29 agosto 2007

Ainda falta senso de urgência diante da crise ambiental

Por Darlene Menconi, do Mercado Ético

A questão ambiental ainda não chegou à sociedade e à realidade das empresas com o devido senso de urgência. Essa foi uma das principais conclusões dos participantes do Fórum de Desenvolvimento Sustentável, promovido pela Editora Globo com apoio da Revista Época e o patrocínio da Petrobras, realizado nesta quarta-feira (29/8) em São Paulo.

“O aquecimento global não é mera figura de imaginação ou teoria de professores universitários, é realidade” - afirmou o físico José Goldemberg, professor da Universidade de São Paulo (USP) e do Instituto de Eletrotécnica e Energia (IEE). Ex-secretário estadual do Meio Ambiente, Goldemberg destacou três evidências do processo de mudanças climáticas: a elevação da temperatura média do planeta, o aumento do nível dos oceanos e o derretimento das geleiras.

Desde o início da era industrial, em 1850, até hoje, a temperatura da Terra subiu 0,7 grau Celsius e deve chegar a 2 graus Celsius até 2050. Por conta desse aumento, a água dos oceanos tende a se expandir, e o nível do mar deve subir mais 20 centímetros até meados de 2050, segundo Goldemberg. O grande efeito disso, diz o físico, pode ser o colapso dos serviços de esgoto nas cidades litorâneas. “Isso afeta o porto e a cidade de Santos imediatamente porque, com a elevação do nível do mar, o esgoto em vez de correr da terra para o mar pode fazer justamente o percurso contrário”, explicou.

A saída para contornar os efeitos das mudanças climáticas, segundo os próprios especialistas do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) está na adoção de novas atitudes que levem em conta a realidade do aquecimento global. A primeira delas é lutar pela maior eficiência em todos os setores econômicos - e foi justamente esse um dos denominadores comuns nas palestras do Fórum de Desenvolvimento Sustentável, que reuniu empresários, acadêmicos e representantes do setor petrolífero e da construção civil.

NOVOS PARADIGMAS E MAIS EFICIÊNCIA

A urgência em adotar novas práticas passa pelas indústrias de base, pela agricultura, pelo setor de transportes e o de construção, que devem ser cada vez mais eficientes. “Fica claro que é necessário mudar de paradigma urgentemente. Ainda há um total descolamento da crise ambiental que vivemos, mostrada claramente pela ciência, e a realidade do mundo dos negócios”, alerta Miguel Milano, vice-presidente da Fundação Boticário.

No setor energético, garante José Sérgio Gabrielli, presidente da Petrobras, investir em eficiência e em tecnologia é o segredo da sobrevivência. De olho na realidade brasileira em 2020, Gabrielli avalia que o petróleo ainda deve ter uma longa história. A tendência, ele prevê, é que os biocombustíveis respondam por cerca de 20% da matriz energética nacional nessa ocasião.

“As pressões energéticas, ambientais e a eficiência vão exigir novas posturas em 2020”, diz o presidente da Petrobras. Entre elas estaria a expansão da produção de gás, o crescimento dos combustíveis renováveis, como o etanol e o biodiesel. E, sobretudo, a expansão da indústria de petroquímica. “Saímos do aço e do metal para a cultura do plástico e dos biopolímeros”, ele diz. Para isso, assegura Gabrielli, é preciso investir em pesquisa científica e desenvolvimento tecnológico. Só a Petrobras deve aplicar US$ 22,5 bilhões ao ano em tecnologia de hoje até 2020.

Trabalho de estudante brasileira será apresentado em conferência promovida pela ONU

O trabalho "Células de Transformação" de Aline Roldan, 18 anos, uma das brasileiras que ganhou o Prêmio do Milênio Mundial (veja o texto abaixo), será apresentado em conferência da ONU. Aline será uma das palestrantes da 60ª Conferência da DPI/NGO, uma rede de ONGs do Departamento de Informação Pública da Organização das Nações Unidas. Esse ano a Conferência terá como tema "Superando as mudanças climáticas: ações estratégicas globais e locais" e será realizada de 5 a 7 de setembro em Nova Iorque.

O Prêmio do Milênio Mundial, vencido por Aline na categoria Desenvolvimento Sustentável, reuniu estudantes secundaristas de vários países, que apresentaram projetos sobre quinze desafios propostos pelo Projeto Millenium, uma rede de futuristas e pesquisadores de diversas áreas do conhecimento, representado no Brasil pelo Núcleo de Estudos do Futuro da PUC-SP.

A outra brasileira premiada no concurso foi Maria do Rosário Gomes da Silva, na categoria Tomada de Decisões. Maria do Rosário venceu também, recentemente, o concurso "Uma Utopia para o Século 21",organizado pela Universidade do Porto, em Portugal, com a redação "Do outro lado do muro" (leia abaixo).

A participação de Aline ainda não foi confirmada por falta de recursos para pagar as despesas de viagem, dela e de um acompanhante. Mercado Ético convoca empresários e parceiros para ajudarem Aline a ajudar o mundo. Contatos pelo email mercadoetico@mercadoetico.com.br.
Células de Transformação

Desenvolvimento sustentável é o novo paradigma que torna possível a realização plena de toda a humanidade ao fornecer o básico para a realização da humanidade em cada um. Diante da conjuntura atual e das tendências para o futuro, é necessário que a sustentabilidade esteja presente nos mais variados contextos, acessível e possível a todos. Sob esse prisma um novo modelo de desenvolvimento deve perpetrar a sociedade ao apresentar e concretizar as soluções de problemas para os quais nosso atual modelo de desenvolvimento não tem respostas. Seriam pequenas sementes que plantadas nas falhas do asfalto originariam árvores. Seriam células de transformação.

