso politizar o consumo

As palavras mais recentes de Ladislau Dowbor, presente ao ciclo de palestras do curso de Jornalismo de Políticas Públicas Sociais, uma realização do NETCCON.ECO.UFRJ e da ANDI.

É preciso politizar o consumo, diz o especialista Ladislau Dowbor

Por Julia Dietrich, do Aprendiz

"No século passado quem dominava os meios de produção, controlava a sociedade. Hoje, domina quem possui o conhecimento e o controle da informação". A afirmação partiu do professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Ladislau Dowbor, em mesa comemorativa aos 20 anos do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), que aconteceu em São Paulo.

Para ele, a questão de consumo está diretamente associada ao poder midiático das empresas. "Não se produz mais em função de necessidades e sim em função dos interesses do próprio produtor", disse.

"Colonizar nossa cabeça está de graça. Por 30 segundos na televisão, a Nike paga U$ 50 mil. É muito barato. Para piorar a situação, segundo uma pesquisadora norte-americana, uma criança passa a ser consumidora potencial a partir dos três meses de idade. Quem controla tudo isso?", completou.

A pesquisadora da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), Fátima Portilho, que também participou do encontro, explicou que a partir da década de 1990 implementou-se a idéia catastrófica do consumo. "Consumir passou a ser considerado socialmente injusto, moralmente indesejável e ambientalmente insustentável".

Segundo a palestrante, tal construção foi produzida por Estados e empresas para transferir para o consumidor toda a responsabilidade sobre os impactos do consumo. "Antes tidos como alienados, os consumidores passaram a ser vistos como atores sociais culpados, responsáveis pelo impacto do consumo em grupos sociais e ecossistemas", lembrou.

Mesmo sendo colocados como os culpados pelas conseqüências negativas do consumo desenfreado, os consumidores não passaram a comprar menos. Para Portilho as pessoas são reféns dos bens de consumo, pois sem eles não é possível construir uma identidade. "Formou-se uma dicotomia". Os indivíduos passaram a precisar consumir menos para poupar o globo, ao mesmo tempo que precisavam consumir para pertencer a algum grupo.

Para resolver o dilema, Dowbor é entusiasta de licenças como a creative commons (licenças padronizadas para gestão aberta, livre e compartilhada de conteúdos e informação). "É necessário pensar em alternativas como o consumo coletivo, mediado por outras estruturas. Entre elas, o Estado e instituições como o Idec", explicou.

Possivelmente o consumo verde ou sustentável seria outra saída, mas antes é preciso romper com fortes interesses comerciais. "É muito mais barato pagar US$2 por barril de petróleo da Arábia Saudita e vendê-lo por US$70 do que investir em outras tecnologias. Enquanto isso, o planeta acaba", apontou Dowbor.

Como maior motivador para uma mudança, Dowbor lembrou que quatro bilhões de pessoas não participam dos benefícios da globalização e que a tragédia mundial da concentração de renda e concentração de riqueza familiar só tendem a se agravar. "Não há viabilidade desse padrão de consumo em escala planetária", apontou.

"Não devemos mais pensar só na Agenda 21, devemos pensar em uma agenda de cozinha. Ou seja, politizar a esfera privada da mesa da cozinha de cada cidadão", disse Portilho. "Consumir é participar de cenários de disputas por aquilo que a sociedade produz nos moldes que a sociedade produz. Consumir não é uma atividade neutra. Ao formular e reivindicar uma insatisfação privada, ela se torna pública".

Para ela, os movimentos consumidores podem ser revolucionários a partir de uma nova energia utópica e não só como agentes de resistência. "Devemos pensar nas ações de boicote, redes de consumidores, consumo solidário, ético e responsável e realmente nos questionarmos sobre o potencial transformador do próprio consumo", argumentou. "Consumo e cidadania podem ser vistos de forma conjunta e inseparável, pois ambos dão sentido de pertencimento e coletividade. Uma vez consumidores, sejamos consumidores da oposição", concluiu.

