11 junho 2007

Fracasso! G8 não assume metas contra o aquecimento global


08 de Junho de 2007 por Greenpeace.org.br

Alemanha — Lula perde oportunidade de liderar G5 na luta contra as mudanças climáticas

Conforme previsto, a cúpula do G8 não foi além do óbvio. Na análise do Greenpeace, o término da reunião na Alemanha foi marcado pela falta de metas concretas dos sete países mais ricos do mundo e a Rússia para combater o aquecimento global.

A afirmação da cúpula sobre a necessidade de uma “redução substancial” da emissão dos gases de efeito estufa foi considerada redundante e vazia pelo Greenpeace, especialmente após a divulgação do relatório do IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas) no início deste ano. “Os últimos 15 anos nos ensinaram que compromissos voluntários simplesmente não funcionam, daí a importância das metas para o desenvolvimento de ações urgentes. Declarações vazias não ajudarão em nada”, lamenta Marcelo Furtado, diretor de campanhas do Greenpeace no Brasil.

Mais uma vez, os Estados Unidos retalharam qualquer acordo efetivo de redução de emissões de gases do efeito estufa. Nem o consenso científico sobre a necessidade de cortar em 50% as emissões até 2050, mantendo a elevação da temperatura abaixo dos 2°C dos níveis pré-industriais, foi suficiente para levar os grandes líderes mundiais à ação concreta.

“O documento final da cúpula apenas diz que medidas de redução devem ser ‘consideradas seriamente’, enquanto os líderes do G8 deveriam apresentar metas claras e definir as negociações do período pós-2012 do Protocolo de Kyoto”, avalia Furtado.

EUA: ainda o grande vilão

De acordo com John Coequyt, analista de política energética do Greenpeace nos Estados Unidos, “a obstrução dos EUA resultou em uma falha do G8 em estabelecer uma meta global para redução de gases de efeito estufa. É mais uma oportunidade perdida que reforça a necessidade e a urgência de uma resposta de peso do Congresso Americano”, afirma. “Ao menos, foi reafirmado que as Nações Unidas é o fórum de discussão apropriado no combate às mudanças climáticas, e não o processo de fachada anunciado pelo Presidente George W. Bush na última semana”. O fato é que os demais países do G8 devem caminhar independentemente da resistência americana, pois o tempo para agir está se esgotando.

Brasil e G5

A posição do G5 (Brasil, China, Índia, México e África do Sul), publicada ontem no documento oficial da reunião, também foi frustrante, na avaliação do Greenpeace. Ações reais contra as mudanças climáticas deram lugar a um conjunto de recomendações genéricas no sentido de estabelecer o “diálogo” e “compartilhar conhecimento”.

O G8 indica a necessidade de contribuir com os países em desenvolvimento, principalmente com relação ao combate ao desmatamento. No documento, o Brasil solicita apoio financeiro ao G8 para acabar com o desmatamento, porém, em nível nacional, o governo federal ainda não assumiu claramente o compromisso de zerar o desmatamento, priorizou a proteção dos recursos naturais ou comprometeu-se com a implementação de uma Política Nacional de Mudanças Climáticas.

“O fato é que a agenda de Lula na reunião do G8 era a venda de etanol. Sabemos que os biocombustíveis são parte da solução das mudanças climáticas, mas isso não quer dizer que o Brasil será uma Arábia Saudita verde como gosta de promover o presidente. Não vemos uma estratégia definida do governo brasileiro quando o assunto é a garantia da produção de alimentos e a conservação de nossas florestas, o que pode tornar a produção do etanol parte do problema”, afirma Furtado.

Para o Greenpeace, o Brasil e os demais países do G5 deveriam estar discutindo como fazer sua própria revolução energética, qual a maneira mais rápida e efetiva de se transferir tecnologia e investimentos necessários para o estabelecimento de mercados nacionais de energias renováveis.

“O Brasil poderia e deveria liderar esse movimento internacional, principalmente a discussão sobre clima e florestas. Em vez disso, o governo continua lançando mão de argumentos desgastados, como o de não assumir metas, já que a responsabilidade histórica é mínima. Definitivamente não é o que a sociedade brasileira espera dos tomadores de decisão, especialmente por conta do pouco tempo que temos para agir”, conclui Furtado.

A China, com todos os seus problemas, vem demonstrando maior habilidade do que o Brasil no desenvolvimento de estratégias, como o lançamento de sua Política Nacional de Mudanças Climáticas no último dia 4.

Ações na Alemanha

O Greenpeace realizou uma série de ações durante a cúpula do G8, exigindo ação dos países participantes para barrar o aquecimento global. Às vésperas da reunião, mais de 600 pessoas formaram um banner humano com os dizeres “G8: Aja agora!”. No dia 7, a bordo de barcos, 24 ativistas carregaram a mesma mensagem para a frente do hotel onde acontecia o encontro. A polícia reagiu, ferindo alguns ativistas. E nesta sexta-feira, a bordo de um balão, o Greenpeace levou o pedido “G8: Aja agora!” aos céus. Helicópteros da polícia alemã cercaram o balão e obrigaram os ativistas a pousar.

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