Células

Células seriam "núcleos de desenvolvimento local e sustentabilidade", que aliariam as soluções nas esferas econômica, social e ambiental, não segmentando-as, e sim contemplando a ligação direta que possuem, pois os problemas de natureza ambiental são também de natureza social, econômica e política. Negligenciar um desses âmbitos inevitavelmente gera conseqüências danosas aos outros, ao passo que considerar a sustentabilidade em sua amplitude, apresenta como uma resposta efetiva aos mais variados problemas pelos quais o mundo atravessa.

Ao refletir sobre os vários significados da palavra célula, amplia-se o entendimento, e porque não a beleza, do que seriam as Células de Transformação:

• célula como "estrutura musical mínima, a partir da qual se faz uma composição", Célula como uma semente, um exemplo de sustentabilidade em pequena escala a partir do qual a sociedade poderá compor um novo paradigma, uma nova "melodia" a partir das primeiras "notas";

• célula como "grupo de pessoas com ideal e atuação afins", Célula como algo que depende da atuação de pessoas com ideais e propósitos semelhantes.

• célula como "unidade fundamental dos seres vivos", Célula como parte de um todo, uma sustentabilidade envolvente e integrada, que nasce inserida na sociedade e não externa a ela, floresce a partir do caos, sendo a Terra o grande ser vivo.

Enfim, as Células ganham o sentido de "parte que compõem o todo" abrangendo a ambigüidade do verbo (compor = fazer;construir), uma vez que o todo é composto de partes, e as partes constroem o todo, elas fazendo parte, fazem um novo todo.

Conjuntura atual e tendências para o futuro

Em escala global, a humanidade presencia o agravamento de inúmeros problemas como a degradação ambiental e as conseqüentes mudanças climáticas, a miséria, a violência, etc. Se nada for feito essa situação tende a piorar com, entre outros fatores, a crise energética, o aumento da ocorrência de catástrofes naturais e doenças causadas por vírus e bactérias com a elevação da temperatura e o crescimento da população em relação a produção de alimentos.

Nas raízes desta problemática está um modelo econômico que, desconsiderando as questões ambientais e sociais, destrói o equilíbrio necessário à vida de todas as espécies e coloca a humanidade em risco. Diante disto, para a construção de um verdadeiro desenvolvimento sustentável, o desenvolvimento econômico e a proteção ambiental, assim como o um sistema social equilibrado, são questões inseparáveis. Sob esta perspectiva e contexto mundial, "núcleos de desenvolvimento local e sustentabilidade" atuariam na solução de diversas questões e, mais do que isso, facilitando a transformação humana individual e coletivamente.

Núcleos de desenvolvimento local e sustentabilidade

Com o objetivo de difundir, educar, aplicar conceitos de sustentabilidade ambiental, social e econômica, núcleos de desenvolvimento poderiam ser implantados nas mais variadas partes do mundo e em diferentes contextos, seja em zonas urbanas, rurais ou de proteção ambiental,em meio a comunidades, vilas ou cidades, eles teriam um "alcance global, mas local em sua aplicação".

Inspirados no conceito de Ecovila, os Núcleos seriam incubadoras de desenvolvimento sustentável que atuariam divulgando tecnologias ambientalmente corretas e promovendo o desenvolvimento local. Diferentemente do conceito de Ecovila, que visa apenas garantir as próprias necessidades, realidade evidenciada pelo fato de muitas delas estarem localizadas em lugares isolados, os núcleos agregariam o entorno envolvendo-o: a medida que comprometidos e ligados com às demandas locais e às necessidades da comunidade a sua volta, se tornariam interessantes para a população local nos aspectos econômico, social, cultural e ambiental.

A sustentabilidade é um modelo que contempla as esferas econômica, social, cultural e ambiental, e sua aplicação varia de acordo com as necessidades locais abrangendo os mais variados âmbitos da vida em sociedade: Educação e cultura, saúde, produção de alimentos, saneamento básico, economia, administração, ecologia com relação a preservação do ambiente, energia, construção. Considerando o iminente aumento das ocorrências de catástrofes naturais, os núcleos teriam um papel fundamental na resposta para colapsos, pois estariam preparados para dar apoio após desastres, além de apresentar alternativas diante da desarticulação possível de cidades e do sistema produtivo com colapsos ambientais, uma vez que descentralizam a produção agrícola e energética e o tratamento de água e esgoto.

Tendo em vista possíveis entraves na concretização dos objetivos das Células, alguns conceitos e mecanismos, as chamadas "estratégias para a sustentabilidade", atuariam de forma a garantir a integridade na formação dos núcleos através da independência destes com relação a interesses não convergentes e questões locais de poder, da fiscalização mútua entre os envolvidos (Núcleo, Rede, Comunidade e Governo) e da cooperação entre as células. Entre essas estratégias está a formação de uma rede composta por diferentes profissionais capacitados para avaliar o desenvolvimento e a sustentabilidade dos núcleos e por representantes dos núcleos.

Essa rede fiscalizaria o processo e administraria os recursos financeiros (recebendo–os e os direcionando aos núcleos de acordo com as necessidades destes).

O processo de formação destas Células abrangeria duas etapas:

1. "GESTAÇÃO", na qual o núcleo está "crescendo", ou seja, envolvendo o entorno e construindo a sua sustentabilidade. Nesta primeira parte o núcleo receberia investimento através de uma rede.