(Envolverde/Aprendiz)

30 julho 2007

YouTube acadêmico
30/07/2007

Por Thiago Romero
Agência FAPESP – Uma nova plataforma de gerenciamento e transmissão de vídeos, desenvolvida pela equipe do Laboratório de Arquitetura e Redes de Computadores (Larc) da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), foi implantada na Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP).

A ferramenta, chamada de Vídeo@RNP, permite a distribuição gratuita de vídeos sobre atividades de ensino e pesquisa realizadas em todo o país. Os conteúdos multimídias podem ser inseridos e acessados pela internet a partir de ferramentas de armazenamento, busca, indexação e transmissão.

Antes de criar a plataforma, os pesquisadores envolvidos com o projeto fizeram um levantamento dos vídeos acadêmicos disponíveis na internet. “Em uma vista rápida a sites como o YouTube, é possível encontrar alunos de universidades brasileiras mostrando seus experimentos em laboratório”, disse Regina Melo Silveira, coordenadora do Grupo de Trabalho de Gerência de Vídeo (GTGV) do Larc e responsável pelo desenvolvimento da plataforma, à Agência FAPESP.

“Esse tipo de vídeo não é produzido por diversão e sim para demonstrar resultados de pesquisas. Por isso, resolvemos criar uma ferramenta específica para tal tipo de divulgação”, explicou a professora, destacando que o Vídeo@RNP foi inicialmente concebido para suprir as necessidades do setor acadêmico.

“Mas, até o fim do ano, pretendemos distribuí-lo como software livre para que fique à disposição e seja personalizado por qualquer instituição de ensino e pesquisa no país, pública ou privada”, disse Regina.

Ao se cadastrar no sistema atual, que disponibiliza vídeos como palestras e documentários, além de permitir a transmissão ao vivo de eventos, o usuário pode personalizar um ambiente de acordo com suas necessidades. O sistema é dividido basicamente em vídeos públicos, que podem ser vistos por qualquer usuário, e vídeos privados, restritos a comunidades específicas de usuários cadastrados.

“Imagine um grupo de pesquisas em medicina que tem vídeos de operações médicas que não podem ser divulgados abertamente, por exemplo. Esses vídeos ficam em um ambiente voltado às pessoas que integram o grupo”, explicou Regina.

Segundo a coordenadora do GTGV, o cadastramento de vídeos na plataforma é controlado. “Apesar de todos os vídeos poderem ser visualizados livremente, a RNP está em fase de criação de uma política de controle para a inserção dos vídeos na plataforma.”

Ao todo, sete servidores estão disponíveis para gerenciar a distribuição dos vídeos e, segundo ela, a RNP deverá expandir essa infra-estrutura para mais de 20 servidores, “de modo que todos os pontos de presença da rede espalhados pelo território nacional tenham pelo menos um servidor de vídeo para essa finalidade”.

O projeto dos servidores de transmissão é conduzido em parceria com docentes da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). O Vídeo@RNP também deverá ser personalizado, nos próximos meses, para o portal da USP, onde serão armazenados vídeos do acervo científico, educacional, cultural e histórico da universidade.

Mais informações: http://video.rnp.br

23 julho 2007

Pode a Agricultura Biológica Alimentar o Mundo?

Apesar do seu crescimento, os investigadores ligados à Agricultura Biológica indicam que é possível alimentar a população mundial prevista em 2020 sem recorrer aos agroquímicos nem às manipulações genéticas.

Angeles Parra, Secretária-Geral da VIDA SANA

O facto é que, hoje, 800 milhões de pessoas estão subnutridas e muitas morrem apesar da chamada "Revolução Verde" e da tremenda utilização de agroquímicos nestes últimos 40 anos. As indústrias químicas e outras - maquinaria, construção, indústria petrolífera - que tanto enriqueceram durante este período, asseguraram-nos que os adubos, pesticidas e outros produtos fitossanitários acabariam com a fome mundial. Não há muito tempo que Henry Kissinger ainda prometia acabar com este flagelo em 10 anos.

