Nova TV pode salvar o meio ambiente
Por: Antonio Brasil (*)
A principal notícia da semana foi a divulgação dos resultados do Painel Inter-governamental para a Mudança Climática (IPCC) em Paris. Agora não há mais dúvida. A situação é grave. O nosso velho planeta está mal de saúde e precisa de ajuda. Mas não é hora de desespero, a humanidade convive há muitos anos com a ameaça de um apocalipse inevitável.
A Antropologia nos ensina que praticamente todas as sociedades, das mais simples às mais complexas, predizem o fim do mundo em seus mitos. As descrições variam de dilúvios, pandemias, meteoros, ou até mesmo mera “ira divina”. O fim do mundo sempre esteve próximo e não faltam trombeteiros para nos fornecer os detalhes do desastre final. Algumas grandes religiões chegam a lucrar muito com o fim do mundo.
Durante os anos da guerra fria, toda uma geração também conviveu com a ameaça do inevitável fim do mundo. A mídia nos convenceu de que as super-potências destruiriam o planeta em uma hecatombe nuclear igualmente próxima e inevitável. Não havia nada a fazer. O fim do mundo era mera questão de tempo. Mas a humanidade, o planeta e até mesmo a mídia - ou pelo menos parte dela – sobreviveram ao inevitável.
Pesquisa de telejornais
Agora estamos diante de um novo apocalipse. A crise ambiental é urgente e exige uma reação. Mas não é hora de desespero. Muito pelo contrário. É hora de mobilização e participação. É hora de salvarmos o planeta com uma nova televisão. O modelo tradicional de mídia, centralizador, professoral e de mão-única, pode ter sido útil para sensibilizar os governos e salvar a humanidade da guerra nuclear, mas esse modelo pode não tão útil para resolver um problema ainda maior e mais complexo. Agora, para salvar o planeta, precisamos de um novo modelo de mídia para um novo modelo de problema.
E, pelo jeito, o público e ainda mais os telespectadores já perceberam as limitações dos meios tradicionais para lidar com a questão ambiental.
Dados preliminares da primeira pesquisa realizada pelo Instituto de Estudos de Televisão (IETV) e o Laboratório de TV da Faculdade de Comunicação da UERJ revelam que 58% dos brasileiros não se consideram bem informados pela televisão sobre as questões ambientais. A maioria dos entrevistados acha que a cobertura deveria ser mais educativa e denunciar os crimes ambientais.
Até aí, tudo bem. Nenhuma novidade. Grande parte das pessoas provavelmente por indução, inércia ou indiferença gosta e acredita em quase tudo que assistem nos telejornais.
A grande surpresa, no entanto, foi a segunda questão da pesquisa. Solicitados a citarem pelo menos uma matéria sobre meio ambiente, 73% dos entrevistados disseram que não se lembram de nenhuma matéria. Somente 27% citaram, pelo menos, uma matéria apresentada nos telejornais nos últimos dias.
Telespectador indiferente
Esse dado é fundamental para quem trabalha e pesquisa televisão. O telespectador de telejornais assiste, diz que gosta, mas não é capaz de reter informação ou alterar comportamentos.
Televisão entorpece e o telejornal informa, diverte, mas não mobiliza. Em alguns casos excepcionais, principalmente durante a temporada de campanhas eleitorais, o comportamento do telespectador sofre uma pequena alteração. A obrigatoriedade do voto, certamente, influi nessa mudança de atitude, na necessidade de responder aos estímulos ou na manipulação do público. O “espectador” das mídias tradicionais - e o termo “espectador” é bem representativo - tende a voltar ao seu estado natural de inércia, de mero coadjuvante ou testemunha impotente e indiferente aos fatos.
Essa impotência ou indiferença é compensada pela mobilização dos governos, dos donos de empresas de comunicação e de seus funcionários, os jornalistas que decidem tudo e fazem muito pouco.
E em caso de desastres, a mobilização do publico costuma se resumir ao pedido de solidariedade humana, orações e, as inevitáveis e altamente lucrativas, contribuições financeiras. Para explicar a própria incompetência ou o inexplicável, alguns políticos e outros tantos jornalistas costumam apelar para o sobrenatural, ou seja, para aquilo que está acima da natureza e que não é óbvio, natural. Eles culpam os deuses, a sorte ou as incontroláveis forças da própria natureza pelos desastres. Jamais o descaso, a falta de planejamento ou a falta de treinamento para os desastres. Jornalismo é sempre pego de surpresa nos desastres e faz questão de dizer que não havia como se preparar para mais um desastre.
Salvar a TV
E o público das mídias tradicionais tende a aceitar toda e qualquer explicação. Assiste aos telejornais e paga muitos impostos para não ter que participar das soluções.
TV, jornalismo tradicional e religião têm muito em comum. O mesmo modelo centralizador, professoral e, pelo menos até agora, altamente lucrativo.
Mas diante de um novo quadro de “fim de mundo inevitável”, a nova mídia e principalmente uma nova televisão têm uma grande oportunidade de consolidar um modelo mais participativo e responsável de fazer jornalismo na TV.
O anúncio do apocalipse ambiental exige um jornalismo mais competente, menos arrogante e mais participativo. Um jornalismo que não perca tanto tempo com discussões teóricas infindáveis sobre os seus próprios objetivos e que se volte para objetivos concretos. Menos teoria e mais jornalismo.
A ameaça global ao meio ambiente exige uma nova televisão e um jornalismo de TV que ouça mais público, que e não se limite a produzir matérias jornalísticas com recursos dúbios e desgastados como o famigerado “povo fala”. Uma televisão que não se contente somente com índices de audiência, mas que também pesquise e reconheça seus objetivos e suas responsabilidades sociais.
Dentro dessa perspectiva, a nova TV pode não só colaborar para salvar o planeta, como pode reverter o seu próprio fim.
06 fevereiro 2007
às 21:51
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