2. A segunda etapa seria caracterizada pelo alcance da sustentabilidade, ou seja, ao término do prazo estabelecido previamente para o projeto, o núcleo não mais necessitaria de investimento externos, seja da REDE, que não mais o forneceria, ou de outras iniciativas, alcançando independência, cessando seu crescimento uma vez que teria envolvido já a comunidade. Neste ponto ele estaria consolidado, o núcleo e o entorno tendo atingido a sustentabilidade, formando juntos o que poderia ser chamado de Ecovila.

Enfim, para que a verdadeira sustentabilidade nasça é preciso não só a ecologia no sentido de proteção ambiental, mas também a ecologia humana, pois somente através do resgate do ser humano, a conscientização, a sua valorização como indivíduo e o atendimento a todas as suas necessidades essenciais à vida, que a humanidade deixará de destruir o ambiente, respeitando o delicado equilíbrio entre as mais variadas formas de vida. Quando os homens deixarem de se tratar como animais, talvez os animais deixem de ser tratados como coisas, e o planeta seja respeitado como um lar.

08 agosto 2007

"Um Pé de Quê?" volta ao canal Futura e torna-se "carbono neutro"
Da Redação Canal Futura

A apresentadoraRegina Casé exploraa flora brasileira

O "Um Pé de Quê?", programa apresentado por Regina Casé que mostra a diversidade da flora brasileira, volta à grade do Canal Futura nesta quarta-feira (1/8) com uma novidade: o programa tornou-se "carbono neutro". A produção do "Um Pé de Quê?" diz que "todas as emissões de carbono" geradas pela realização do programa em 2007 "serão neutralizadas com o plantio de árvores". Para marcar a reestréia da série que completa sete anos, a nova temporada começa com um episódio sobre o aquecimento global. No programa, Regina Casé analisa as características botânicas de uma planta e a partir daí as relaciona com passagens da história e da cultura brasileira como música, história, antropologia, culinária e paisagismo. Serão temas da nova temporada plantas como o Visgueiro, o "Rei das Matas Pernambucanas", e a Camélia, que se tornou símbolo da luta abolicionista. Um dos episódios inéditos comemorará os 70 anos do Parque Nacional de Itatiai, o primeiro criado no Brasil.

UM PÉ DE QUÊ? Onde: Canal Futura
Quando: quartas, a partir de 1º de agosto Horários: às 22h Reprises: quinta-feiras às 2h, sábados às 16:30h, domingos às 19h e segundas às 16h

04 agosto 2007

Strengthening Local Economies & Sustainable Communities
By WWI

Strong local economies are the foundation of strong communities that can grow and withstand the pressures of an increasingly urbanized world, according to State of the World 2007. And strong communities require a holistic approach that not only provides the traditional deliverables of economic development—jobs, income, wealth, and security—but also protects the environment, improves community infrastructure, increases and develops local skills and capacity, strengthens the social fabric, and respects heritage and cultural identity.

In many cities, towns, and villages, communities are drawing on the existing social capital to establish projects that improve their shared well-being. The rich array of local, community-based sustainable development efforts around the world is having a significant impact on energy use, ecological restoration, green building design, and improved social capital and civic participation. In State of the World 2008, Worldwatch Research Associate Erik Assadourian will assess the impacts these communities are having on building a sustainable world.

Poll: Eco-Community Living
What do you think is the most compelling motivation to live in an ecovillage or other type of sustainable community?

Reducing one's ecological footprint by living in a community that utilizes renewable energy sources, efficient building techniques, community gardens, or natural waste management.
Restoring a sense of community with fellow residents through shared activities and meals.
The reduced stress of returning to a simpler lifestyle.

The reduced cost of shared resources such as major appliances and cars.
None. I don't find the idea of living in an ecovillage compelling at all.
Other (leave a comment!)
Cast your vote on the Worldwatch Website.

Don't forget to read the diverse comments from members on our previous poll on population.

Ciência é essencial para combate à pobreza

Jornal O Globo, 24/7/2007

Um relatório da agência das Nações Unidas para o comércio e o desenvolvimento (Unctad), divulgado este mês, disse que não existe outro meio para ajudar os países mais pobres do que o investimento em ciência, tecnologia e inovação. Segundo a Unctad, as nações menos desenvolvidas estão aprisionadas numa espécie de armadilha tecnológica. O relatório destacou que existe pouco estímulo internacional ao desenvolvimento da ciência nos países pobres. E citou como exemplo o fato de apenas 4% do total dos empréstimos concedidos pelo Banco Mundial nos últimos 25 anos terem ido para a projetos de ciência e tecnologia.

O relatório recomenda que esse percentual seja, pelo menos, dobrado. A Unctad destaca ainda que as empresas dos países ricos não transferem tecnologia quando se instalam em nações mais pobres. Na África, empresas de mineração e petróleo são o exemplo mais gritante. A principal autora do estudo, Zelijka Kozul-Wright, disse que duas coisas são necessárias: (1) estimular a criação de uma base para o desenvolvimento científico, isto é, melhorar a educação; (2) aumentar o volume de investimentos na área de C&T. O relatório do Unctad diz que avanços na área têm sido registrados só na Ásia. Países como Camboja, Laos e Bangladesh aumentaram significativamente seus investimentos na criação de uma base científica.

02 agosto 2007

Qual é a sua idéia mais perigosa?

Por Ricardo Jordão Magalhães da BizRevolution
Quando você troca um produto por outro produto você termina com um produto. Quando você troca uma idéia por outra idéia você termina com duas idéias.