O problema da fome não se resolve com receitas tecnológicas. Até o próprio Banco Mundial, que deu um grande impulso à "Revolução Verde", reconhece que o problema é de partilha, de acesso à terra e às sementes, e não de escassez. Mas a verdadeira causa da fome é que há muitas pessoas que não têm onde produzir os seus alimentos, nem têm dinheiro para comprá-los. Na realidade, a produção de alimentos a nível mundial é superior às necessidades e para bastantes países o problema é de superprodução. Todos os anos são queimadas ou enterradas milhões de toneladas de frutas, hortaliças, cereais e outros alimentos por questões de especulação de mercado (entre outros motivos, pois custa mais caro armazená-los ou transportá-los).

Um movimento cívico

Por todo o mundo, somos muitos os que trabalham para que chegue o dia em que a extensão da Agricultura Biológica faça dos pesticidas e dos fertilizantes de síntese uma coisa do passado.

Nos anos sessenta e setenta, os agricultores biológicos eram tidos como loucos ou, pelo menos, como sonhadores. Mas, hoje, muitos sonhos tornaram-se realidade. O desenvolvimento da Agricultura Biológica é um triunfo das pessoas comuns. É uma prova de que não são só os grandes industriais e os governos a mudar as coisas impor-tantes. Sem campanhas publicitárias, sem subvenções nem apoios, contra a opinião da maioria dos especialistas e dos funcionários, e apesar dos abusos do grande negócio agro-alimentar, a Agricultura Biológica teve de ser reconhecida a todos os níveis, desde o plano sanitário ao energético. Este é o poder dos cidadãos enquanto consumidores, e é possível graças à lógica evidente da proposta biológica.

Novas ameaças que impedem o seu desenvolvimento

O movimento biológico, em conjunto com os ecologistas e outros grupos cívicos, encara hoje mais um grave problema: a manipulação genética, que multiplica os problemas dos pesticidas já existentes e nos leva para uma nova dimensão de risco global. Na sua propaganda, assistimos às mesmas promessas não cumpridas de acabar com a fome no mundo quando a agroquímica foi introduzida em larga escala.

Por várias razões, devemos rejeitar a manipulação genética: é perigosa e absolutamente desnecessária para a produção e elaboração de alimentos, e além disso não é económica (o que não significa que as grandes multinacionais não aufiram daí grandes benefícios).Tem ainda menos sentido no caso da produção biológica e, sem grandes complicações, as multinacionais tentaram a autorização desta tecnologia nos Estados Unidos pelas normas biológicas.

Outra manipulação é a promoção de tipos de agricultura "menos agressiva", como a Protecção Integrada ou "agriculturas sustentáveis", que confundem o consumidor com denominações que não se referem a características objectivas e, ao mesmo tempo, apresentam falsas alternativas para continuar a utilizar (segundo dizem, racionalmente) pesticidas, adubos e todo o tipo de produtos de síntese, de manipulação genética, etc.


A Agricultura Biológica ganha terreno

Na Alemanha, onde estão sediadas algumas das maiores multinacionais da agroquímica, e com as pressões que isso implica, existem actualmente mais de 8.000 agricultores biológicos. No estado de Mecklemburg-Vorpomern, 10% da terra já se cultiva em Agricultura Biológica. Outros governos regionais propuseram-se alcançar também esses 10%, a curto prazo. Não obstante, com apenas 2% do total em produção biológica, a Alemanha perdeu os lugares da frente que manteve durante anos.

Alguns países vizinhos conheceram um verdadeiro boom. Na Suíça, 7% do total da agricultura é biológica e em algumas zonas, como Graubünden, a maior região do país, alcança-se os 30%.

A Áustria tem mais de 20.000 agricultores biológicos, cerca de 10% do total. A Suécia e a Finlândia ultrapassaram as percentagens da Suíça e aproximam-se agora da Áustria. E as últimas cifras vindas de Itália indicam 18.000 agricultores biológicos em fase de conversão.

A Espanha passou de 4.235 ha em 1991 para 152.100 em 1997. Em apenas 7 anos, a superfície dedicada às culturas biológicas aumentou 35 vezes.

