18 junho 2007

15/06/2007
ONG que quer comprar terra na Amazônia recebe 20 mil doações

Vinte mil pessoas fizeram doações na primeira semana de campanha do site da ONG Cool Earth, que promete proteger e comprar terras na Amazônia.

A iniciativa foi lançada no dia 5 de junho, com apoio de várias personalidades e entidades ambientalistas britânicas.

O valor total das doações realizadas não foi revelado pelos representantes do projeto. Segundo eles, doadores de maior porte fizeram aportes diretos, sem entrar no site, que ainda estão sendo contabilizados.

O projeto propõe que os doadores patrocinem, por 35 libras (cerca de R$ 140), meio acre de terra - o equivalente 2 mil metros quadrados de mata -, embora seja possível fazer doações menores.

Manutenção - De acordo Mathew Owen, diretor da ONG, o dinheiro arrecadado tem dois destinos. O primeiro é investir na preservação de florestas que já estão protegidas ou que já são de propriedade da entidade ou de parceiros. Um segundo destino da receita é a compra de terras.

Segundo a Cool Earth, o objetivo principal é evitar a derrubada da vegetação e, com isso, a liberação de toneladas de CO2 na atmosfera - segundo o próprio projeto, cada acre de floresta queimado libera até 26 toneladas de CO2.

Os representantes da campanha acreditam ser preciso convencer as comunidades nas “regiões em risco” que é melhor preservar a floresta do que destruí-la.

“O que realmente estamos tentando fazer é simplesmente criar um mecanismos para a geração de recursos e colocar esse dinheiro nas mãos das comunidades nas florestas tropicais, para assegurar que eles consigam um melhor nível de vida mantendo a floresta de pé”, disse Owen.

A Cool Eath afirma que colocará todas as propriedades compradas no nome de instituições locais e que irá apenas administrar as propriedades por um sistema de arrendamento por um período inicial de dez anos.

Ingenuidade? - Embora o apoio do público tenha sido grande, alguns ambientalistas e especialistas brasileiros acreditam que o projeto tem problemas sérios.

O diretor-geral do Serviço Florestal do Ministério do Meio Ambiente, Tasso Azevedo, considerou “inocente” a campanha. “A floresta não está à venda”, afirmou Azevedo. Ele disse que a Lei de Gestão de Floresta Pública, em vigor desde o ano passado, proíbe a venda de qualquer área na floresta que já não tenha títulos de propriedade privada.

“Quando alguém diz que está comprando área na Amazônia, existe uma grande probabilidade de ser uma área pública”, diz Azevedo. “Este tipo de solução não ajuda, ela ilude”, afirmou.

O ambientalista Paulo Adario, coordenador da campanha Amazônia do Greenpeace, também considera “ingênua, embora bem intencionada” a campanha.

“É uma visão de pessoas bem intencionadas, mas que desconhecem a complexidade do local”, afirmou Adario, que vive em Manaus, onde fica o escritório regional do Greenpeace que cuida da Amazônia.

Ele diz que o processo de grilagem de terras públicas na região foi tão intenso que é muito difícil hoje em dia conseguir grandes extensões de terras com documentação legal.

“Não existem grandes áreas de terra à venda com documentação razoável. A questão da propriedade de terras na Amazônia é um pesadelo”, afirmou.

15 mil acres - Os integrantes do Cool Earth afirmam estar conscientes dessas dificuldades. Um dos idealizadores da campanha é o milionário sueco Johan Eliasch, que em 2005 comprou uma área de cerca de 160 mil hectares na Amazônia para preservação e foi alvo de muitas críticas.

Mathew Owen, da ONG, disse que as terras do milionário sueco não estão incluídas no projeto e que o foco principal no Brasil não é comprar terras novas, mas principalmente ajudar as comunidades a preservá-las.

“Nosso principal objetivo é investir na manutenção”, afirmou Owen. Segundo ele, cerca de 10% dos recursos arrecadados devem ser gastos em administração e 30% em compra de novas terras. “O restante (os outros 60%) será investido nas comunidades locais”.

A ONG afirma que detém - diretamente ou por meio de parceiros - 5 mil acres no Brasil (o equivalente a 2 mil hectares) e que pode comprar mais 15 mil acres (8 mil hectares) no prazo de um ano. (Estadão Online)

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