Querida(o) Amiga(o),

Inovação está na moda. "Se você não inovar e fizer diferente, você morre!" Que piada! Ninguém quebra por falta de inovação, as empresas quebram justamente porque inovam, arriscam, investem, ampliam suas instalações, compram outras empresas, fazem suas apostas no diferente, triplicam a linha de produtos, trocam os sistemas, colocam minhocas nas cabeças dos funcionários, enfim, inovam. A auto-escola onde eu tirei a minha primeira carteira de motorista vinte anos atrás ainda está lá, do mesmo tamanho com as mesmas pessoas fazendo as mesmas coisas do mesmo jeito. A única diferença está nos dois computadores que agora ocupam as duas mesas da recepção, fora isso, tudo igual. A empresa quebrou por não ter inovado? Não! Nem ela nem outras. Eu posso te apresentar dezenas de empresas que estão vivas da silva justamente porque não inovam, não fazem diferente, não mudam nada. Inovação QUEBRA, mesmice MANTÊM AS COISAS COMO ESTÃO.

Devemos então manter as coisas como estão? ARGH!!!! É contra nossa natureza fazer isso. É anti-humano. Nós, seres humanos, nascemos com um irresistível senso de missão que não nos deixa outra escolha a não ser, talvez, colocar em pratica idéias perigosas, mesmo sabendo que, talvez, ninguém nos escute.

Eu quero compartilhar com você as minhas idéias mais perigosas. Idéias que encontram resistências nas mentes medíocres. Idéias maiores que o mundo dos negócios, justamente porque o mundo dos negócios precisa crescer.

A minha primeira idéia mais perigosa é justamente expor as minhas idéias mais perigosas e convidá-lo a fazer o mesmo, no web site da BIZ ou na próxima reunião na sua empresa. Eu quero saber o quê de mais revolucionário passa pela sua cabeça. Como você mudaria o mundo se pudesse. O que você está perdendo? Como seriam as coisas "Se você?", Como você gostaria de investir o tempo da sua vida de segunda a sexta-feira das 8:00 as 18:00hs? O que o seu chefe faz de mais estúpido? Suponha que o seu adversário esteja certo, e aí? Suponha que você possa substituir todo o governo brasileiro, quem você colocaria no lugar?

Eu tenho uma receita para tirar o Brasil da Idade Média e colocá-lo na Idade Moderna. Eu tenho uma receita para a renascença brasileira: jantar em restaurante de bairro, andar de metrô, plantar uma árvore na frente de casa, fazer compras no centro da cidade, computador de 100 reais com internet wireless de 10 reais para todos, viver em uma cidade onde você e seus filhos possam andar na rua a qualquer hora do dia e da noite.

As minhas idéias mais perigosas que compõem a receita do renascimento são:

1a Idéia Mais Perigosa: Soltar todos os presos de todas as prisões brasileiras, planejar a sua reintegração a sociedade, transformá-los em cidadãos de bem que já são. Soltar todos os presos das cadeias com exceção dos assassinos, estrupradores e culpados de maltratos a crianças. Nós precisamos de brasileiros para trabalhar! Existem estradas, escolas, aeroportos, cidades inteiras para construir. Nós precisamos da energia e participação de todos os brasileiros para construir o Brasil solidário que sonhamos para os nossos filhos. Solta todo mundo! O que estamos fazendo é um genocídio dos pobres e miseráveis que tiveram poucas ou nenhuma chance na vida. A sociedade economiza mais com os presos soltos do que encarcerados. Cada preso custa a sociedade mais de R$ 1.500 reais por mês. Além disso, eu sinceramente não vejo diferença alguma entre o fernandinho beira mar e um executivo da Ambev. Bebida álccolica mata mais do que drogas. O álcool é responsável por 60% dos acidentes de trânsito e 70% das mortes violentas. 11,2% dos brasileiros tem problemas com alcoolismo e a televisão continua a estimular o consumo como se cerveja fosse água. Quem acredita que a Juliana Paes, com aquele corpinho maravilhoso, bebe cerveja?

2a Idéia Mais Perigosa: Música, empreendedorismo, artes, ética, teatro, literatura, filosofia, fotografia, educação física e educação sexual serão matérias escolares que terão o mesmo peso que matemática, física, química e biologia nas escolas primárias e vestibulares para faculdade. Nós precisamos de brasileiros extremamente criativos, corajosos e empreendedores no presente e futuro. Nós precisamos de brasileiros verdadeiramente humanos e éticos. Nós precisamos de brasileiros sem nenhum preconceitos sobre nada. Somente os esportes e artes conseguem ensinar as crianças a admirar um escritor judeu e um escritor mulçumano. Somente as artes conseguem ensinar tolerância. Chega de gente quadrada com visão matemática míope das coisas. As nossas crianças precisam adorar as escolas que frequentam. As nossas crianças não são gado nem rebanho para aprender a decorar, fazer conta. Que tipo de brasileiro queremos formar para o século 21?

3a Idéia Mais Perigosa: Desmantelar todos os muros que cercam todas as casas de todas as cidades do Brasil, e transformar os seus tijolos em casas próprias. A verba do governo para construir casas e tirar o brasileiro da favela é de R$ 14 bilhões de reais. Ainda assim, vai faltar muito dinheiro para construir 7,9 milhões de residências para os brasileiros que vivem abaixo de uma condição razovável para a vida humana prosperar. Com os tijolos de todos os muros, eu tenho certeza que vamos conseguir construir milhões de residências dignas para morar.