Também nos países do Sul está a haver um importante crescimento. Um projecto de produção biológica de algodão que começou há três anos, no Uganda, com apenas duzentos agricultores, inclui hoje mais de 7.000. No México, 10.000 camponeses produzem café biológico para exportação, assim como outros produtos biológicos para consumo local. A cooperativa mexicana UCIRI coordena cerca de 7.000 agricultores em mais de 30 povoados, o que significa a conversão de toda a zona à Agricultura Biológica.

Em Cuba, temos o exemplo de como um país inteiro pode proporcionar à sua população uma alimentação de confiança, seguindo os métodos da Agricultura Biológica. Com o bloqueio dos Estados Unidos e a queda da URSS, o governo viu-se obrigado a optar por uma agricultura de auto-suficiência. Iniciou-se na prática da Agricultura Biológica, tendo este país, actualmente, quase 2 milhões de hectares em produção biológica, tanto como o conjunto dos países europeus.

O boom biológico no mercado

O desenvolvimento do mercado e a procura por parte dos consumidores são paralelos ao rápido aumento da conversão ao método biológico. O mercado nos Estados Unidos é da ordem dos 3 biliões de dólares, prevendo-se a sua duplicação nos próximos dois ou três anos. Na Alemanha, todo o sector de alimentos para crianças encontra-se já em conversão ao biológico. Em Munique, mais de 30% do pão é elaborado com ingredientes biológicos certificados.

Na Dinamarca, a Agricultura Biológica pode atingir os 100% no ano 2010. O governo dinamarquês iniciou um estudo de viabilidade da Agricultura Biológica, considerando também aspectos legais, laborais, económicos, sanitários e agronómicos. O grupo de especialistas que levará a cabo este trabalho terá apresentado as suas conclusões até ao final de 1998.
É surpreendente como, inclusivamente num país como o Egipto, a produção biológica assume já tanta importância. O projecto SEKEM, que emprega cerca de 1.000 pessoas, distribui produtos biodinâmicos a 6.000 farmácias e a 1.200 estabelecimentos. Num país de amantes de chá, aquele que é mais vendido é de produção biológica.

Este crescimento não é um luxo dos países desenvolvidos. Os mercados locais de produtos biológicos estão também a instalar-se em países do Terceiro Mundo. Neste contexto, é de extrema importância a cooperação entre a Agricultura Biológica e o movimento por um comércio justo.

O sector biológico é um dos que revela maior crescimento a nível mundial no que refere à alimentação. Alguns analistas de mercado, como o professor Ulrich Hamm calculam taxas de crescimento anual de 20 a 30% e inclusivamente de 50% em alguns países. O maior distribuidor de produtos biológicos do Reino Unido espera que os actuais 11 biliões em que se calcula o comércio mundial destes produtos alcance os 100 biliões nos próximos 10 anos, sendo os Estados Unidos e Japão os países com maior crescimento.

FONTE:http://www.naturlink.pt - 23.07.07

22 julho 2007

Janeiro 24, 2006
A vingança de Gaia

Por James Lovelock*

*James Lovelock é um dos mais renomados cientistas ambientais do mundo e membro da Royal Society, do Reino Unido. Ele diz que o efeito estufa chegou a um ponto sem retorno e que "bilhões" morrerão neste século.

ESPECIAL PARA O "INDEPENDENT"

Imagine uma jovem policial que se sente totalmente realizada na sua vocação. Então, imagine-a tendo de dizer a uma família cujo filho estava desaparecido que ele foi encontrado morto, assassinado, num bosque vizinho. Ou pense num jovem médico que tem de lhe dizer que a sua biópsia revelou um tumor agressivo em metástase.

Médicos e policiais sabem que muitos aceitam a verdade simples e horrenda com dignidade, mas muitos tentam em vão negá-la. Nós livramos os juízes da terrível responsabilidade de aplicar a pena de morte, mas ao menos eles tinham algum conforto em suas freqüentes justificativas morais. Médicos e policiais não têm como escapar de seu dever.

Este artigo é o mais difícil que eu já escrevi, e pelas mesmas razões. Minha teoria de Gaia diz que Terra se comporta como se estivesse viva, e qualquer coisa viva pode gozar de boa saúde ou adoecer. Gaia me tornou um médico planetário e eu levo minha profissão a sério. Agora, também devo trazer as más notícias.

