08 maio 2007

A corrida por uma imagem sustentável

| 03/05/2007

O Itaú traz cada vez mais a sustentabilidade para o centro de sua estratégia -- e se esforça para ser reconhecido por isso

Por Mariana Mano para Exame

A alta cúpula do Itaú, segundo maior banco privado brasileiro, vive dias de expectativa desde a anunciada -- e ainda sem desfecho previsível -- venda do holandês ABN. Rumores acerca de uma negociação separada dos ativos no Brasil despertaram duas possibilidades que podem representar o negócio da década para o banco -- para o bem ou para o mal. Ou o Itaú fecha o negócio e assume a liderança no país ou um concorrente arremata as operações brasileiras e o deixa para trás. Esse é um movimento que pode mudar o rumo do banco, mas não o único. Nos últimos tempos, os executivos e os acionistas da instituição controlada pelas famílias Setubal e Villela têm dedicado boa parte de seu tempo a outro assunto que pode influenciar o futuro da instituição -- a sustentabilidade. A face pública dessa guinada é a palestra que o ex-vice-presidente dos Estados Unidos Al Gore, espécie de celebridade do combate ao aquecimento global, dará a convite do Itaú no próximo dia 12 de maio, no auditório do Ibirapuera, em São Paulo. Negociada durante quatro meses pela agência de publicidade Africa, de Nizan Guanaes, a apresentação vai reunir uma platéia de quase 800 convidados da instituição. A visita de Gore custará em torno de 1 milhão de reais. Embora seja pouco -- quase nada em termos absolutos para um colosso que lucrou mais de 4 bilhões de reais em 2006 --, o investimento marca de maneira simbólica a história do banco.

Não é de hoje que o Itaú, há sete anos listado no Dow Jones Sustainability Indexes, índice que reúne empresas socialmente responsáveis cotadas na bolsa de Nova York, discute o assunto dentro de casa. A diferença é que, mais recentemente, o banco tem se esforçado para aproximar cada vez mais a sustentabilidade do centro de sua estratégia. Uma das principais iniciativas foi a nomeação, em janeiro deste ano, da primeira diretora de sustentabilidade do Itaú, a paulista Sônia Favaretto, que era responsável por essa área no BankBoston até a aquisição do Itaú, no fim do ano passado. "Nunca tentamos usar o envolvimento do banco com assuntos ligados à sustentabilidade para promover nossa imagem nem vamos fazer isso de maneira ostensiva", diz Antonio Jacinto Matias, vice-presidente de marketing do Itaú e responsável pela coordenação das iniciativas de sustentabilidade e de responsabilidade social do banco. "Mas hoje estamos um pouco aquém do que poderíamos fazer em termos de levar o debate para os públicos com os quais nos relacionamos."

A movimentação do Itaú faz parte de uma ampla e acelerada transformação pela qual o mercado financeiro vem passando em todo o mundo. Poucos setores são tão organizados quanto o de bancos em relação à discussão sobre a sustentabilidade nos negócios. No Brasil, o caso mais notável é o do ABN Amro Real, que desde 2000 iniciou um movimento para colocar a sustentabilidade no centro de seus negócios. "O ABN foi o primeiro banco a apropriar-se de uma imagem sustentável, o que valorizou sua marca no país", diz Alejandro Pinedo, diretor da consultoria especializada em marcas Interbrand. O maior marco dessa organização foi a criação, em 2003, de um conjunto de regras socioambientais para concessão de crédito, conhecidas como Princípios do Equador, por um grupo de dez dos maiores bancos do planeta, entre os quais Citigroup e Credit Suisse. A lógica por trás dos princípios transpira negócios. Afinal, o risco ambiental e social das empresas que buscam crédito impacta diretamente sua capacidade de pagamento -- e, portanto, representa uma ameaça ao lucro das instituições que emprestam dinheiro. (Uma recente pesquisa da consultoria americana de avaliação de empresas Innovest mostra que os bancos que seguem os princípios possuem retorno financeiro maior.) Hoje, 51 bancos de grande porte -- entre eles os brasileiros Banco do Brasil, Bradesco, Itaú e Unibanco -- são signatários das regras, que têm se tornado mais e mais sofisticadas. Em julho de 2006, uma revisão reduziu, por exemplo, de 50 milhões para 10 milhões de dólares, o valor mínimo para que o projeto de financiamento seja avaliado segundo esses princípios. Neste ano, o Itaú foi além e baixou por conta própria esse valor para 5 milhões de reais (isso mesmo, reais).

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