4a Idéia Mais Perigosa. Criação de um fundo de ajuda financeira e moral para aqueles que estão desempregados na rua em que você mora. Todas as ruas - que quiserem - de todas as cidades brasileiras terão um fundo desses, onde as famílias que moram na rua contribuem em tempos de vacas gordas, e funciona como auxílio quando uma das famílias precisar. Mas não basta dar dinheiro, os moradores devem contribuir intelectualmente nas reuniões e eventos coordenados pelos próprios moradores da comunidade. Quando alguém estiver em dificuldades, deve ser ajudado por todos. Uma das maiores doenças do mundo moderno chama-se solidão. Solidão mata. Isolamento mata. Todos devem sentir que serão amparados, acalentados e encorajados a se erguerem quando cairem. Todos caem, sem exceção.

5a Idéia Mais Perigosa: O fim de todos os impostos federais. O cidadão deve pagar impostos apenas para a região onde mora. Por que pagar impostos federais se no final das contas serão repassados para o governo estadual e municipal? Por que mandar o dinheiro para longe se no final temos que arrumar a casa? A prática do repasse de impostos federais para o governo estadual que repassa para os municípios é uma tremenda oportunidade para os malandros roubarem. É impunidade certa. Corrupção na cabeça! Se eu tenho que pagar impostos que seja para a subprefeitura que comanda a periferia onde eu moro. É mais facil controlar, mais fácil administrar, mais fácil saber para onde foi o dinheiro dos meus impostos. Não precisamos de tanta gente em Brasilia para dizer onde o dinheiro deve ser investido. Quem está no front da guerra sabe onde o dinheiro tem que ser investido.

6a Idéia Mais Perigosa: Convocação imediata de todos os brasileiros que desejarem ter uma segunda carreira na vida. Vamos recapacitar imediatamente um mínimo de 30 milhões de brasileiros que nesse momento estão completamente desqualificados para trabalhar no século 21, o século da criatividade e do cérebro. Aprendizado imediato sobre as áreas que terão campo de trabalho para os próximos 20 anos. Os profissionais requalificados poderão trabalhar em diferentes mutirões de construção de um Brasil melhor para todos.

7a Idéia Mais Perigosa: Consumir sempre que possível produtos e serviços da sua própria cidade. Comprar frutas, legumes e vegetais da fazenda mais próxima de você. O transporte de produtos e serviços é um dos grandes causadores do aquecimento global. Por que consumir uma água envasada a 400 quilômetros de distância da sua cidade se você poderia consumir água da sua própria torneira? Escolha sempre que possível comprar da vendinha do Zé ao invés de comprar produtos de uma rede multinacional. Teoricamente os pequenos não tem praticamente nenhuma desvantagem com relação aos grandes. Se o problema for preço, compare os preços dos produtos do Supermercado do Zé com os preços dos supermercados da rede do Pão de Açucar ou mesmo Wal-Mart. Eu tenho certeza que você vai perceber que os preços do Zé são mais econômicos. Os pequenos tem mais serviços a oferecer, mais velocidade, mais personalização e customização no atendimento. Dê preferência ao restaurante do bairro, ao supermercado do bairro, a banca de jornal do bairro, a rede de serviços do bairro. Todo mundo sai ganhando.

8a Idéia Mais Perigosa: Torne-se um e-empresário comece um e-business. Pare de vender bugigangas às escondidas nos banheiros do escritório da empresa em que você trabalha (qualquer dia desses é JUSTA CAUSA!). Você não precisa de grandes escritórios, gestão de estoques, sistemas caríssimos de tecnologia e MBAs para ter um e-business. Existem centenas de oportunidades na internet para aqueles que tem disposição para tocar um negócio e colocar o melhor de si para funcionar: o cérebro. E-business não é grátis, mas os investimentos envolvidos são muito menores do que o negócio convencional. Deixe-me apresentar a você algumas idéias de e-business que você pode começar AGORA: loja de varejo de qualquer coisa, você não precisa de estoques, você precisa criar um bom relacionamento com distribuidores que tenham um ótimo sistema de logística para trabalhar para você; agência de web design, você não precisa de dezenas de computadores Apple e um endereço engomadinho na Vila Olímpia, você precisa criar um bom relacionamento com uma ampla rede de web designers que trabalham em suas próprias casas espalhados por todo o Brasil; consultoria de qualquer coisa, você não precisa investir milhões no desenvolvimento de profissionais caríssimos, você precisa caçar os profissionais experientes que estão espalhados na rede e montar a sua estrutura virtual; web site especialista em resolver um determinado problema, você não precisa dizer que faz tudo para todos, você precisa se aprofundar em uma única solução que resolve um único problema para um determinado tipo de público; educação, você não precisa de salas de aula com cadeiras de 200 reais, equipadas com projetores de última geração, você precisa apenas de salas virtuais na web e 200 reais para começar a sua maneira única de resolver algum problema.

"Quando eu examino a mim mesmo e a minha maneira de pensar, eu chego a conclusão que o dom da fantasia significou mais para mim do que o meu talento para absorver conhecimento." Disse Albert Einstein, um dos maiores gênios da física em todos os tempos, criador da Teoria da Relatividade, ganhador do Prêmio Nobel de Física, dono de um QI estimado em 240, matemático, engenheiro, racional, "Novas e revolucionárias idéias sempre encontrarão resistência por parte de mentes medíocres", fecha Einstein em 1953.

Se o ser mais racional de todos os tempos, acredita em idéias irracionais e fantasiosas, o que você está esperando para começar a acreditar?

QUEBRA TUDO! Foi para isso que eu vim! E Você?