Boa parte das terras tropicais se tornará caatinga e deserto, e não servirá mais para regulação do clima; isso se soma aos 40% da superfície terrestre que nós já devastamos para produzir nosso alimento.

Curiosamente, a poluição por aerossóis no hemisfério Norte reduz o aquecimento global ao refletir a radiação solar de volta ao espaço. Esse "apagamento global" é transitório e pode desaparecer em poucos dias junto com a fumaça que o carrega, deixando-nos expostos ao calor da estufa global. Estamos num clima de loucos, resfriado acidentalmente pela fumaça, e antes do fim deste século bilhões de nós morreremos e os poucos casais férteis que sobreviverão estarão no Ártico, onde o clima continuará tolerável.

Tarefa impossível

Ao não perceber que a Terra regula seu clima e sua composição, nós cometemos a trapalhada de tentar fazê-lo nós mesmos, agindo como se estivéssemos no comando. Ao fazer isso, condenamos a nós mesmos ao pior estado de escravidão. Se escolhermos ser os guardiões da Terra, somos os responsáveis por manter a atmosfera, os oceanos e a superfície terrestre aptos para a vida. Uma tarefa que logo acharíamos impossível -e algo que, antes de termos tratado Gaia tão mal, ela fazia para nós.

Para entender o quão impossível é a tarefa, pense sobre como você regularia a sua temperatura e a composição do seu próprio sangue. Quem tem problemas renais conhece a dificuldade diária inesgotável de de ajustar sua ingestão de água, sal e proteínas. A muleta tecnológica da diálise ajuda, mas não é substituto para rins saudáveis.

Meu novo livro, "A Vingança de Gaia", expande essas idéias, mas você ainda pode perguntar por que a ciência demorou tanto para reconhecer a verdadeira natureza da Terra. Eu acho que é porque a visão de Darwin foi tão boa e tão clara que demorou até agora para que ela fosse digerida. No tempo dele, pouco se sabia sobre a química da atmosfera e dos oceanos, e teria havido pouca razão para que ele imaginasse que os organismos modificavam seu ambiente além de se adaptarem a ele. Se fosse sabido à época que a vida e o ambiente estão tão conjugados, Darwin teria visto que a evolução não envolve apenas os organismos, mas toda a superfície do planeta.

Nós então poderíamos ter enxergado a Terra como um sistema vivo, teríamos sabido que não podemos poluir o ar ou usar a pele da Terra -seus oceanos e sistemas florestais- como uma mera fonte de produtos para nos alimentar e mobiliar nossas casas. Teríamos sentido instintivamente que esses ecossistemas devem ser deixados intocados porque eles são parte da Terra viva.

Então, o que fazer? Primeiro, precisamos ter em mente a velocidade espantosa da mudança e nos dar conta do quão pouco tempo resta para agir. Então, cada comunidade e nação precisará usar da melhor forma os recursos que tem para sustentar a civilização o máximo que puderem. A civilização usa energia intensamente, e não podemos desligá-la de forma abrupta; é preciso ter a segurança de um pouso motorizado.

Aqui, nas ilhas britânicas, nós estamos acostumados a pensar em toda a humanidade e não apenas em nós; a mudança ambiental é global, mas precisamos lidar com as conseqüências dela aqui. Infelizmente nossa nação é tão urbanizada que se parece mais com uma grande cidade, e temos apenas uma área pequena de agricultura e florestas. Dependemos do mundo do comércio para o nosso sustento; e a mudança climática nos negará suprimentos constantes de comida e combustível do exterior.

Nós poderíamos produzir comida o bastante para nos alimentar na dieta da 2ª Guerra, mas a noção de que há terras sobrando para plantar biocombustíveis ou para abrigar usinas eólicas é ridícula. Nós faremos o possível para sobreviver, mas infelizmente eu não consigo ver os EUA ou as economias emergentes da China e da Índia voltando no tempo -e eles são as maiores fontes de emissões. O pior vai acontecer, e os sobreviventes terão de se adaptar a um clima infernal.