Ricardo Jordão Magalhães, ricardom@bizrevolution.com.br

O papel das empresas, decisivo para o bem e para o mal

José Eli da Veiga, para o Valor Econômico

Sobre o livro "Os Desafios da Sustentabilidade" - De Fernando Almeida, Ed. Campus/Elsevier, 304 págs.


É no papel dos empreendimentos empresariais que se concentra este novo livro de Fernando Almeida, embora seu público-alvo esteja longe de se restringir ao mundo corporativo. Foca o segmento empresarial porque acredita que é nas empresas que está a essência do poder no mundo contemporâneo e, portanto, a maior responsabilidade pelos rumos que poderão se impor.

Será um erro, porém, se as livrarias colocarem este livro nas prateleiras reservadas a auto-ajuda empresarial. Principalmente porque o autor conseguiu a proeza de evitar todas as limitações desse tipo de escrita ao se propor discutir a crucial contribuição do setor privado para a crescente insustentabilidade dos processos de crescimento econômico e de desenvolvimento.

Não é livro de "abobrinhas", como muitos daqueles que abusam das boas receitas normativas para vender a idéia de que uma empresa pode se tornar sustentável caso seus dirigentes aceitem os conselhos do autor. Na verdade, ótimas dicas desse tipo até podem ser encontradas na segunda parte, e principalmente no sexto capítulo, no qual se faz um primoroso balanço dos oito mais importantes instrumentos já criados para que a noção de sustentabilidade possa ser inserida no cotidiano das empresas: ISO 14000, Índice Dow Jones de Sustentabilidade (IDJS), diretrizes da OCDE, "Global Compact", "Global Reporting Initiative (GRI)", norma AA1000 com comitês de garantia independentes, norma AS 8000 da "Social Accountability International (SAI)", e até a lei americana Sarbannes-Oxley. Todavia, a abordagem é muito mais ampla e profunda.

Antes de tomar contato com tais instrumentos, e de poder relacioná-los com a transparência, com o engajamento dos "stakeholders", com inovações tecnológicas e sociais, ou com as finanças, na primeira parte o leitor já foi confrontado com a urgência da questão. Foi-lhe apresentado o largo inventário do conhecimento disponível sobre a degradação ambiental que resultou da Avaliação Ecossistêmica do Milênio, a mais nobre iniciativa do anterior secretário-geral da ONU, Kofi Annan, e de cuja execução Fernando Almeida teve o privilégio de participar como membro do conselho diretor. Nesses primeiros quatro capítulos se encontra um panorama, que não poderia ser mais completo, do comportamento dos sistemas naturais e também da influência que a Avaliação Ecossistêmica acabou tendo sobre a formulação dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio.

Depois, na terceira parte, surge a principal contribuição do livro para o debate sobre a própria exeqüibilidade do desenvolvimento sustentável. Aí o autor pergunta por que tal noção ainda se mantém enclausurada numa elite intelectual. E rejeita liminarmente a hipótese de que o grande arco de interesses contrariados seja razão suficiente para explicar tal isolamento. Em vez disso, acha que estão nas dificuldades conceituais do desenvolvimento sustentável, em seu ineditismo, e em sua transversalidade, os obstáculos à geração de indispensável massa crítica de líderes - uma tese que merece ser levada muito a sério, principalmente quando exposta por um engenheiro cujos 32 anos de dedicação integral ao tema do meio ambiente o legitimam na presidência-executiva do CEBDS - Conselho Empresarial para o Desenvolvimento Sustentável. Uma organização que está, desde 1997, na vanguarda da luta pela conservação da base material de qualquer possibilidade de aumento das liberdades humanas.

Outra grande qualidade do novo livro desse professor da UFRJ (Politécnica e Coppe), que também esteve presidente da Feema-RJ (Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente), está na maneira de relatar dezenas de casos, dos quais os mais saborosos nem sempre são róseos. Ao abordar o tema das finanças, por exemplo, conta que o Banco Mundial concedeu grande empréstimo a destacada firma do agronegócio brasileiro, mas só no meio da execução do projeto é que percebeu que ela simplesmente destruíra uma área de preservação permanente. A liberação das demais parcelas passou a ser então condicionada à efetiva reparação do crime. No entanto, em vez de atender à exigência do Bird, a empresa propôs uma parceria de operação financeira ao Banco Real, sem revelar a destruição da reserva florestal. Conseguiu, assim, vender debêntures ao banco, mediante apresentação de excelente dossiê financeiro. O dinheiro liberado pelo Banco Real seria usado para saldar a dívida com o Banco Mundial e para expandir a plantação na área devastada se - por sorte, diz Almeida - o Real não tivesse sido alertado a tempo sobre a manobra pela ONG Amigos da Terra. A situação foi revertida com oferta de ajuda ao infrator, para que viabilizasse seu negócio com o reflorestamento da área. Só falta mesmo é dar nome a todos os bois.

Esse e outros casos mostram que serão necessários muitíssimos mais "amigos da terra" - além de muitíssima mais sorte - para que saiam do papel os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio. Afinal, as três metas essenciais do penúltimo desses objetivos, que visa "garantir a sustentabilidade ambiental", pretendem conseguir: a inversão da tendência atual de perda de recursos naturais, a redução pela metade da proporção da população sem acesso permanente à água (até 2015) e considerável melhora da vida de pelo menos 100 milhões de habitantes de áreas degradadas (até 2020). Como enfatiza o próprio título do livro, são desafios que exigem urgente ruptura.

Em suma, trata-se de leitura recomendável não apenas aos que já trabalham, seja no privado, no público, ou no terceiro setor, mas particularmente aos estudantes de todos os quadrantes. Quem tomar contato com esse livro terá formidável oportunidade de entender, em termos bem concretos, o que está impedindo que sejam sustentáveis os processos de desenvolvimento.