Talvez o mais triste seja que Gaia perderá tanto quanto ou mais do que nós. Não só a vida selvagem e ecossistemas inteiros serão extintos, mas na civilização humana o planeta tem um recurso precioso. Não somos meramente uma doença; somos, por meio da nossa inteligência e comunicação, o sistema nervoso do planeta. Através de nós, Gaia se viu do espaço, e começa a descobrir seu lugar no Universo.

Nós deveríamos ser o coração e a mente da Terra, não sua moléstia. Então, sejamos corajosos e paremos de pensar somente nos direitos e necessidades da humanidade, e enxerguemos que nós ferimos a Terra e precisamos fazer as pazes com Gaia. Precisamos fazer isso enquanto somos fortes o bastante para negociar, e não uma turba esfacelada liderada por senhores da guerra brutais. Acima de tudo, precisamos lembrar que somos parte dela, e que ela é de fato nosso lar.

James Lovelock lançou em 1979, a hipótese Gaia, de que o planeta se comporta como um organismo vivo. Seu novo livro, "A Vingança de Gaia", sai em fevereiro no Reino Unido.

Artigo originalmente reproduzido na Folha de São Paulo, 22/1/2006.

19 julho 2007

Worldwatch: We really are in the middle of a paradigm shift.

Lending more testimony to the recognition that the environmental movement and energy paradigms are going through a interconnected paradigm shift is Worldwatch Insitute's President Christopher Flavin. The opportunity for investors is enormous.

A new report, Biofuels for Transportation: Global Potential and Implications for Sustainable Agriculture and Energy in the 21st Century, sponsored by the German Federal Ministry of Food, Agriculture and Consumer Protection (BMELV), is a comprehensive assessment of the opportunities and risks associated with the large-scale international development of biofuels. It includes information from existing country studies on biofuel use in Brazil, China, Germany, India, and Tanzania.

17 julho 2007

CO2 pode não ser o grande causador das mudanças climáticas?

Finalmente uma reportagem sobre mudanças climáticas feita pelo Chanel 4 mostra que o CO2, parte de todos os seres vivos do planeta, não é o grande vilão das mudanças climáticas que enfrentamos. E apresenta o Sol, e suas explosões, como o grande controlador das temperaturas de nosso sistema.

Bem, nada que as plantas já não saibam... mas voltando: O CO2 está relacionado à industrialização e desenvolvimento econômico, conter a produção dele é conter a forma como o capitalismo está direcionado, pela concentração de riquesas. Como mostra o video, depois da queda do muro de Berlim, o movimento ambientalista contou com o apoio dos neo-marxistas e o Aquecimento Global hoje é colocado como a mais nova, melhor e única maneira de controlar a imensa opinião pública.

Que o clima está mudando, não temos dúvidas. Que as geleiras estão sumindo, também não. Seu reflexo é visível, disso não duvidamos. Mas até que ponto isso faz parte de nossas vidas individuais e até que ponto faz e fez parte da história da Terra?

A comoção e envolvimento que presenciamos atualmente, é a busca pelo verdadeiro preenchimento que procuramos. Conquistamos o mundo exterior e, agora que continuar conquistando está sendo cada dia mais concorrido, e de certo modo, cada dia menos prometido, estamos procurando no interior de nós mesmos as verdadeiras respostas. Encarar as mudanças climáticas como uma oportunidade de nos apaziguarmos (e não desesperarmos) talvez seja o maior desafio.

Não deixem de assistir a esse programa, com legendas em português e, não deixe de questionar as perguntas básicas de todo ser humano: quem sou, por que estou e para onde vou?

Clique aqui: http://br.youtube.com/watch?v=1JCVjg7H94s

Não perca!

Sean B. Carroll discusses the science of evolution and the field of evo-devo for NYT.

See the video here.

16 julho 2007

Seres humanos esgotam capital natural da Terra

Relatório produzido por 1.350 especialistas a pedido da ONU vê declínio em serviços fornecidos pelos ecossistemas

Claudio Ângelo, editor de Ciência, escreve para a ‘Folha de SP’:
A humanidade está fazendo um saque a descoberto no grande (porém finito) banco dos ecossistemas globais. O resultado é um colapso futuro na capacidade do planeta de fornecer bens e serviços naturais aos seres humanos, cujo primeiro efeito prático deve ser a impossibilidade de atingir as metas das Nações Unidas de combate à fome em 2015.