José Eli da Veiga é professor titular do departamento de economia da FEA/USP e coordenador de seu Núcleo de Economia Socioambiental. ( www.zeeli.pro.br )

Corrida das cidades digitais agita o mercado de redes

Valor Econômico,
André Borges e Talita Moreira
02/08/2007

A praça central de Santa Cecília do Pavão não difere muito daquelas encontradas em qualquer cidadezinha do país. Lá está a igreja - nesse caso, de Santa Cecília, rebatizada pelas águas do rio Pavão, que banha o município. Lá estão as pombas empoleiradas nos bancos, as mesas de jogo de dama, alguns aposentados, o coreto abandonado. Mas, nos próximos dias, essa paisagem vai mudar.


Uma torre de vidro está pronta para ser instalada no meio da praça. Dentro dela, uma rede de computadores estará à disposição para que a população ceciliense possa, finalmente, navegar na tal internet. "Será nosso coreto digital", diz o prefeito Edimar Santos (PTB-PR).


O prefeito de Santa Cecília tem internet em casa. Não tinha quando chegou à cidade para trabalhar como agente funerário, nos anos 90. Mas Santos progrediu rápido, ganhou popularidade, montou o grupo Santos, sua empresa do ramo funerário, e foi escolhido para governar a cidade.


Diferentemente do prefeito, o município não cresceu tanto. Por muito tempo, internet continuou a ser tema incomum no cotidiano dos 5 mil habitantes de Santa Cecília do Pavão, município 362 quilômetros ao norte de Curitiba. De base agrícola e com renda per capita de R$ 162, a cidade fica escondida entre montanhas, longe de grandes centros, numa área em que os cabos de telefonia não oferecem banda larga. Não há provedor local de internet. "Se alguém quisesse acessar a rede, tinha de fazer um interurbano", diz Santos.


Mas há dois meses a prefeitura fechou um projeto para cobrir a cidade com uma rede sem fio. Participaram da iniciativa a Universidade Tecnológica Federal do Paraná, o Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro) e a D-Link, fabricante de equipamentos de rede. Rádios de comunicação WiFi foram instalados no município, interligando a prefeitura a demais órgãos públicos, como biblioteca, posto de saúde e escolas. Uma antena de alta capacidade foi montada sob uma montanha e direcionada para outra, a 60 quilômetros dali, em Londrina. A prefeitura abriu o sinal para a população.


Santa Cecília descobriu a internet. "Cerca de 250 casas já têm computador", comemora Santos. Agora, o projeto será estendido com a criação desse telecentro na praça central, para conectar os cidadãos que não têm condições de adquirir um PC. Além de incentivar a inclusão digital, a prefeitura reduziu custos. A conta telefônica municipal chegava a R$ 27 mil por mês. Com o uso da web para trafegar voz (tecnologia chamada de voz sobre protocolo de internet), a despesa caiu para algo em torno de R$ 2 mil. "Mantemos a rede WiFi funcionando com R$ 680 por mês", afirma Santos.


Histórias assim têm se espalhado com rapidez pelo Brasil. Nos últimos anos, cidades pequenas, que estão fora das áreas "iluminadas" por cabos de fibra óptica passaram a ver nas tecnologias de comunicação sem fio uma forma de reduzir a exclusão digital e, principalmente, eliminar gastos. Esse processo intensificou-se em 2007.


Embora a maioria dos projetos ainda se encontre em fase experimental, a movimentação já é suficiente para mexer com os negócios dos fornecedores de equipamentos. A Nortel, que começou a olhar para esse mercado no ano passado, tem capacitado parceiros para testes em municípios de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, diz o gerente sênior da área de desenvolvimento de negócios de WiMax, Cláudio Falcone. "É um mercado grande, e hoje ainda há centenas de municípios que sequer têm acesso à internet discada."


Não há números oficiais sobre quantos municípios têm executado projetos similares ao de Santa Cecília do Pavão. Segundo o Ministério das Comunicações, 3,3 mil cidades do país já têm em funcionamento pelo menos um telecentro, local público de acesso gratuito à internet. No próximo mês, o governo deve lançar uma licitação para contratar novos links de satélite para expandir sua rede. O contrato deverá atingir R$ 200 milhões por ano. As iniciativas federais, no entanto, muitas vezes correm descoladas de projetos tocados por municípios. Nesta esfera, empresas do setor procuram patrocinar casos que demonstrem a viabilidade de suas tecnologias, na prática.


Em Santa Cecília, a D-Link forneceu os rádios de comunicação. Já em Ouro Preto (MG), o projeto teve apoio da Intel. A Motorola, que participou da iniciativa de Macaé (RJ), também tem ofertado equipamentos para degustação. "Há um senso de urgência muito alto no mercado", diz Eduardo Stefano, vice-presidente de redes corporativas da companhia. Cidades como Sud Mennucci (SP), Piraí (RJ), Parintins (AM) e Tiradentes (MG) são outros exemplos.


"São projetos pequenos, apenas uma forma de demonstração da nossa capacidade", comenta o diretor comercial da Alcatel-Lucent, José Vasques, ao se referir à rede que a companhia inaugurou recentemente em Visconde de Mauá (RJ). "Agora estamos partindo para outros casos de maior porte."


Não são apenas os fabricantes de equipamentos que estão de olho no mercado de comunicação sem fio. As operadoras de telefonia fixa, embora resistentes a falar sobre o assunto, não estão paradas. "As teles começaram a ver esses projetos acontecerem embaixo do nariz delas e agora decidiram agir", diz o gerente comercial da divisão de governo da D-Link, Fred Maynart. "Hoje só a Telefônica tem mais de 20 gerentes nas ruas só para bater na porta das prefeituras."


A Telefônica foi procurada para comentar o assunto, mas não deu resposta. A Brasil Telecom não quis falar sobre o tema. A Oi, por meio de nota, afirmou que "a expansão da oferta de banda larga traz benefícios inquestionáveis", mas a implantação de projetos como o das cidades digitais "demanda investimentos que vão além da aquisição de equipamentos" para redes municipais. Uma saída para a sustentação das iniciativas, segundo a operadora, seriam as parcerias público-privadas.


As discussões sobre a viabilidade dos projetos também passam pelo aspecto da tecnologia. Há experiências em que as redes WiFi, originalmente usadas em ambientes internos, como aeroportos, têm se mostrado mais viáveis em projetos nos quais a área de cobertura não é tão extensa. Em outras situações, a escolha pende para o chamado WiMax, padrão de maior alcance que o WiFi, porém mais caro. Uma terceira via ainda pode ser o WiMesh, tecnologia usada na cidade mineira de Tiradentes que faz uso de várias antenas instaladas em diferentes pontos para ampliar sua capacidade de transmissão.


Para o prefeito de Santa Cecília do Pavão, Edimar Santos, os meandros tecnológicos são irrelevantes. "O importante é que, agora, se alguém sentar na praça da cidade com um notebook no colo poderá navegar pelo mundo."

01 agosto 2007

É preciso politizar o consumo

As palavras mais recentes de Ladislau Dowbor, presente ao ciclo de palestras do curso de Jornalismo de Políticas Públicas Sociais, uma realização do NETCCON.ECO.UFRJ e da ANDI.

É preciso politizar o consumo, diz o especialista Ladislau Dowbor

Por Julia Dietrich, do Aprendiz

"No século passado quem dominava os meios de produção, controlava a sociedade. Hoje, domina quem possui o conhecimento e o controle da informação". A afirmação partiu do professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Ladislau Dowbor, em mesa comemorativa aos 20 anos do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), que aconteceu em São Paulo.

Para ele, a questão de consumo está diretamente associada ao poder midiático das empresas. "Não se produz mais em função de necessidades e sim em função dos interesses do próprio produtor", disse.

"Colonizar nossa cabeça está de graça. Por 30 segundos na televisão, a Nike paga U$ 50 mil. É muito barato. Para piorar a situação, segundo uma pesquisadora norte-americana, uma criança passa a ser consumidora potencial a partir dos três meses de idade. Quem controla tudo isso?", completou.

A pesquisadora da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), Fátima Portilho, que também participou do encontro, explicou que a partir da década de 1990 implementou-se a idéia catastrófica do consumo. "Consumir passou a ser considerado socialmente injusto, moralmente indesejável e ambientalmente insustentável".

Segundo a palestrante, tal construção foi produzida por Estados e empresas para transferir para o consumidor toda a responsabilidade sobre os impactos do consumo. "Antes tidos como alienados, os consumidores passaram a ser vistos como atores sociais culpados, responsáveis pelo impacto do consumo em grupos sociais e ecossistemas", lembrou.

Mesmo sendo colocados como os culpados pelas conseqüências negativas do consumo desenfreado, os consumidores não passaram a comprar menos. Para Portilho as pessoas são reféns dos bens de consumo, pois sem eles não é possível construir uma identidade. "Formou-se uma dicotomia". Os indivíduos passaram a precisar consumir menos para poupar o globo, ao mesmo tempo que precisavam consumir para pertencer a algum grupo.

Para resolver o dilema, Dowbor é entusiasta de licenças como a creative commons (licenças padronizadas para gestão aberta, livre e compartilhada de conteúdos e informação). "É necessário pensar em alternativas como o consumo coletivo, mediado por outras estruturas. Entre elas, o Estado e instituições como o Idec", explicou.

Possivelmente o consumo verde ou sustentável seria outra saída, mas antes é preciso romper com fortes interesses comerciais. "É muito mais barato pagar US$2 por barril de petróleo da Arábia Saudita e vendê-lo por US$70 do que investir em outras tecnologias. Enquanto isso, o planeta acaba", apontou Dowbor.

Como maior motivador para uma mudança, Dowbor lembrou que quatro bilhões de pessoas não participam dos benefícios da globalização e que a tragédia mundial da concentração de renda e concentração de riqueza familiar só tendem a se agravar. "Não há viabilidade desse padrão de consumo em escala planetária", apontou.

"Não devemos mais pensar só na Agenda 21, devemos pensar em uma agenda de cozinha. Ou seja, politizar a esfera privada da mesa da cozinha de cada cidadão", disse Portilho. "Consumir é participar de cenários de disputas por aquilo que a sociedade produz nos moldes que a sociedade produz. Consumir não é uma atividade neutra. Ao formular e reivindicar uma insatisfação privada, ela se torna pública".

Para ela, os movimentos consumidores podem ser revolucionários a partir de uma nova energia utópica e não só como agentes de resistência. "Devemos pensar nas ações de boicote, redes de consumidores, consumo solidário, ético e responsável e realmente nos questionarmos sobre o potencial transformador do próprio consumo", argumentou. "Consumo e cidadania podem ser vistos de forma conjunta e inseparável, pois ambos dão sentido de pertencimento e coletividade. Uma vez consumidores, sejamos consumidores da oposição", concluiu.

(Envolverde/Aprendiz)