Quem diz isso desta vez não são os ambientalistas, mas um grupo de 1.350 cientistas de 95 países, inclusive o Brasil. De 2001 a 2005, sob a égide da ONU, eles produziram o diagnóstico mais completo já feito da saúde dos ecossistemas e de sua relação com a manutenção da vida humana.

O esforço resultou num relatório apresentado, nesta quarta-feira, a governos do mundo inteiro – no Brasil, em cerimônia em Brasília presidida pela ministra do Meio Ambiente, Marina Silva.As conclusões da chamada Avaliação Ecossistêmica do Milênio, como quase tudo o que diz respeito ao ambiente global, são desalentadoras: quase dois terços dos chamados serviços ambientais estão em declínio acelerado.Isso significa que a capacidade do planeta de fornecer peixe e água, reciclar nutrientes do solo, minimizar o impacto de desastres naturais (como o maremoto de dezembro na Ásia) e controlar o clima local está comprometida.

Pior ainda: as alterações feitas nos ecossistemas, especialmente nos últimos 50 anos, estão provavelmente aumentando o risco de mudanças abruptas, como explosão de epidemias – como a de cólera que afetou a África subsaariana durante o El Niño de 1997/ 98 –, eutrofização de águas costeiras e mudança climática regional, induzida por desmatamento.

Para quem acha que mudanças ambientais não passam de ameaças intangíveis pairando sobre as próximas gerações em algum futuro remoto, a Avaliação do Milênio tem uma projeção imediata: a degradação dos solos e a baixa disponibilidade de água doce, especialmente na África e no sul da Ásia, devem impedir o mundo de alcançar o chamado Objetivo do Milênio de cortar pela metade o número de famintos em 2015.

‘Um dos poucos serviços ambientais em ascensão é a produção de alimentos, mas não ao ponto de atingir os objetivos [de desenvolvimento] do milênio’, disse à ‘Folha de SP’ o engenheiro florestal Rodrigo Victor, do Instituto Florestal de SP, que participa de uma das etapas do diagnóstico.

Quatro cenários montados pelos cientistas para o futuro prevêem, ainda, que mais 10% ou 20% das florestas do mundo serão convertidas em lavoura e pasto até 2050 e que a superexploração dos estoques de peixe deva crescer ainda mais.

Três deles projetam um aumento de 10% a 20% no fluxo de nitrogênio para águas costeiras, ampliando a eutrofização e a perda de biodiversidade.Uma das recomendações do estudo aos tomadores de decisão é uma reestruturação na maneira dos economistas de fazer contas.

Até agora, a maioria dos serviços ambientais pertence ao reino daquilo que os economistas chamam de ‘externalidades’, ou seja, fatores que não interferem nos custos econômicos. O valor da polinização de lavouras por insetos que habitam uma floresta vizinha, por exemplo, não é computado na hora de calcular o valor total daquela floresta.

Estudo feito em dez países do Mediterrâneo e citado no relatório mostrou, por exemplo, que serviços como recreação, seqüestro de carbono, produtos florestais não-madeireiros e proteção de mananciais respondiam por até 96% do valor total das florestas. Esses serviços são desperdiçados quando uma floresta é convertida em pasto ou plantação pelo valor da sua madeira.

Algo equivalente a queimar dinheiro.‘A degradação dos serviços de ecossistemas representa a perda de um ativo’, afirmam os cientistas. Como tal degradação não aparece na balança comercial, países como o Equador, o Cazaquistão e a Etiópia, que tiveram um aumento de seu PIB em 2001 e experimentaram perda de florestas e recursos energéticos, teriam na verdade prejuízo caso o passivo ambiental fosse incluído.

A maioria dos serviços ambientais ainda não têm um mercado, embora o seqüestro de carbono já seja valorável com a entrada em vigor do Protocolo de Kyoto.Mesmo assim, os custos associados à perda de alguns desses serviços já se fazem sentir. Que o digam os pescadores de bacalhau da Terra Nova, no Canadá, que tiveram de parar de trabalhar nos anos 90 pelo esgotamento do peixe, com prejuízo de US$ 2 bilhões.

No Reino Unido, os prejuízos causados pela agricultura a água, solos e biodiversidade em 1996 foram de US$ 2,6 bilhões, ou 9% da receita agrícola do país na década de 90. E as perdas econômicas causadas por desastres naturais no mundo cresceram dez vezes de 1950 a 2003 – para US$ 70 bilhões por ano. Números que não são ladainha de ambientalista.(Folha de SP, 30/3)

14 julho 2007

Ice? Just Say "No"

Por Peter Russel

Americans take ice for granted. They expect it in a glass of water at every restaurant. They want it in every soft drink. Most produce a continual supply of it at home in their refrigerators. And for parties we go and buy bags of it to fill up our buckets and bathtubs. But at what cost?
Estimating how much ice we consume each day is not easy. In addition to the ice we melt in our drinks and ice buckets, there is all the ice that is produced, only to melt away, unused, in the drain. As a rough guess we probably each "consume", either directly or indirectly, an average of around a pint of water a day as ice.

Ice as a commodity is basically energy, or, more accurately, the absence of it. To freeze water, energy (latent heat) must be extracted from it. When the ice melts, it sucks this energy back, cooling its immediate surroundings.

The latent heat of ice is about 300 joules per gram. (I shall use approximate figures throughout; it makes the calculations easier, and there is no point in using more accurate figures when the amount of ice consumed is only a guess). A pint of water weighs around 450 grams, so the energy consumed in ice by each of us, each day, is around 135,000. There are around 270 million people in the USA, making the national daily energy consumption in ice around 36 trillion joules.

Most of us have no idea how much a joule of energy is, so let us convert this figure to a more meangingful unit, the kilowatt-hour (kWh) which is the amount of energy a one kilowatt electric fire consumes in one hour. One watt is one joule/sec; so a kilowatt-hour is 1,000 x 60 x 60 joules, i.e. 3.6 million joules. Thus our national daily ice consumption represents around 10 million kWh of energy.

To generate this amount of energy takes 5,000 tons of coal, or 17,000 barrels of oil. Here's the rub. We are trying to conserve the energy we use in heating fuel, gasoline and electricity, yet at the same we are melting away a vast quantity of energy as ice -- the energy that a city the size of San Francisco consumes in gasoline each day.

Not only does the production of ice contribute to the energy crisis, it also contributes (somewhat ironically) to global warming. Each kilowatt of energy generated produces about 1.5 lb of carbon dioxide. Our daily ice consumption thus releases an additional 7,000 tons of carbon dioxide into the atmosphere each day, making its own contribution to the greenhouse effect. In addition, we must factor in the cost of the equipment used to produce the ice, plus the damaging effect on the ozone layer of all the CFCs released into the atmosphere when our ice-making machines fall apart on the scrap heap.

Why do we want all this ice? We certainly do not need it. Europeans do not expect it in every glass of water or soft drink, while traditional Japanese, Chinese and Indian medecines advocate the drinkiing of warm water with meals. Its cooling effect on the body is negligible. It has no health benefit. Just the opposite. The temperature stress on our teeth can crack the enamel, increasing the likelihood of tooth decay. The lining of the stomach is weakened by having to cope temperatures for which it was not designed. The cooling in the stomach unnecessarily draws blood from other regions of the body. It also soldiifies the oily stuff in food you have just consumed, which increases the amount of fat absorbed the intestine. In addition, ice-making machines can harbor Legionnaire's Disease and other unsavory microbes. You may drink bottled water, but the chances are the ice that's put in it is tap water.

Ice is a social addiction. We don't need it, but we've been led to believe we can't do without it. Yet we get nothing from it but an oral stimulation.

But every addiction has its cost. Here the cost is unnecessary energy consumption, increased environmental degradation, and possible damage to your health. So the next time you are offered ice, just say "No".